segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Uma bruxa velha, feia e pronta para o amor

Babuxa veio discreto na mochila do Antônio, cumprindo a rotina de todas as sextas-feiras, dia em que ele traz uma novidade da ciranda da escola. Assim que iniciei a leitura, vi que Babuxa tinha futuro. A maior qualidade da história de Almir Correia, ilustrada por Gustavo Piqueira e editada pela Bituta, é brincar com a linguagem com bastante humor. A Babuxa de Almir Correia é, como se pode supor, uma bruxa velha e feia. Mas, acima de tudo, uma bruxa com sentimentos. Sentimentos que são tratados por Almir com a criatividade dos poetas e o humor que encanta as crianças. Eu sou daquelas que acha que o humor, associado a uma narrativa criativa, sempre produz uma bela história. Estou convencida de que as crianças leem ou ouvem histórias para, em primeiríssimo lugar, se divertir. A literatura é para as crianças uma possibilidade de viver no mundo de fantasia que nós, adultos, e a realidade lhes negamos permanência. Podemos até falar do mundo real para elas por meio da literatura, mas, para encantá-las, temos que falar dele de forma lúdica, sem compromisso com a verdade. Babuxa fala de como o amor é democrático e deve ser vivido por feios e bonitos, velhos e jovens, príncipes e sapos sem qualquer distinção. Babuxa é corajosa e surpreende as crianças. Ela não escolhe o caminho mais fácil, escolhe o caminho da fantasia e, por isso, fez do Antônio seu fã. Confesso que, assim que abri o livro, vi que seria um sucesso. A narrativa de Almir Correia é, sem forçação de barra, criativa, lúdica e, por isso, imprime seu ritmo ao leitor. É impossível ler Babuxa com a entonação normal, da vida cotidiana, sem surpresas ou com monotonia. A história é para ser lida com humor, interagindo com a criança e com a personagem, indo mais além, ao perceber que a viagem só está começando. Foi assim comigo e com o Antônio. Nós dois, lado a lado, acompanhamos a história, curiosos para saber o que Babuxa faria. O Antônio achou a bruxa burra por sua escolha. Eu, por minha vez, talvez por desconfiar que os homens, bruxos ou não, são imprevisíveis e, muitas vezes, escolhem caminhos inusitados para serem felizes, gostei da escolha de Babuxa. Uma escolha improvável para viver um antigo amor, mas a escolha de Babuxa. Ao final de tudo, a bruxa velha, feia e pronta para amar ensinou ao Antônio que qualquer forma de amor vale a pena.

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