terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Uma princesa que não usa cor de rosa

A princesa sabichona, de Babette Cole, editada pela Martins Fontes, é muitas vezes minha opção de presente para meninas. Conheci o livro na escola do Pedro, que o adotou logo no primeiro ano, e adorei a história da princesa que faz tudo para que nenhum pretendente à sua mão consiga vencer a gincana, proposta pela própria, para fugir da exigência de sua mãe de arrumar um marido. Mas não pensem que a moça é uma Penélope, que resiste ao casamento por se guardar para seu marido, Ulisses, dado como morto. A princesa sabichona se guarda para si própria. Ela é independente e não quer se casar e, assim, Babette Cole, com seu humor característico, desconstrói o mito da princesa a espera do príncipe encantado tão caro, neste início de século, a nossas meninas. É bom que alguém vá na contra-mão desta tendência, já que as garotas são bombardeadas diariamente pelo esteriótipo princesa. Esse modelo, elaborado pelo marketing da indústria de roupas e brinquedos, usa e abusa do cor de rosa, como o sinal exterior da feminilidade. Não há quem não se espante com a monocromia em que se transformou a vida das pequenas na contemporaneidade. Da calcinha ao pregador de cabelo, da boneca ao aspirador de pó, tudo é rosa. A maior variação que encontramos é o lilás que, ao lado do rosa, faz a combinação mais comum da infância  brasileira, seja ela rica ou pobre. Lembro, de quando era criança ao frequentar a quadra da Estação Primeira de Mangueira com meus pais, notar que quase todas as pessoas do morro iam para o samba com alguma peça de roupa verde ou rosa, ou mesmo das duas cores. Muitos anos depois, já repórter, subi o morro e percebi que Mangueira, vista de perto ou de longe, é verde e rosa em suas casas e em sua gente. Questão de identidade, não tenho dúvida! Mas o rosa que nossas meninas usam, não pode ser comparado ao verde e rosa que faz do morador de Mangueira único. Também nesse caso não tenho dúvida. Só que dessa vez identifico no rosa uma imposição da indústria cultural, que fez o lugar da mulher no mundo encolher. Onde fica aquela mulher que se bateu por liberdade e igualdade diante dos homens? Onde fica a princesa sabichona, de Babette Cole? Vestida de rosa e esperando seu príncipe encantado? Apesar de todo esse massacre cor de rosa, ainda há esperanças. Várias mulheres pelo mundo já se recusam a ver as filhas achando que nasceram para ser uma das princesas Disney. Disney, repito, já que este mundo cor de rosa é a leitura que a indústria cultural faz da feminilidade. Os contos de fadas, ao contrário do que pensam nossas pequenas, são histórias de sofrimento e superação, que nas versões dos irmãos Grimm, do século 19, ganham cores bem mais sombrias do que o rosa dos estúdios de animação. O massacre cor de rosa provocou a reação de duas mães inglesas, que organizaram o movimento  Pink Stinks (rosa fede). Ele já conta com simpatizantes por todo o mundo, inclusive comigo. Não chego a achar que o rosa fede, mas concordo que não podemos permitir que as meninas cresçam achando que apenas o rosa as representa. Assim como não deixamos nossos filhos terem apenas roupas de super-heróis, temos que oferecer às garotas tudo o que a vida pode dar. O que nos faz ricos, como seres humanos, é viver a diversidade. E com certeza a diversidade é bem mais colorida do que o rosa.

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