segunda-feira, 2 de março de 2015

A adolescência e o desafio de gostar de ler

O Pedro tem 13 anos é um adolescente cheio de vida, amigos e programas. São muitos seus
interesses, nos últimos tempos, mas livros estão fora dessa lista. Ele não se manifesta a favor de nenhum livro e resume sua atividade literária a ouvir, de vez em quando, as histórias que conto para o Antônio. Algumas dessas histórias o encantam até mais do que ao irmão. São geralmente narrativas engenhosas, edificadas pela astúcia de alguma personagem ou mitos das mais diversas mitologias, que prendem a atenção do leitor, ansioso por saber o destino de seus protagonistas. Os três ratos de Chantilly, de Alexandre Camanho, editado pela Pulo do Gato, escolhido para o Antônio acabou agradando ao Pedro. Aos poucos, ele foi ouvindo a história de três ratinhos cegos que livram-se de uma coruja, que os quer para o jantar, pela astúcia. O Pedro gostou. Manifestou seu agrado com o final, em que o apego pela realidade não é compromisso do autor, também o ilustrador do belo livro, e se preparou para dormir. Seu interesse me fez mais uma vez pensar nas razões que fazem alguém parar para ler. Esse mistério que move professores, pais e promotores de leitura no estorço de fazer com que os jovens tomem gosto pelos livros. Eu ainda não estou bem certa sobre que razões são essas, mas uma coisa eu sei: não é pela coerção que formaremos leitores. Aqueles livros adotados pela escola, que a cada dois meses são cobrados em avaliações com nota, com certeza não contribuem para formar leitores. Podem até ensinar a ler, mas não a gostar de ler. Esse é o desafio que a adolescência nos coloca. Como fazer um adolescente abrir um espaço para a leitura em sua agenda lotada de programas no mundo real e virtual? Juro que não sei a resposta e, pelo que converso por aí, desconfio que ninguém saiba. Estamos todos tentando encontrá-la. Até agora, a única coisa que acredito é na necessidade de fazer com que eles continuem a gostar de ouvir histórias. O segundo e o último passo é gostar de lê-las. Esta distância pode parecer pequena, mas não é. Ele é o pulo do gato que viemos perseguindo nos últimos anos, em que nossas crianças e jovens passaram a se acostumar com as facilidades do áudio-visual  e, cada vez mais, abandonam a leitura. Meu Pedro veio me dizer que gosta muito das histórias de Sherlock Holmes, mas que acha chato ler. Me recuso a acreditar que ele não goste de ler por mera preguiça, como muita gente acredita. Quem tem preguiça de fazer uma coisa que lhe dê prazer? Nem mesmo os adolescentes. Então qual é a razão? Me arrisquei a responder que a leitura é chata porque ele está em uma idade em que a concentração é um desafio e não há leitura prazerosa sem concentração. Para se gostar do que se lê é preciso alhear-se do mundo para criar na imaginação o clima da história e a maioria dos adolescentes não tem concentração para isso, além de não ter ainda uma leitura fluente que os faça esquecer que estão lendo. Quando assistimos a um filme, não ficamos a perceber por todo o tempo a tela do cinema e o projetor.  Se isso acontecesse, não teríamos como mergulhar na história e nos sentirmos parte do filme. Foi que respondi. "Quando leio para você, te ajudo a criar esse clima, com a entonação da minha voz e meu ritmo de leitura. Por isso, você gosta", expliquei para ele. Ao continuar a ler em voz alta, não estou apenas o livrando do trabalho de ler, estou permitindo que continue a ver sentido na leitura. Quem sabe, no dia em que ele possa curtir estar alheio do mundo, goste de ler e possa ler um livro do Sherlock Holmes, para, sem intermediários, recriar a história que, hoje, conhece apenas na adaptação para as telas dos cinemas.

3 comentários:

Ana Paula disse...

Luciana, também estou em busca dessa resposta aqui para meu filho de 12 anos. Quero acreditar que tudo o que foi semeado em termos de livros e leituras esteja apenas num momento de latência e depois o leitor ressurja.
Gostei muito das tuas colocações.
Beijo.

Ana Maria Santeiro disse...

Excelente comentário, Luciana. Há que se perseguir, sem forçar a barra e, ce vez em quando, oferecer algo que o faça pensar que talvez aquele livro mereça a sua (dele) atenção.

Luciana Conti disse...

Façamos a nossa parte, né? Se eles gostarem de ler, bom. Se não, que sejam igualmente felizes. bjs