segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ri melhor quem ri por último

Não há como ficar indiferente a uma boa história de macaco. Eles são inteligentes como nós humanos, maliciosos como os piores de nós e engraçados como os melhores. Essa identificação quase que imediata que temos com os macacos faz com que sempre torçamos por eles. Estejam eles certos ou errados, como é o caso do macaco do conto O macaco e o bolo, que faz parte do livro Histórias da Onça e do Macaco, da premiada Vera do Val, editado pela Martins Fontes. O macaco é um tremendo 171 e, além disso, entrega para a morte sem dó, nem piedade cada um dos bichos que engambela. Enfim, um ser desprezível. Mas não há como não admirar sua inteligência, que o leva a vitória em todos os embates em que se mete. A onça é mais forte, mas, nas histórias brasileiras, ela nunca leva a melhor. O macaco sempre a vence para alegria do leitor. Vera do Val, a contista paulista que radicou-se na Amazônia, reuniu várias destas histórias, que têm origem no folclore africano ou indígena e que se tornaram brasileiríssimas. Ela, que dedica o livro aos netos, narra cada um dos contos como se estivesse frente a frente com seu leitor. Não há criança que não se encante com Histórias da Onça e do Macaco, mesmo que já conheça alguns dos contos reunidos por Vera. O livro não corre o risco de parecer dégà vu, já que cada um que conta um conto aumenta um ponto. O Pedro, mais velho, foi capaz de reconhecer as diferenças entre as várias versões que ele conhece do Bicho Folharal e do Macaco e a Velha e curti-las. O Antônio, que está descobrindo os contos tradicionais, gostou mesmo foi das macacadas em torno do bolo e dos bichos que comem uns aos outros. Eu, por minha vez, adorei, além dos contos é claro, as ilustrações de Geraldo Valério, um brasileiro radicado no Canadá que com suas colagens reproduziu o esplendor das cores da floresta. Floresta que nós brasileiros fomos invadindo aos poucos com nossas cidades. As onças, que estão ameaçadas até nas matas, se foram. Mas os macacos estão em toda a parte - andando pelos fios saídos dos postes, nas janelas mais próximas do verde e em nossos parques urbanos - tentando com poucos recursos tomar de volta o território que um dia foi deles.  Nós, com nossa força, estamos vencendo este embate, mas a vitória, tenho certeza, não nos será doce. Ri por último quem ri melhor. E o macaco sabe disso.

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