quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mamãe zangada não é vítima, nem algoz

Relutei muito antes de citar o livro Mamãe zangada, da alemã Jutta Bauer, editado pela Cosac Naify. Nada com a qualidade do livro, já que o texto e as ilustrações de Jutta são lindos e a edição, como todas da Cosac, muito bem cuidada. A razão de minha relutância se deveu a dois fatores: o livro ser muito badalado e, assim, eu ter pouco a acrescentar; e minhas dúvidas sobre para quem de verdade a autora fala, para mãe ou para o filho. Mamãe Zangada será, como disse a Renata, uma colega de trabalho que não tem filhos, um livro para as mães se envergonharem? Ou será um livro para pensarmos, mães e filhos, nos limites de nossa tolerância? Os acessos de ira, se respeitados os limites da civilidade, são normais nas relações entre mães e filhos. Quem nunca enlouqueceu sua mãe que joge a primeira pedra e a mãe que nunca gritou com o filho que me desminta. Acredito mesmo que a autora não queria fazer de Mamãe Zangada um manifesto politicamente correto contra a violência nas relações entre mães e filhos. Pelo contrário, em entrevista à Revista Babar, Jutta diz que "para se resolver conflitos há que se passar primeiro pela tristeza e pela dor". Desta forma, acredito que nesta história não haja vítimas, nem algozes. Afinal, a mamãe pinguim também sofre com a bronca que dá em seu filho. Como todas nós, mães, culpadas ou não.

3 comentários:

Mi disse...

já vi pela net, mas ainda não conheço... você me deixou curiosa. Depois conto o que achei.
bjs,
Mi

mcris disse...

Oi, Luciana!

Hoje à tarde, movida pela curiosidade (o Prêmio Hans Christian Andersen saiu há pouco), li esse livro da Jutta Bauer numa livraria aqui da minha cidade.

Achei muito interessante e fiquei me perguntando como é que seria compartilhar essa história com uma criança, com um filho... Você não conta sobre essa experiência. Pela sua leitura, imagino que não tenha sido fácil -- ou talvez não tenha sido possível...

Daí a minha vontade de compartilhar contigo a minha leitura: talvez a história não se refira tanto àquilo que a mãe fez (ou faz) quanto à experiência da criança (que ainda está construindo sua integridade psicológica, seu senso de "eu") diante da mãe (que significa a totalidade do mundo e por isso tem um poder infinito).

Aliás, esse poder mostra sua verdadeira face mais para o final da história: a mãe é aquela que é capaz de "costurar" o que estava aos pedaços, disperso pelo mundo. Ela o faz principalmente com sua voz e com sua simples presença. Talvez seja esse o nosso papel nos primeiros anos dos nossos filhos: ajudá-los a construir um senso de unidade e de continuidade, mesmo quando a realidade (o mundo, os outros, a vida) grita conosco.

Para isso, não precisamos ser sempre amorosas e perfeitas. Quando "falhamos", estamos dando às crianças a oportunidade de experimentar a "ruindade" do mundo ainda num ambiente protegido e, no final, acolhedor. Com isso eles vão aos poucos se fortalecendo e se preparando para uma vida autônoma.

Obrigada pela oportunidade de pensar no assunto e trocar ideias...

Um abraço.

Cris Bispo disse...

Adorei seu post e assino embaixo. Tanto que linkei pra cá do meu blog.

http://eramos2.blogspot.com/2012/03/mamae-zangada.html