segunda-feira, 2 de junho de 2014

Um botão para soltar a imaginação

Temos passado dias frios no Rio. Um friozinho carioca, sei disso, mas um friozinho que nos permite uma blusa de manga comprida de dia e um cobertor de noite. Tempo que nos faz desejar aconchego, que nos lembra que nossa casa é um lugar de afeto e nos afasta da rua, tão querida nessa cidade. Uma hora em que o melhor é buscarmos aqueles que amamos e nos amam. Assim tem sido aqui em casa. Quando a noite chega, eu e os meninos nos aninhamos na cama, juntinhos, para ler histórias. Mas, antes disso, tem muita animação por aqui. Tem que tirar todo mundo da TV, do computador, do Ipod e do álbum de fugurinhas da Copa e colocar os dois para escovar os dentes e vestir o pijama para, enfim, deitarmos. Mas não sem antes o Antônio passar alguns longos minutos escolhendo a história da noite. São vários livros rejeitados, até chegar ao escolhido. Aperte aqui, de Hervé Tullet, editado pela Ática, faz parte dos poucos que merecem a atenção do Antônio. Ele tem razão em gostar do livro que chegou aqui em casa pela ciranda da escola e, diante de seu entusiasmo e do Pedro, com a brincadeira proposta por Hervé, mereceu ser comprado para nossa estante. O autor francês, já comentado aqui por Sem título, da Companhia das Letrinhas, parece ser, pelos dois livros publicados no Brasil, um mestre em brincar com a imaginação. Se, em Sem título, ele convida o pequeno leitor a viajar pela criação da narrativa, em Aperte aqui, ele brinca com a ideia de que o virtual não é um produto apenas das plataformas digitais e de sua capacidade de criar novos realidades, mas que é, sobretudo, um produto da imaginação humana. Ao convidar as crianças a apertarem, virarem, balançarem, chacoalharem o livro, Hervé reproduz nas duas dimensões possíveis da folha impressa os jogos virtuais de computadores e tablets que as crianças tanto gostam. E a viagem, posso garantir pela reação do Pedro e do Antônio, é a mesma. Ninguém deixa de se divertir porque não vê as bolinhas caindo, como nos joguinhos eletrônicos. Elas não caem, mas o livro nos faz imaginar que elas estão caindo e é isso o que importa. Hervé nos faz lembrar que antes do mundo virtual criado pelos computadores, havia imaginação. E com ela, ninguém pode, nem mesmo a realidade.

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