quinta-feira, 28 de maio de 2009

Nunca é tarde para conhecer Lygia Bojunga

Uma pena eu adolescente não ter tido a oportunidade de ler Lygia Bojunga. Eu crescia ao mesmo tempo em que ela, jornalista e atriz, se tornava escritora. No lançamento de A Bolsa Amarela, seu terceiro romance, eu tinha apenas 11 anos. Mas, como Raquel, estava estranhando o mundo para o qual me preparava. Tenho a idade de Raquel e muitas de suas questões, mas, ao contrário dela, que teve uma bolsa amarela para carregar seus desejos e abrigar seus amigos imaginários, passei este período da vida sozinha com meus medos e desconfortos. Não foi fácil. Os livros que lia - da minha mãe, da escola ou da Biblioteca de Tebas, lugarejo de Minas Gerais, em que passei três importantes anos de minha vida - não davam voz a adolescentes contestadores. Minhas heroinas eram As meninas exemplares, sempre obedientes, da Condessa de Ségur, e Pollyanna, a personagem de Eleanor H. Porter que supera suas dores e desconfortos brincando com o jogo do contente. Muito diferente de Raquel que nos convence na narrativa em primeira pessoa que tem todas as razões do mundo para estranhar seus pais e irmãos já grandes. Para mim, teria sido um alento saber, nos primeiros dias de minha adolescência, que, em algum lugar real ou imaginário, alguém estava passando pelas mesmas angústias que eu e estava buscando seus caminhos. Mesmo, agora, quase 33 anos depois e com o livro em sua 34ª edição, pela Casa de Lygia Bojunga, a narrativa de Raquel mexeu comigo ao me fazer reviver, com olhos de adulta, aqueles tempos de adolescer. A universalidade da narrativa de Lygia deu ao livro um reconhecimento merecido. A Bolsa Amarela ganhou o selo de ouro da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, dado anualmente ao livro considerado O Melhor para a Criança, e o Certificado de Honra do IBBY (International Board on Books for Young People). Traduzido em vários idiomas, a história foi encenada em teatros do Brasil, Bélgica e Suécia. Para quem ainda não leu, posso atestar: nunca é tarde para conhecer Lygia Bojunga.

domingo, 24 de maio de 2009

Onde há um ponto, há um caminho...

Descobri O Ponto, de Peter H.Reynolds, no blog Letra Pequena, do jornal português O Público, e corri para ver se este livro tinha sido editado em terras brasileiras. Felizmente sim. Nossa edição é da Martins Fontes e, por isso mesmo, é mais fácil encontrá-la na livraria da editora, na Avenida Rio Branco. O autor é ilustrador de vários livros, inclusive da série Judy Moody, no Brasil, pela Salamandra. Mas voltando a O Ponto, assim que tive o livro nas mãos, confirmei a opinião de Rita Pimenta, do Letra Pequena. A história é mesmo muito legal. Vashti, na edição portuguesa Vera, nome bem mais fácil para nossas crianças, é uma menininha que não sabe desenhar e, por isso, se recusa a fazer o trabalho da aula de artes. A professa, certa de que todos têm uma marca para deixar, a desafia a fazer um ponto e a assinar sua obra. Como diz a apresentação do livro, "onde há um ponto, há um caminho..." E Vashti acha seu caminho. A angústia de Vashti me lembrou a de meu filho Pedro, que, como eu, é um péssimo desenhista. Os deveres de casa que pedem desenhos são para ele um suplício. Uma tentativa e um lápis zunindo. Outra e o papel todo rabiscado. Mais outra e resmungos aos gritos. Enfim, um sofrimento que só acabou no dia em que achei um estêncil para ele fazer seu primeiro dinossauro. Satisfeito, ele passou o lápis sobre o dino, coloriu e foi mais feliz para escola. Mas eu queria que, ele, como Vashti, entendesse que para deixarmos nossa marca na vida não precisamos ser bons, mas apenas sabermos do que somos capazes.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A grande idéia de Thierry Dedieu

Em matéria de livros, muitas vezes miro no que vejo e acerto no que não vejo. Foi o caso do As ciências naturais de Tatsu Nagata, editado pela Companhia das Letrinhas. Comprei pensando no Antônio, já que o livro fala de bichos, tem pouco texto e expressivas ilustrações. É claro que sabia que ainda teria que esperar um pouco para lê-lo para o Antônio, um bebê ainda, mas nunca imaginei que ia agradar ao Pedro. Logo o Pedro, que reclama quando o livro tem pouco texto, adorou. Na primeira vez que ouviu a história, fez pouco do cientista japones Tatsu Nagata, uma criação do escritor e ilustrador francês Thierry Dedieu, por ele dar singelas informações sobre a raposa, a toupeira, o crocodilo e a coruja. "Eu já sei disso tudo", resmungou, mas bem que gostou. Poucos dias depois, topou ouvir de novo, riu dos estratagemas de Tatsu para se proteger dos animais e pediu bis. Agora, volta e meia, a gente lê e vê (que delícia de ilustrações!) o caderno de anotações do grande cientista japonês, que tem cinqüenta anos e, desde criancinha, é observador da natureza. Vale a pena pelo humor, pelas cores e pela grande idéia de Tatsu Nagata, ops, de Thierry Dedieu.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mamãe zangada não é vítima, nem algoz

Relutei muito antes de citar o livro Mamãe zangada, da alemã Jutta Bauer, editado pela Cosac Naify. Nada com a qualidade do livro, já que o texto e as ilustrações de Jutta são lindos e a edição, como todas da Cosac, muito bem cuidada. A razão de minha relutância se deveu a dois fatores: o livro ser muito badalado e, assim, eu ter pouco a acrescentar; e minhas dúvidas sobre para quem de verdade a autora fala, para mãe ou para o filho. Mamãe Zangada será, como disse a Renata, uma colega de trabalho que não tem filhos, um livro para as mães se envergonharem? Ou será um livro para pensarmos, mães e filhos, nos limites de nossa tolerância? Os acessos de ira, se respeitados os limites da civilidade, são normais nas relações entre mães e filhos. Quem nunca enlouqueceu sua mãe que joge a primeira pedra e a mãe que nunca gritou com o filho que me desminta. Acredito mesmo que a autora não queria fazer de Mamãe Zangada um manifesto politicamente correto contra a violência nas relações entre mães e filhos. Pelo contrário, em entrevista à Revista Babar, Jutta diz que "para se resolver conflitos há que se passar primeiro pela tristeza e pela dor". Desta forma, acredito que nesta história não haja vítimas, nem algozes. Afinal, a mamãe pinguim também sofre com a bronca que dá em seu filho. Como todas nós, mães, culpadas ou não.

domingo, 10 de maio de 2009

Uma história de amizade e traição

Raposa, de Margaret Wild, com ilustrações de Ron Brooks, editado pela Brinque-Book, é um belíssimo livro. Os personagens - um cão cego de um olho, um corvo sem uma asa e uma raposa invejosa - levantam várias questões que mobilizam as crianças: solidariedade, amizade, inveja, traição e arrependimento. Texto e ilustração criam um clima denso que deixa o pequeno leitor aflito com o destino de seus heróis. A raposa, confesso, causou desconforto até em mim, que li para o Pedro. Na ilustração da capa seus olhos são dourados, o que dá um olhar sombrio à invejosa raposa, que entra na história para separar o cão e o corvo. A ilustração é tão impressionista que o Pedro rejeitou o livro, dizendo que teria pesadelos com a história. Ele só me deixou lê-lo em um noite em que o Caio, meu afilhado, dormiu aqui em casa. Juntos, como deveria ser com o cão e o corvo, enfrentaram a raposa e seus medos. Tanta tensão tem um escape no final da história. A autora dá ao corvo o benefício do arrependimento. Tudo bem que ele terá que enfrentar um longo caminho de volta, sem a certeza do perdão. Belo livro para adultos e crianças que recebeu uma série de merecidos prêmios para texto e ilustração.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Gato de Sofá Deita e Rola na Flist

Levei até um susto quando vi que minha última postagem foi no dia 26 de abril. Mas a razão para eu ter abandonado o blog nesta semana foi justa. Me envolvi no projeto de criar uma edição especial do Gato de Sofá para a Festa Literária de Santa Teresa - a Flist, promovida pelo Ceat - Centro Educacional Anísio Teixeira. O resultado foi o Gato de Sofá Deita e Rola na Flist. O blog estará de plantão no dia da festa, 16 de maio, na Livraria Largo das Letras, na Rua Almirante Alexandrino, 501, para colher impressões de crianças e adultos sobre o evento e sobre livros. A idéia é construir junto com o público uma memória virtual da primeira edição da festa literária que vai acontecer de 9h às 18h, em vários pontos do Largo dos Guimarães, em Santa Teresa. A programação é bem legal. Tem café da manhã com a Lygia Bojunga, conversa com os poetas Ferreira Gullar e Ondjaki, oficina com os ilustradores Graça Lima, Mariana Massarani e Roger Mello, entre muitas outras atrações. Vale a pena ir a Santa neste dia. Vai ter diversão para crianças e adultos, além de ser uma bela oportunidade de desfrutar do bucólico bairro.