"Só vive quem se debate". Por traz da força desse verso está um dos maiores poetas da língua portuguesa. A poesia de João Cabral de Melo Neto, mesmo após a morte do poeta há 12 anos, ainda é capaz de surpreender a quem, como eu, a admira. Ilustrações para fotografias de Dandara, obra de onde tirei este verso, foi guardada até agora como relíquia de família e chegou às livrarias este mês, como um presente para quem ama poesia. Editado pela Objetiva, o livro é uma preciosidade. Idealizado por João Cabral para uma neta querida e distante, ele ganhou ainda mais beleza com o projeto gráfico elegante de Mariana Newlands. Os versos de Cabral vêm de longe, do Senegal, de onde o poeta diplomata servia naqueles dias de 1975. Dandara, uma garotinha de dois anos, filha de sua Inez " nascida para dizer não", fez a mãe, segundo o poeta, reencontrar "um sim a que condicionou a vida". Esse sim perpassa todos os versos que ilustram as fotografias de Dandara. A cada verso do livro a gente reencontra um poeta inspirado, se é que podemos usar este adjetivo com Cabral, dono de uma escrita poética que não faz pouco da vida. Cabral engrandece os sentimentos, as paixões e as possibilidades do ser humano com a beleza de seus versos. Talvez o que mais me encante nele - sem dúvida meu poeta preferido - é que ele nos faz lembrar que "o mundo não é uma folha/ de papel, receptiva:/ o mundo tem alma autônoma,/ é de alma inquieta e explosiva.", como ele mesmo define no poema Auto do Frade. Este novo encontro com o poeta me emocionou. Não esperava isso. Não sabia da existência do livro, não sabia de seu lançamento, quando dei de cara com ele em uma seção infantil de uma bela livraria, na porta de um cinema do Rio. Eu fazia hora, esperando meus filhos, quando comecei a ler os versos de Cabral para Dandara. Fiquei emocionada. Cheguei a chorar. Não sei bem dizer a razão de tanta emoção. Talvez tentar explicá-la aqui seja uma forma de perdê-la. Mas posso dizer que fiquei emocionada por reencontrar Cabral - que foi tão importante na minha formação - na carinha alegre/triste de Dandara. Emocionada por lembrar que Morte e vida severina foi um dos primeiros livros de poesia que minha mãe me deu e que Ilustrações para fotografias de Dandara, editada para um jovem leitor, será o primeiro livro de Cabral na estante dos meus filhos. Pela certeza de que ele tem muito a falar para os jovens de hoje, fecho este texto com mais uns versos do poeta para Dandara. " Tua mão tirando a pipoca/ do pacote que tua mãe te compra/ tem o mesmo gesto de quem/ dele tiraria uma bomba". Que nossos filhos possam viver com este ímpeto transformador presente na poesia de Cabral.
Luciana,
ResponderExcluirLinda crônica! Gostei muito.
Realmente, João Cabral de
Melo Neto é muito especial.
Eu também ganhei de meus
pais o livro MORTE E VIDA
SEVERINA.
Grata pela indicação do livro
ILUSTRAÇÕES PARA FOTOGRAFIAS
DE DANDARA.Fiquei curiosa.rsrsrs
bjs
CRISTINA SÁ do blog:
http://cristinasaliteraturainfantilejuvenil.blogspot.com
Tomei um café com "Dandara" ontem na livraria e fiquei encantado com o projeto... nem precisa dizer que a poesia estava viva e bela e em primeiro plano.. Virá pra casa em breve.
ResponderExcluirOi, Cristina e Tino, o livro é realmente um encanto que merece estar em nossa casa. bjs
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