domingo, 13 de abril de 2014

A vida e o barco que seguem adiante


A história li para o Antônio, mas era do Pedro que estávamos falando por meio de Orie, avó da escritora e ilustradora Lúcia Hiratsuda que inspirou o belo livro, editado pela Pequena Zahar. Pedro, o filho que veio primeiro, grandão, amarradinho no cueiro, para os meus braços. Menino lindo e nosso filho, que passou seus primeiros anos a meu lado e do pai. Acompanhamos cada dia de sua primeira infância, cada conquista, cada gracinha, cada palavra nova, cada carinho. Curtimos tudo o que pudemos, com gosto de tê-lo ao nosso lado. Até o dia em que o Pedro já era um garotinho e veio o Antônio, pequenino, amarradinho no cueiro, para os meus braços. Ele também era lindo e era nosso outro filho. Mais uma vez curtimos cada dia de sua primeira infância, de novo cada conquista, cada gracinha, cada palavra nova, cada carinho. Curtimos tudo o que pudemos, com gosto de ter mais um filho ao nosso lado. Antônio ainda nem andava, enquanto Pedro alargava, cada vez mais, seus passos. Passos em rumo a liberdade tão sonhada, mas que, nem por isso, deixava de ser doída. A dor da separação e de ver outro menino no lugar que fora seu, mesmo que o hoje ocupado seja muito mais desejado. Assim, como Orie, Pedro correu muitas vezes atrás do barco para nos ver partir com o Antônio. Seus olhos, como os de Orie, ficaram compridos, pensando nas coisas que perdera e olhando para aquelas que ainda não tinha. Um tempo difícil, com certeza, estes dias que se avizinham com a adolescência. Mas, como Orie, sei que o Pedro vai sempre olhar para frente e, um dia, espero possa se voltar para o passado, assim como Lúcia o fez, com o livro, para ver o quanto o amamos. Um amor que nem sempre tem a delicadeza dos traços de Lúcia, que nos presenteia com mais um belo livro ilustrado, em que imagens e textos se irmanam, mas que, com certeza, vai durar para sempre. Cuidaremos do Pedro e de seu irmão, Antônio, com todo o zelo, para que suas memórias sejam cheias de amor, como as de Orie. É tudo o que de melhor podemos fazer. No mais, vida e barco que sigam adiante.