quarta-feira, 11 de junho de 2014

Um livro, como a vida, sempre tem dois lados

Ninguém duvida de que os fatos da vida sempre têm mais de uma versão. Infinitas versões, dependendo da situação, mas, podemos garantir, que, no mínimo, duas. E nem sempre é fácil compatibilizá-las e harmonizá-las. A vida é como ela nos parece ser. Não há vacina contra a má interpretação dos fatos. Não há garantias de que o que vemos de fato existe. Não há, nem mesmo, certezas sobre como são as coisas. Pois é, a visão dupla, o ponto de vista, a interpretação é a matéria prima de Ter um patinho é útil, da autora e ilustradora Isol, a argentina que ganhou, em 2013, o Alma, um dos mais prestigiados prêmios da literatura para crianças e jovens do planeta. O patinho de Isol, editado por aqui pela Cosac Naify, é na verdade a maneira de a autora brincar com esta verdade ou com a constatação da ausência dela. De um lado o patinho é o objeto útil para o menino. Do outro, o menino é o objeto útil para o patinho. Eles se alternam graças a um artifício do projeto gráfico do livro, que é uma sanfona com dois lados. A criança desenrola a sanfona de um lado, para ler a história do menino e quando chega do outro lado, começa a história do patinho. Uma brincadeira que parece simples e destinada apenas a entreter o pequeno leitor, mas tem a capacidade de ludicamente traduzir literariamente um axioma da vida. Não há dúvidas de que, quando um autor consegue esta façanha, a alegria fica por conta do leitor. Aqui em casa foi assim. O Pedro, mesmo já quase um adolescente, com seus 12 anos, se divertiu ao desvendar a brincadeira proposta por Isol. Riu ao fim, com o riso de quem percebe a trapaça da autora. Um livro para ler, tocar, abrir e pensar. Pensar em como a vida tem sempre, pelo menos, dois lados. Feliz de quem logo percebe isso.

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