terça-feira, 2 de junho de 2015
A poesia e os desafios impostos pela língua
Percebo no Antônio um prazer enorme em descobrir os segredos da escrita e a da leitura. Um prazer que faz com que ele, desde pequenino, se divida entre ouvir uma história e acompanhar com os olhos ou mesmo os dedinhos as palavras e frases impressas nos livros. Não raro ele se surpreende no meio da leitura com a grafia de uma palavra ou a pontuação de uma frase. Essa curiosidade, que para mim soa surpreendente, faz com que a leitura noturna seja mais do que ouvir uma boa história, Seja também um momento de investigação da língua. E nada melhor do que os poetas para nos apresentar os mistérios desse português tão cheio de artimanhas. O Antônio não é muito simpático a eles, mas aceitou na boa o livro Um gato chamado Gatinho, de Ferreira Gullar. Acima do preconceito com a poesia, estava a curiosidade acerca do poeta, homenageado na festa literária de sua escola, e de ele conviver com a Isolda, uma linda gatinha negra que teve como companheiro o Tristão, que se foi antes dele nascer, e com a Gueen, que nos deixou depois de 20 anos de vida. Tudo isto fez o Antônio encontrar rapidamente sentido nos versos de Gullar, explorados por ele com a maior sem cerimônia. "Se o gato sobreviveu/por ser muito cauteloso,/tem no entanto um ponto fraco:/ é por demais curioso", leu, fazendo uma pausa para saber o sentido de cauteloso. Foram três noites curtindo os poemas do livro editado pela Salamandra, com belas aquarelas de Angela Lago. Três noites de esforço e prazer de estar conseguindo, passo a passo e dentro de seus limites, vencer os desafios impostos pela língua. Acho que é mesmo assim, brincando e desafiando a língua, que aprendemos a amá-la.
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