sábado, 8 de fevereiro de 2014

Uma bela história, sem título e com muitas possibilidades

Tem um bom tempo que não passo por aqui. Um tempo de férias, que me serviu para descansar e reorganizar a vida. Um tempo também de ausência. Mas uma ausência vivida com a tranquilidade dada pela certeza de que eu sempre posso voltar. Este sofá é um lugar de afeto que construí na vida e que está sempre arrumadinho para mim e minhas histórias. É tão bom saber disso, tanto que estou aqui novamente, buscando seu aconchego. Um aconchego que não me cobra nada. Aqui não preciso ter certezas e posso me alimentar apenas de possibilidades, assim como Hervé Tullet fez com o seu Sem título, editado pela Companhia das Letrinhas. Pelo título ou ausência dele já é possível perceber que o francês não criou um livro comum. Ele nos propôs um livro aberto, em que o leitor é sujeito da narrativa e ele, autor, é surpreendido pelo olhar de cobrança de quem esperava uma história tradicional. Hervé não cede e nos dá apenas os personagens, premidos a se apresentar pela urgência do leitor, e muitas lacunas. Na falta do autor, a história vira uma grande confusão e os personagens vão se virando como podem para dar um significado ao caos. E nós, leitores, temos que encontrar um lugar nesta bagunça. Nada confortável para um pequeno leitor, sei disso. O Antônio reagiu logo, querendo deixar o livro de lado. Eu insisti certa de que a confusão e a insegurança não são confortáveis para ninguém, mas que nela podemos enxergar grandes possibilidades e construir belas histórias. Diante de minha insistência, o Antônio foi cedendo, se abrindo para esta nova possibilidade e interagindo com o livro. Uma interação que Hervé garante sem qualquer artifício. O livro não tem dobraduras, texturas ou sons, tem apenas provocação. A interação de Hervé com o pequeno leitor se dá pela imaginação. O Antônio, depois de ganho pela brincadeira, leu o livro várias vezes e conversou com os personagens, reclamou das soluções dadas por eles, cobrou mais histórias, enfim exerceu ativamente o seu papel de leitor. Um leitor exigente que soube, mesmo no caos, tirar prazer do diálogo travado com o livro. Uma bela história, sem título, com muitas possibilidades e a promessa de que, se quisermos, podemos construir um final feliz.

2 comentários:

Ana Paula disse...

Luciana que bom tê-la de volta aqui no seu sofá!
Eu fiquei curiosa com este título incomum e suas várias possibilidades.
Bagunça, confusão, insegurança realmente não é legal para ninguém; mas também uma grande oportunidade de crescimento, de novos olhares.
Beijo!

Luciana Conti disse...

Oi, Ana Paula,
Andei mesmo meio afastada do blog. Mas estou voltando com calma. Gostei de te ver de novo.
bjs