segunda-feira, 29 de junho de 2015

Hora da Leitura estreia na Band News FM do Rio

Acabo de matar um pernilongo tipo jumbo, que, enquanto eu trabalho no computador, se delicia com o meu sangue. Esse ato de pura vingança, confesso, me deu um enorme prazer, mas alegria maior estou com meu novo projeto: a coluna Hora da leitura, da Band News FM do Rio. Todas as semanas apresento uma resenha de um livro para crianças ou jovens ou uma pequena matéria sobre literatura infantil e juvenil, como mais um espaço para divulgar a magia das histórias para crianças. A estreia foi no dia 17 e, na quarta, vai ao ar meu terceiro texto, sobre a Flipinha. A coluna tem cinco inserções na semana. A primeira delas entre 5h40 e 6h de quarta-feira e as outras às 11h12 e 16h12 de sábados e domingos. Como demorei a falar da coluna e duas semanas já se passaram, desde a estreia, aproveito para postar aqui o link para o áudio dos dois primeiros spots. O primeiro foi sobre o livro Selvagem, de Emily Hughes. O segunda sobre o clássico Píppi Meialonga, de Astrid Lindgren. Se vocês me acompanharem nessa nova aventura, aí mesmo é que vou ficar feliz. Feliz demais! Para isso, basta sintonizar na 94,9 FM. Fico aguardando curiosa para saber o que acharam.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Quando não sobra tempo para o dever de casa

Confesso que, quando criança, algumas vezes deixei de fazer os deveres de casa. Não lembro quantas vezes, mas acredito que o número tenha sido o resultado da conta entre a vergonha de chegar na escola sem eles e a preguiça de fazê-los. Mas uma coisa tenho certeza: todas as vezes que falhei em minhas obrigações de aluna, inventei uma história para não ficar tão mal assim com a professora. A mais comum era a que tinha esquecido meus deveres em casa, mas, em caso de precisar mudar a desculpa, qualquer coisa valia, assim como para o menino protagonista de No he hecho los deberes porque, de Davide Cali, editada pela espanhola Pepa Montano. Ele é inquerido pela professora porque não fez os deveres e sai desfiando uma série de desculpas esfarrapadas e mirabolantes para justificar sua falta. Desculpas absurdas como, eu "tive que ajudar o meu tio a construir uma super máquina para fazer-os-deveres-por-mim. Mas, quando ao fim acabamos, ela não funcionava". A professora ouve com a maior paciência para o deleite do pequeno leitor, que pode acompanhar, em cada uma das desculpas, uma expressiva ilustração de Benjamin Chaud, mas, ao fim, diz que não acredita no pequeno. Ele, espantado, pergunta a razão dele não acreditar nele. "Porque eu li o mesmo livro", diz a professora, mostrando o livro que estamos lendo. Confesso que torci para que o menino pudesse usufruir do benefício da dúvida sobre se sua desculpa havia colado, o que me animou em todas as vezes que precisei inventar uma lorota para a professora. Meu castigo foi ter que, anos depois, conviver com meus filhos fazendo das suas para não cumprir com os deveres de casa. Sou dura na cobrança, como a professora do menino, mas confesso que não consigo esquecer que toda, ou quase toda criança, quer mesmo é arrumar um jeito de não fazer o dever de casa. Assim, ao mesmo tempo que os puno, lá no fundo do meu coração, perdoo meus meninos, quando não lhes sobra tempo para fazer o dever de casa.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Enquanto Rui não cresce e toma juízo

 
Em uma coisa as crianças têm razão: mãe é uma figura chata. Está sempre reclamando, mandando o filho fazer o que não quer, chamando a atenção, enfim, educando. Mas eles, com a experiência que têm, é claro, não são capazes de perceber que toda aquela chatice, no fundo, no fundo, é para o bem deles. Então, vamos combinar que o que sobra é a chatice. E é isso que a mãe de Rui, protagonista de Enquanto isso, de Jules Feiffer, editado pela Companhia das Letrinhas, é: uma mala. A mãe interrompe, com seus gritos, os momentos de prazer do menino, irritando-o, até que um dia, tem uma brilhante ideia: imitar as histórias em quadrinhos e dar um corte temporal na narrativa para livrar-se dela. Enquanto a mãe grita, ele transporta-se para aventuras radicais e, para salvar-se desses novos perigos, usa novamente o recurso do "enquanto isso" aprendido nas tirinhas. Feiffer joga esse jogo como um craque - ele é um reconhecido quadrinista americano - e nos dá, assim, a oportunidade de curtir muitas maluquices, enquanto Rui não cresce e toma juízo. As aventuras narradas por Feiffer bem que poderiam ter saído da cabeça de um dos meus filhos, que ouviram atentos à história, para as redações da escola. Os personagens que cruzam com Rui são os tops do imaginário infantil: piratas, tubarões e outras feras que fazem Rui correr de uma história para outra, até aterrizar novamente em seu quarto para enfrentar a maior delas: sua mãe. Um livro bacana que nos faz lembrar que as melhores histórias para crianças são aquelas escritas por quem não se esqueceu de como era ser criança. Assim, Feiffer cria um Rui cheio de moral, mesmo que, do ponto de vista das mães, ele não tenha qualquer razão.

terça-feira, 2 de junho de 2015

A poesia e os desafios impostos pela língua

Percebo no Antônio um prazer enorme em descobrir os segredos da escrita e a da leitura. Um prazer que faz com que ele, desde pequenino, se divida entre ouvir uma história e acompanhar com os olhos ou mesmo os dedinhos as palavras e frases impressas nos livros. Não raro ele se surpreende no meio da leitura com a grafia de uma palavra ou a pontuação de uma frase. Essa curiosidade, que para mim soa surpreendente, faz com que a leitura noturna seja mais do que ouvir uma boa história, Seja também um momento de investigação da língua. E nada melhor do que os poetas para nos apresentar os mistérios desse português tão cheio de artimanhas. O Antônio não é muito simpático a eles, mas aceitou na boa o livro Um gato chamado Gatinho, de Ferreira Gullar. Acima do preconceito com a poesia, estava a curiosidade acerca do poeta, homenageado na festa literária de sua escola, e de ele conviver com a Isolda, uma linda gatinha negra que teve como companheiro o Tristão, que se foi antes dele nascer, e com a Gueen, que nos deixou depois de 20 anos de vida. Tudo isto fez o Antônio encontrar rapidamente sentido nos versos de Gullar, explorados por ele com a maior sem cerimônia. "Se o gato sobreviveu/por ser muito cauteloso,/tem no entanto um ponto fraco:/ é por demais curioso", leu, fazendo uma pausa para saber o sentido de cauteloso. Foram três noites curtindo os poemas do livro editado pela Salamandra, com belas aquarelas de Angela Lago. Três noites de esforço e prazer de estar conseguindo, passo a passo e dentro de seus limites, vencer os desafios impostos pela língua. Acho que é mesmo assim, brincando e desafiando a língua, que aprendemos a amá-la.