O Pedro e o Antônio, nos últimos 12 anos, têm me ensinado muita coisa. A principal delas é que o
melhor a se fazer é aceitar os filhos como eles são. Compará-los com outras crianças, sejam estranhas ou não, é a pior coisa que uma mãe ou um pai podem fazer. As comparações não são boas ferramentas de educação e só criam frustração, tanto para pais, quanto para filhos. Para controlar a tentação de fazê-las, recorro à memória, onde encontro ainda fresca a frase cunhada por meu amigo, Marcos Derizans, que, aos 20 e poucos anos, deitado de barriga para cima no pilotis da PUC, já sabia de tudo: "Coelho (ele me chama assim até hoje), para ser feliz a gente tem que baixar a expectativa". É verdade, só assim é possível encontrar o caminho do meio, fruir a vida e amar as pessoas como elas são e não como queremos que elas sejam. Mesmo sabendo disso tudo, é inevitável que as vezes a gente se esqueça disso e eu esqueço muitas vezes. "O Pedro nesta idade já fazia isso e aquilo", penso em relação ao Antônio. "O Antônio está fazendo isso e aquilo muito antes do que o Pedro", completo e sigo olhando meus meninos como se eles fossem as únicas crianças a crescerem no mundo. Estes pensamentos são reforçados e muito pelos livros que leio para os dois. As leituras para o Pedro ficaram no passado ou na carona do irmão - ele não admite, mas ainda adora ouvir uma boa história e, por isso, reclama pacas quando a escolhida não lhe agrada - e as para o Antônio continuam a ser diárias. Algumas delas, muito poucas, diga-se por justiça, escolhidas por mim ou vindas da ciranda da escola, e a grande maioria, por ele. Do acervo doméstico, ele escolhe sempre as mesmas, ficando as novidades por conta das retiradas semanais da biblioteca da escola. De lá, vem de tudo um pouco, até que veio Asterix, os quadrinhos de Uderzo e Goscinny que foram muito lidos na casa que compartilhei, até minha juventude, com meus pais e meus irmãos. "Será que o Antônio vai entender essa história", perguntei a mim mesma. "Com quantos anos, eu comecei a ler Asterix", continuei, sem achar a resposta em minha memória. Mas ele queria ouvir a história da aldeia gaulesa que enfrenta os romanos com bravura e muita poção mágica do velho druida Panoramix e foi o que fiz. Foi então que começou a confusão na cabeça do Antônio, que se confundiu com os nomes dos personagens da aldeia. Asterix, Obelix, Panoramix, Abracourcix, Ideafix, Chatotorix, e todos outros foram se misturando na cabeça do pequeno, mas seguimos a história. O Pedro atentíssimo, prestando a maior atenção na história, e o Antônio parando com frequência para perguntar quem era quem. A leitura, como não podia deixar de ser, foi feita em etapas e durou uns três dias. Três dias de volta à velha aldeia gaulesa e às maluquices de Asterix e Obelix me deram ainda mais a certeza de que na vida não há regras. Cada um é cada um e a realidade e a vida é fruída por cada um de nós, como queremos e como podemos fruí-las. No resto, são expectativas dos outros, que, na maior parte das vezes, frustam quem as acalenta e machucam quem as vê cair sobre seus ombros. Por isso, todos os dias lembro que não devo sonhar com o futuro dos meus filhos. Repito esta lição como se fosse um mantra, mas, devo confessar, que eu, como as crianças, esqueço muitas vezes o que ouço.
Um comentário:
E eu também já ouvi tantas vezes e outras tantas esqueci... vou levar mais uma vez o seu mangra, o conselho de seu amigo para não criar expectativas, não sonhar com o futuro.
Beijo Luciana!
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