segunda-feira, 24 de março de 2014

Todos querem um irmãozinho

O desejo de ter irmãos não inquieta apenas as crianças que não os têm. Inquieta a quase todas,democraticamente, alimentando a fantasia de que um primeiro ou novo irmão vai lhes garantir um amigo inseparável e, quem sabe, até um fiel seguidor. Aqui em casa, este assunto já esteve em pauta várias vezes, antes e depois do nascimento do Antônio, irmão do Pedro. Ele foi muito esperado pelo maior, que pediu várias vezes um irmão, até ser surpreendido com minha barriga e depois com um neném em meus braços. Foram momentos ricos, repletos de muito amor, muito ciúme e algum ódio, que fizeram com que o maior, 11 anos depois, escrevesse em um trabalho de História que o nascimento do irmão havia sido a pior coisa que acontecera em sua vida. Parte mentira, parte verdade. O Antônio trouxe com ele o amor de irmão, maravilhoso, e uma nova e desconfortável realidade, em que tudo tinha que ser dividido, inclusive os pais. Apesar disso, o Pedro pediu muitas vezes um outro irmão. Pedido que ganha eco no desejo do Antônio, que passou a sonhar com a possibilidade de deixar de ser o mais novo dos filhos e ter alguém depois ele. Este depois é prenhe de significados e da esperança de exercer poder - no que isso tem de bom e de ruim - sobre alguém, assim como o Pedro exerce sobre ele. Talvez por isso, sem esquecer os inquestionáveis méritos da narrativa de Maria Menéndez-Ponte, que Quero um irmãozinho, editado pela SM, fez tanto sucesso com meu pequeno. Ele adorou. Começou a ouvir a história a contra-gosto, mas rapidamente foi se chegando para ver as ilustrações do argentino Gusti e, por fim, estava rindo das aventuras do menino criado pela escritora galega, que escolheu um tema comum, mas, nem por isso, fez uma história banal. Sua versão para este desejo tão comum em crianças é muito original e explora o que a literatura infantil tem de melhor: a ternura e o humor para os quais as ilustrações colaboram bastante. O menino de Maria é de tão cândido que, em sua ingenuidade, deixa rolar o que há de melhor na criança, a imaginação. É dela que Maria faz a riqueza de sua história. A narrativa é tão verdadeira que fez meu Antônio, que já sabe as primeiras lições sobre como nascem os bebês, embarcar com a maior alegria na solução dada pelo menino para que sua mãe engravide. Ele ficou tão animado, que, ao fim da história, falou alegremente: "Não é que deu certo", me deixando de queixo caído. Quem ler Quero um irmãozinho vai entender meu espanto e, ao mesmo tempo, orgulho por ver que meu Antônio ainda está cheio das possibilidades que a infância dá à vida.