terça-feira, 31 de março de 2009
A boca da noite
O Pedro ainda era bem pequeno quando a Leni Medeiros, minha colega de trabalho, me presenteou com vários livros infantis da recém-desfeita bibliteca de seus filhos que estavam entrando na adolescência. A maior boca do mundo, de Lúcia Pimentel Góes, com ilustrações de Claudia Scatamacchia, veio nessa leva. O livro editado pela Ática caiu no gosto do Pedro, que me pedia para lê-lo quase que diariamente. Me pediu tanto que me animei a dar o livro de presente para alguns de seus amigos. A história do desafio que a avó de Laurinha propõe sobre quem tem a maior boca do mundo é realmente muito legal. A menina vai em busca do ser que tem a maior boca do mundo até que, para sua surpresa, descobre que ele não bicho, nem gente. A maior boca do mundo é a da noite. O texto usa o artifício da repetição para aumentar o suspense e a criança vai seguindo Laurinha em sua busca, com o prazer que um somente uma bela história pode nos proporcionar.
sábado, 28 de março de 2009
Amar sempre, apesar das perdas
Cada livro tem o seu tempo. Assim é com os adultos e com as crianças. Foi o caso do belo A velhinha que dava nome às coisas, de Cyntia Rylant com ilustrações de Kathryn Brown, editado pela Brinque-Book. O Pedro ganhou este livro da Bebel, uma coleguinha dele, em seu aniversário de 4 anos, e nunca, nunca mesmo, me deixou lê-lo. A primeira tentativa que fiz foi interrompida com comentários de que o livro era chato e fim de papo. Na quinta-feira, resolvi desencavá-lo da estante e fazer nova tentativa. A leitura foi acompanhada com a maior atenção e, mesmo com os olhos pescando o sono, resistiu até o fim e, com uma carinha de prazer, disse que a história é muito legal. E ele tem razão. É mesmo muito legal a história da velhinha que perdeu todos os seus amigos para a morte e, com medo de sofrer, resolve não se ligar a mais ninguém. Por isso, ela passa a dar nome a coisas, como sua casa e sua cama, que sabe que vão durar mais do que ela. Assim, evita o sofrimento da perda. A estratégia de fuga dá certo até o aparecimento de um pequeno cãozinho. Mas a dona da história não cede fácil. Ela tem que perdê-lo para entender que o legal é viver os momentos, sejam eles eternos ou não. Um bom aprendizado para as crianças que sofrem por atencipação pensando no dia em que os pais já não estarão aqui e em como sobreviverão à família que lhes deu tanto conforto. O cachorrinho ensina à velhinha que, se quiseremos, nunca estaremos sós, apesar de nossas perdas.
sábado, 21 de março de 2009
Será que é mesmo um ratinho?
Sei que falo pouco de livros para pequenos. Sei disso porque sinto falta do meu pequeno Antônio no blog. Mas confesso que tenho questões com os livros destinados aos bebês. O fato de eles não aguentarem ouvir histórias com muito texto, não justifica que a maior parte dos livros para esta faixa etária seja desprovida de significado. O sentido não necessariamente se dá pelo texto, mas por sua riqueza simbólica. Isto a maior parte dos atuais livros não tem. A pobreza simbólica é que me faz refletir todas as vezes que vou a uma livraria, se o Antônio precisa mesmo de mais um livro. Mais um livro-brinquedo, mais um livro de texturas, mais um livro de pop-ups, mais um livro de sons, mais um livro de belas ilustrações, mais um livro sem significado algum... Ter muitos destes livros é igual a ter um quarto cheio de brinquedos que não acrescentam nada à vida das crianças. Por isso, mexo e remexo as prateleiras e, muitas vezes, saio de mãos abanando, me preparando para reler algum livro que ele já tem. Mas quando encontro um belo livro, fico muito feliz em poder oferecê-lo ao Antônio. Foi assim que me senti hoje ao entregar para meu bebê É um ratinho?, do ilustrador/autor belga Guido Van Genechten, pela Gaudí Editorial. A obra é belíssima, sem ter nenhuma linha de texto. O livro é um cartão que se dobra várias vezes. A criança ao desdobrá-lo vai surpreendendo-se com a transformação de um bicho em outro. Será que é mesmo um ratinho? Vale a pena entrar nesta brincadeira. E quem quiser mais, tem os outros títulos É uma rã?, É um caracol? e É um gato?.
sexta-feira, 20 de março de 2009
Caramba está em busca de suas qualidades
Hoje é dia de novidade aqui em casa. O Pedro sempre traz um livro da escola. Normalmente um livro que não conhecemos e que nos abre uma nova janela para a prosa ou a poesia. Mas hoje não foi nada disso. Ele trouxe pela terceira vez um dos livros da série Estela e Marcos, da ilustradora/escritora Marie-Louise Gay, editados pela Brinque-Book. Já falei de um destes livros neste blog, mas não posso deixar de citar novamente esta autora que nos encanta com a ingenuidade e a poesia da fala das crianças. Para não repetir dicas, vou falar de outro livro dela, tão encantador quanto as histórias dos irmãos Estela e Marcos. É o Caramba, editado pela Callis, que tem como protagonista um belo e inseguro gatinho. Ele confessa para sua melhor amiga, uma porquinha, sua tristeza por não voar como os outros gatos. "Ué, mas gato não voa!", foi dizendo o Pedro, logo no início da história. "Mas nesta história, eles voam", repliquei, calando o realismo de meu filho. Bom... dá para imaginar que o protagonista vai passar por várias provações até descobrir que também tem seu valor. Afinal, o Caramba nada. "Gatos não nadam! Todo mundo sabe disse!", disse um dos primos de Caramba, tão incrédulo quanto o Pedro. Mas o Caramba nada e fica muito feliz em descobrir sua qualidade, que o leva como o voo a experimentar a sensação de liberdade. O livro é lindo e ajuda nossos filhos a se apaziguarem com suas inseguranças.
terça-feira, 17 de março de 2009
Criança quer brincar, brincar e brincar
Não existe quem nunca tenha ouvido, quando criança, a pergunta "o que você quer ser quando crescer?". Hoje, a resposta dos meninos brasileiros a esta questão é quase sempre a mesma: jogador de futebol. Na turma do Pedro, que tem 7 anos, oito dos 10 meninos querem ser craques da pelota. Meu afilhado, de 9 anos, estuda inglês pensando no dia em que jogar na Europa. Mas antes das crianças sonharem e fantasiarem um futuro de glória ou delícias - eu queria ser dona de uma loja de guloseimas -, elas ouvem muito a clássica pergunta "o que você quer ser quando crescer?". Nem todas entendem o que isso quer dizer. O Antônio, tenho certeza, às vésperas de completar dois anos, nem sonha com o futuro. Assim, como o Pedro, aos cinco anos, ao ouvir pela primeira vez esta pergunta. Ele pensou bastante antes de responder sem rodeios: "Quero ser macaco." A desimportância deste tema para o Pedro, naquela época, encontrou eco na leitura do livro O que você quer ser, Zeca?, de Jeanne Willis, com ilustração de Mary Rees, editado pela Salamandra. O livro mostra como nos primeiros anos da infância esta questão existe somente por causa da ansiedade dos adultos. Zeca é atormentado pelos parentes curiosos em saber o que ele quer ser quando crescer. Todo mundo tem um projeto grandioso para ele. Coitado do menino! Tem gente querendo que ele seja um gênio da informática, bailarino, joquéi e, até, político. Mas ele só quer ser uma criança normal, brincar, brincar e brincar. A resposta dele coloca os adultos em seus devidos lugares.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Um Lé com Cré cheio de sentido
Sempre olho desconfiada para livros de poesia para criança. Poesia é poesia. Não tem essa de ser para criança. O que tem é poesia falando do universo da criança, assim como música. Por isso, quando vejo uma bela edição de poesia para crianças compro logo para ler para o Pedro e, agora, para o Antônio, meu bebê. Eu adoro poesia e gostaria muito que meus filhos tirassem dos versos o mesmo prazer que eles me dão. Por isso, não abro mão de um bom livro como o Lé com cré, do poeta José Paulo Paes, ilustrado por Alcy e editado pela Ática. Na primeira vez que o li para o Pedro e o Antônio, que além de não parar quieto ainda ameaçava arrancar o livro de minhas mãos, os poemas de Paes fizeram o maior sucesso. Também pudera, ele fala, com o talento de sua poesia, de pulga, Frankenstein, de advinhas e de uma belíssima versão do Cadê?. Vale a pena ler e reler.
terça-feira, 3 de março de 2009
Eva Furnari faz graça com a língua
Quem não conhece Eva Furnari está na hora de conhecer. A ilustradora é autora também de alguns saborosos livros. Alguns com texto e outros só com imagens. Mas os meus preferidos são três que fazem graça com a língua. Você troca, Não confunda e Assim assado, todos da Editora Moderna. Eva propõe uma brincadeira com o leitor, apresentando criativas e engraçadas ilustrações com textos rimados. "Você troca um espião com preguiça por um ladrão de salchiça?", pergunta a autora para a criança. Os livros são tão legais e entram tão na onda da criançada próxima da alfabetização, que adora uma rima, que frequentemente são adotados por escolas na primeira série. Meu filho Pedro usou o Você troca na escola, mas, antes, ainda na educação infantil, se divertiu muito me ouvindo ler as rimas de Eva Furnari. Um detalhe divertido é imaginar como é a autora que se apresenta com um auto-retrato onde aparece como uma bruxinha, a semelhança de seu personagem mais famoso criado para a Folha de São Paulo. Mas, posso garantir, que ela não se parece nem um pouco com uma bruxinha.