quinta-feira, 16 de junho de 2011

Um ladrão de ovos e corações

Ilustração do livro publicada no blog da autora
Sempre adorei uma fazenda. Fazendas me fazem lembrar da minha Santa Fé, em Tebas, que começava na Rua Jacy Tavares, uma homenagem ao meu avô, e terminava onde minha curiosidade nunca teve coragem de chegar. Tebas guarda grande parte das minhas lembranças de criança. Uma infância em que eu brincava de casinha, professora, corria e andava de bicicleta com a maior alegria. Lá em Tebas tive os cachorros que sempre desejei no Rio. Primeiro, o Perigo. Um cão vira-latas que caiu de um caminhão e ficou perdido na pequena cidade até encontrar abrigo na Chácara, como todos conheciam nossa casa. "Esse cachorro é um perigo", alertaram os tebanos sem sucesso. Anos depois, desejado e esperado, veio o Travolta. O cãozinho nos foi dado como dálmata e, na verdade, era um mestiço de sei lá o que. O resultado era uma graça e lembrava um setter inglês, com longos pelos brancos manchados com pintas negras, que, passado a decepção com o engodo, nos encantou de imediato. A briga dos três irmãos para passar a primeira noite com o Travolta fez minha mãe ser dura e decretar que ele dormiria no jardim.  Esperei todos dormirem e fui lá resgatar o cãozinho, que se aninhou rapidinho no tapete ao pé da minha cama. Meu castigo não tardou a chegar. O Travolta, com seu intestino recém-nascido, batizou meu quarto, que amanheceu imundo. Estas lembranças me constrangem todas as vezes que nego aos meus filhos um cachorro. Toda criança deveria ter direito a um cachorro. Não há nada mais espontâneo que o amor das crianças pelos cães. Esse amor é o que move a história Ladrão de ovos, de Lúcia Hiratsuka, editado pela SM na coleção Comboio de Corda. Tudo começa quando dois cachorrinhos chegam ao sítio em que moram Laura e Carlinhos. A história alimenta-se das vivências caipiras de Lúcia, que cresceu no interior de São Paulo, e segue o ritmo delicado dos desenhos da autora, que mistura técnicas de aquarela e sumiê em suas ilustrações. O resultado é uma delícia. É quase como ouvir um 'causo' da roça, em que o ladrão rouba não apenas ovos, mas, sobretudo, corações. O dos meus meninos, pela atenção com que acompanharam a história, ele com certeza roubou.

2 comentários:

  1. Luciana, gostei de saber um pouco das histórias dos seus afetos de infância.
    Beijos
    Lúcia

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  2. oi Lu,
    que delícia são essas lembranças da infância. Sempre tivemos cachorro em casa, mas essa é uma realidade que não posso proporcionar a minha filha, não em nosso apertamento.
    Adorei o trabalho de Lúcia, desses que nos fazem sonhar...
    bjs

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