segunda-feira, 27 de julho de 2009

Bicho-papão para tirar medo

Outro dia, vi pela primeira vez uma manifestação clara de medo por parte do Antônio. Ele que sempre dormiu super bem, com sono pesado, sem pesadelos, estava custando a adormecer. Só percebi o que estava acontecendo, quando ele deu um pulo, assim que ouviu um barulhinho. Naquele gesto vi o medo. Como tínhamos assistido à tardinha Mogli 2, o belo desenho do Walt Disney, perguntei se estava com medo. Com suas pouquíssimas palavras disse "é". Fui além e perguntei se era medo do tigre do Mogli, o terrível Sherikan. Ele disse novamente "é". O tranquilizei, dizendo que o tigre não viria à nossa casa e que eu e o pai dele o protegeríamos. Ouviu atento, arrumou o travesseiro e dormiu em seguida. Isso me fez lembrar o velho debate sobre histórias que metem medo. Quando era criança, meu pai não deixava ninguém contar histórias de bicho-papão para mim e meus irmãos. Ele dizia que eram histórias horrorosas, inventadas apenas para amedrontar as crianças e fazê-las obedientes e submissas à custa da insegurança. Posso até concordar com ele, mas em parte. Estas histórias foram por um longo tempo um meio de educar pelo medo crianças e adultos para os perigos do mundo. Mas eliminá-las do imaginário infantil não fará com que estes perigos desapareçam, nem com que elas não tenham medo. O medo está aí, no Antônio, de apenas dois anos, ou no Pedro, de 7 anos, e até em mim, burra velha, de 43 anos. Mas eles, aí que discordo do meu pai, têm a possibilidade de extravasar seus medos ao ouvirem histórias aterrorizadoras. Ainda mais, hoje, quando, nós adultos deixamos de acreditar nelas e, por isso, podemos contar a nossas crianças de forma lúdica e, assim, permitir que elas expressem seus medos. Por isso, o Pedro adora quando leio para ele Bicho-Papão pra gente pequena, bicho-papão pra gente grande, de Sônia Travassos, com ilustrações de Jean-Claude Alphen, editado pela Rocco Jovens Leitores. O livro é um divertido glossário sobre os mais horrorosos bichos-papões do imaginário popular e ainda traz uma coleção de bichos-papões criados pela autora para livrá-la da brabeza de sua mãe. Uma delícia. Mas acho que isso não vale para os filmes infantis que abusam da tensão para atrair a atenção da garotada. O realismo das cenas, animadas ou não, submetem as crianças a uma tensão que elas não estão preparadas para sofrer. Por isso, resolvi evitar alguns filmes para o Antônio. Mas as histórias sempre valem a pena.

Um comentário:

Tino Freitas disse...

Olá Luciana... também achamos este livro cheio de coisa boa para "ouvido"de criança. Principalmente na segunda parte, com os bichos-papão dos adultos, criados pelas crianças. Nossa tropinha dos Roedores de Livros vibraram com as ilustras e com o texto. De fato, um super livro. Abraços musicais.