sábado, 6 de agosto de 2011

Para gostar de ler poesia

Eu era ainda uma adolescente quando conheci Castro Alves e a grandeza de sua poesia romântica que falava de um povo a ser liberto e um mundo a ser construído. Me apaixonei por essa verve tão intensa, apesar de ter nascido quase 100 anos após sua morte precoce por tuberculose. Depois dele veio João Cabral de Melo Neto, com seu auto Morte e Vida Severina. A maioria deles me chegou pela escola ou pelas mãos de minha mãe, que sabia que eu estava me encantando pela poesia. Na minha casa esse era um gênero inexistente. Minha mãe sempre foi uma leitora voraz, mas poesia nunca fez parte de seu cardápio. A poesia me ligava à minha bisavó, Maria da Silveira, que tinha vivido os saraus do início do século XX. Ela gostava de saber que eu me encantava pelos poetas, o que fez sua filha, minha avó, após sua morte, me dar alguns de seus livros de poesia, entre eles Estrela da Vida Inteira, de Manoel Bandeira. Esse gosto, no entanto, nunca cruzou mares. Sempre fiquei entre os poetas brasileiros. Minha ousadia maior foi Fernando Pessoa. Conheço muito pouco mesmo da poesia americana ou europeia. O pouco que li, não me seduziu. Aí me pergunto se o problema é eu ler poesia traduzida. A tradução, desconfio, faz muito da beleza pretendida pelo poeta desaparecer. Mas reconheço que, apesar disso, tem muita coisa boa a ser lida nas prateleiras das livrarias. Por isso, não titubeei em comprar Ri melhor quem ri primeiro (Poemas para crianças e adultos inteligente), de José Paulo Paes, pela Companhia das Letrinhas. O livro traz uma seleta de poemas escolhidos e traduzidos por Paes para ser apresentada para leitores jovens ou inexperientes na poesia em língua não portuguesa, como eu. O poeta, ensaísta e tradutor dedicou parte de seus últimos anos escrevendo para crianças e divulgando a obra  de seus pares para este público normalmente tão esquecido pelos literatos. Paes, neste livro,  um de seus últimos projetos, reúne 31 poemas de origens linguísticas e temporais diferentes que servem como um resumido cenário da riqueza que o gênero pode ter. "A senhora esperava o ônibus./ O senhor esperava o ônibus./ Passa um cachorro preto que manca./ A senhora fica olhando o cachorro./ O senhor fica olhando o cachorro./ Nesse meio tempo o ônibus passou.", do surrealista francês Raymond Queneau, é um bom exemplo do que Paes traz para adultos e crianças que estejam dispostos a embarcar nessa viagem. Mas como diz Queneau, é preciso fazer sinal para o motorista. Paes já fez para nós, só nos resta topar a brincadeira.

6 comentários:

  1. Ter uma bisavô que participou de saraus poéticos... que lindo para os dias de hoje!

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  2. Desculpe, chegou visita e eu não completei o comentário! Gostaria muito que as escolas ou mesmo "oficinas" estimulassem, ensinassem a ler, declamar poesias. Na escola dos meus filhos até agora não teve iniciativa neste sentido. Poesias são deliciosas. Vou procurar o livro do Jose Paulo Paes. Obrigada pela dica! Beijo

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  3. Oi, Ana Paula, há vários livros legais do José Paulo Paes, inclusive com poesias dele próprio. Vale a pena procurar. bjs

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  4. Oi Luciana,
    Obrigada por mais esta dica valiosa! Curto muito o seu blog, os seus textos e me identifico bastante com as suas experiências - seja no campo da Literatura, seja como mãe.
    Um beijo grande,
    Rachel Facó
    http://esquinadoconto.blogspot.com

    Em tempo: adorei a sua visita ao meu blog! Ele é tão tímido e "familiar", que fiquei feliz em saber que passou por lá.

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  5. Luciana... Visitei seu blog, achei muito interessante! Em breve, quem sabe, serei um 'viciado' em leitura graças ao seu livro!!! Um abraço!
    Agassis

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  6. Que lindo seu blog! Que mais e mais pessoas possam lê-lo...

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