segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Os 12 trabalhos de Hércules e os desafios de Pedro

O Pedro já começa a dar sinais de que a adolescência está próxima. Ele tem 11 anos, muita disposição para a vida e uma enorme vontade de ganhar o mundo. Uma vontade que vai levá-lo, cada vez mais, para fora de casa. Imaginar a vida de adolescente e, quiçá de adulto, tenho certeza, o anima a querer sempre mais uma experiência. Passar o dia sozinho com os amigos e ir ao cinema sem a família são algumas das coisas que ele já faz sem medo. Mas garanto que imagina muito mais. Imagina tanto, que foi assaltado pelo medo de ficar longe de nós, pais e irmão. O desejo de crescer não está sozinho. Ele divide o coração e a mente do Pedro com a consciência de que alguma coisa vai ficar para trás. A infância tão querida, acolhida e protegida, vai ficar para trás para dar lugar a uma adolescência cheia de dúvidas e conflitos e, ao mesmo tempo, cheia de possibilidades. São estas possibilidades que empurram o Pedro para a rua. Mas ele ainda quer a casa. Quer a mãe, o pai, o irmão e o aconchego que, em sua pouca vivência, acredita ser direito apenas de crianças. O medo de perder o amor da família neste processo de adolescer o assaltou na forma do ciúme e fez com que ele passasse o dia a infernizar a vida do irmão, que ele sabe que, com seus seis anos, ficará ainda muito tempo sob nossos cuidados. Assim que percebemos este inferno particular que o ciúme havia criado para o Pedro, conversamos com ele e a panela de pressão se abriu. Ele foi capaz de falar de seu medo de perder seu lugar  em nossa vida e de ver o Antônio reinando sozinho, entre os pais, e de ouvir que, em cada fase da vida, há uma relação possível com a família. A dele, na adolescência, com certeza, será diferente da vivida pelo Antônio, ainda na infância, mas, ainda assim, poderá ser boa e acolhedora. Falamos, eu e seu pai, da importância de acompanharmos seu adolescer, fase de tantas dúvidas e angústias, e de nosso desejo de estar sempre perto dele. Falamos dos ganhos que terá, das transformações que a família viverá à medida que ele for crescendo e de nossa alegria de vê-lo tão feliz neste encontro com a vida. Falamos também que ele poderá sempre contar com nossa presença e amor, sendo criança, adolescente ou adulto. Por fim, contei-lhe das experiência a mim relatadas pelas escritoras Nilma Lacerda, minha professora, e Yolanda Reyes, que leram histórias para os filhos, hoje adultos e leitores, por toda a adolescência. "Só pare de contar histórias para os seus filhos no dia em que eles não a quiserem mais ao lado deles na cama", me aconselhou Yolanda. Repeti para o Pedro essas palavras, prometendo a ele que estarei sempre disposta a contar-lhe histórias se assim ele quiser. Baseada em recente afirmação dele, de que adora as mitologias, sejam elas de qualquer nacionalidade, resolvi lhe oferecer a leitura de Os 12 trabalhos de Hércules, de Monteiro Lobato. O livro é conveniente, neste momento, por várias razões. Tem mais de 200 páginas, o que nos garante dias a fio de leitura noturna, e junta os personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo com passagens heroicas da mitologia grega. A fórmula de Lobato, em que Pedrinho, Emília e o Visconde se transportam para a Grécia Antiga com a ajuda do pó de pirlimpimpim, permite à criança a delícia de imaginar-se em uma viagem ao tempo, onde torna-se mais do que testemunha de fatos históricos, torna-se personagem. Lembro que, quando era criança, adorava me imaginar na Grécia, usando togas brancas e vivendo aventuras maravilhosas. Lobato consegue mais do que isso. Desmistifica os heróis, fazendo as crianças se sentirem ainda melhores que eles, se não fisicamente, ao  menos na inteligência. O protagonismo de Pedrinho, da Emília e do Visconde, nas aventuras de Hércules e de outros heróis gregos, dá ao pequeno leitor a certeza de que é ele a razão da história de superação de obstáculos impostos a Hércules, como penitencia por ter matado sua família. Uma certeza importante para o Pedro, neste momento, em que ele também depara-se com obstáculos a serem superados, para que possa crescer seguro de que sempre terá um lugar muito especial no coração de quem aprendeu a amá-lo, antes mesmo de chegar neste mundo. Enquanto isso, espero que eu e o Cadoca sempre possamos estar a seu lado, para que este caminho, assim como o de Hércules de Lobato, não seja solitário.

3 comentários:

Ana Paula disse...

Bernardo, meu filho, fará 11 anos em janeiro. Também já sinto a adolescência chegando. Foi uma surpresa quando ele me pediu um sabonete para lavar o rosto porque não quer ter espinhas!
Adorei a maneira, o sentimento, a poesia entre o sair e ficar. Preciso ler mais para ele. Seu post serviu de alerta.
Recente lemos os 12 trabalhos de Hércules, mas não esse de Lobato.
Beijo

Anônimo disse...

Lulu, que relato lindo, consistente e bem escrito. Um prazer poder ter lido. É muito emocionante e um privilégio ter a consciência de que estamos testemunhando essa transformação em nossos filhos, no meu caso também um menino. Agradeço todos os dias por poder estar me dando conta disso e me emocionar rotineiramente (com as saídas para o mundo mescladas aos pedidos de colo, que não acabam mesmo, não). Li para o Bernardo os 12 Trabalhos também! Há alguns anos. Maravilhoso. Tudo de bom para você, o Cadoca e seus filhotes. bjs! (Eliane Bardanachvili)

Luciana Conti disse...

Também me assustei, Ana Paula, quando o Pedro pediu o primeiro desodorante. Achei o pedido extemporâneo até que, um dia, senti que era mesmo necessário. As espinhas já estão brotando, coitado, mas ele ainda é bem criança. Que bom! Ver estas idas e vindas é mesmo emocionante, Eliane. Fiquei emocionada também de ler seu comentário e pensar que, nós, que nos conhecemos em um momento tão distante da maternidade, estamos podemos compartilhar nossas experiências com os meninos. Gosto de saber que, de alguma forma, estamos sempre juntas. bjs nos dois Bernardos, o da Lili e o da Ana Paula