Há cerca de um ano o Antônio fez a pergunta que, cedo ou tarde, toda criança faz.
- Mãe, Papai Noel existe?
- Não, Antônio. Papai Noel é uma lenda - respondi, seguindo minha convicção de que não se mente para crianças.
- E o Coelhinho da Páscoa?
- Também não, meu filho.
A reação do Antônio me surpreendeu. Em vez de estar pronto para a decepção, como sua curiosidade sugeria, ele ficou muito revoltado com a realidade. Tão revoltado que o aconselhei a ignorar minha resposta.
- Antônio, você ainda quer acreditar em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa?
- Sim - disse ele, com os olhos vermelhos.
- Então, filho, Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa continuam a existir para você. É só você querer e acreditar que eles vão existir - disse, certa de que era o que ele precisava ouvir para se apaziguar com a vida e suas fantasias.
Seu desejo era tamanho que, imediatamente, se reconciliou com a fantasia. Voltou a tratar Papai Noel e o Coelhinho como personagens reais e, agora, às vésperas de mais um Natal, ele, já com quase sete anos, faz planos que incluem a generosidade do bom velinho. Planos que dão como certa sua existência, tão certa que pressupõem uma comunicação direta com o Polo Norte, que dispensa intermediários, como os correios ou, mesmo, os pais para fazer chegar a Papai Noel seu pedido de Natal.
Assim teria sido, não fosse a intervenção salvadora do Pedro, o irmão, que com quase 12 anos, enterneceu-se com a ingenuidade do pequeno. Ao saber do pedido, quase secreto, ao Papai Noel, resolveu me contar para, assim, garantir a chegada do presente do irmão.
- Mãe, o Antônio disse que pediu um presente para você e o papai e um para o Papai Noel. Ele não sabe que são vocês que compram o presente do Papai Noel - disse, entre divertido e preocupado com o que aconteceria com os pedidos do irmão.
Avisada, orientei o Pedro a escrever com o Antônio uma cartinha para o Papai Noel e, depois, me entregá-la para que eu soubesse o que ele queria de presente. Assim que a carta me chegou, prometi colocá-la ao lado da árvore de Natal para que um duende pudesse pegá-la, durante a madrugada, e levá-la para o Polo Norte.
A estratégia deu tão certo que Papai Noel já entregou o presente dos dois, para que eu os esconda até a noite de Natal. E o que é melhor, garantiu a crença de meu pequeno na magia do Papai Noel.
Uma experiência tão encantadora para o Antônio, quanto a do menino criado por Chris van Allsburg, em O Expresso Polar, editado pela Editora Nova Fronteira. O personagem de Allsburg, que sonhava em ganhar um dos guizos de prata das renas de Papai Noel, quando tem seu pedido atendido, percebe que só ele e seus amigos eram capazes de ouvir o tilintar do guizo. Tilintar que ressoa em seus ouvidos até hoje e "nos de todos aqueles que realmente acreditam". O Antônio, que ouviu atento a história, é um dos que pode ouvi-lo. Que possa fazer parte deste grupo privilegiado, até quando seu coração quiser.
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