quinta-feira, 9 de maio de 2013

Monstros malvados, noites insones e histórias verdadeiras

O assunto não é novo. Já falei aqui que sofro há anos com invasões bárbaras, na calada da noite, à minha cama. Primeiro era o Pedro, que chegava e,sem pedir, se aboletava entre mim e o Cadoca para fugir do escuro ou de sonhos ruins. Depois chegou a vez do Antônio, que chega pelo lado da cama, de mansinho, pedindo socorro para espantar seus medos. Sei que eu não sou a única mãe que passa por isso, mas, tenho certeza, que saber disso não me alivia a alma: cansada, insone e atormentada por monstros e bruxas que aparecem no quarto vizinho e eu nem os vejo. Por isso, entendo o mal humor dos pais de André, o herói amedrontado do livro Uma cama para três, de Yolanda Reyes, da Edições SM, belissimamente ilustrado por Ivar da Coll. O menino, como todos, resiste em dormir e faz  súbitas aparições no meio da noite. Nós pais sabemos o mal-estar do outro, mas sabemos também o nosso, no dia seguinte, em que palitinhos de fósforo não serão capazes de manter nossos olhos abertos. Mas vá lá, os monstros que assustam as crianças não têm piedade de nós. Yolanda Reyes sabe bem disso. Sabe também contar esta história sem paternalismos, expondo a dor de cada um e, digamos assim, a insensibilidade dos monstros. Não me interessa livros para espantar os medos das crianças, me interessa histórias que falem deles com verdade. Monstros, bruxas e fantasmas não assustam ninguém quando a luz está acessa e, a hora da leitura com os pais na cabeceira da cama, é um belo momento para as crianças encará-los com os olhos bem abertos. Assim fez o Antônio. Ele acompanhou a longa história calado e ao fim dela, assim ficou. Seus olhos de criança não se enganam com soluções fáceis e palavras encorajadoras. São olhos que estão dispostos a olhar para dentro, se alguém lhes convencer que este é o melhor caminho. Caminho que só é possível trilhar com verdade. E quem tem medo, não acredita em qualquer história. Muito menos naquelas que teimam em dizer que monstros não existem. Por isso, às vésperas do Dia das Mães, peço apenas um presente. Uma noite bem dormida.

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