quarta-feira, 2 de julho de 2014
Um livro, uma parlenda, muitos afetos e algumas surpresas
Cadê, de Guto Lins, editado pela Editora Globo, é a mais nova mania do Antônio. Depois de reclamar muito da quantidade de livros que há na estante, o que, segundo ele, atrapalha o processo de escolha, Antônio, enfim, puxou um para ser lido. Puxou domingo, segunda, ontem, todos os últimos dias o mesmo. Cadê tem qualidades para estar entre os seus preferidos e traz uma particularidade que o encantou: ter duas edições com ilustrações diferentes (a outra, mais antiga, é da FTD). O livro imprime uma velha brincadeira de infância, que eu amava na minha e, adotado pela escola, ajudou a alfabetização do Pedro a ser mais divertida. A parlenda "Cadê o ratinho que estava aqui? O Gato comeu..." foi o texto escolhido por Guto Lins, um criativo ilustrador, para convidar a criança a brincar. Ou melhor, a tocar, a fazer cosquinha, a rir, a interagir com o que lê e com quem lê para ela. Antônio fez tudo isso, mas o que ele mais gostou foi do final da parlenda. "Cadê o ratinho que estava aqui? Foi por aqui, por aqui, por aqui..." Meus dedos seguiam o ritmo do texto, fazendo com que ele risse e se contorcesse todo. O prazer do Antônio foi tanto que reforçou minha crença de que a iniciação da criança na leitura é ancorada no afeto. O afeto é a única razão que nos leva a lermos para nossos filhos e, nos primeiros dias, a fazer com que eles nos escutem. É o calor gostoso de corpo encostado em corpo, são as mãozinhas curiosas no livro e a voz do adulto conduzindo a história que oferecem para a criança a ludicidade proposta pela literatura infantil. O afeto, vale lembrar, é o que mais conta na vida. Não tenho dúvidas de que foi ele quem me moveu nos últimos anos. Ele me deu casa e comida, norte na vida e um olhar para o futuro. Foi com ele que construí minha família, preenchi meus vazios e re-signifiquei minha história. É dele que me alimento, que supero minhas perdas e celebro meus ganhos. E é para ele que quero criar meus filhos. No mais, só me resta esperar pela vida. Ela, como a parlenda, tem sempre uma surpresa guardada a frente. E creio, cada dia mais, que boa.
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