quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O bem com o bem se paga

Ateus, agnósticos e religiosos de variados credos, ninguém, ninguém mesmo consegue ficar indiferente ao clima de fim de ano.  Há, reconheço, aqueles que se incomodam com tudo isso. Olham com desprezo para a multidão que se acotovela nos mercados e ruas em busca de um detalhe para fazer a festa em família ou com os amigos melhor. Tirando os exageros movidos pelo consumismo, que reconheço existir nesta época do ano, estão todos buscando objetos de afeto para renovar seus laços de amizade e amor. Renovar é o verbo do fim do ano. Não há como negar que o fim do ano traz consigo um renovar de esperanças. Isso explica o por que de adultos e crianças aguardarem estas datas como se elas tivessem um poder mágico para mudar tudo para melhor. O Natal e o Revéillon são a dose reservada aos céticos do mundo maravilhoso que tanto encanta as crianças. Nestes dias a gente se encanta com as luzes natalinas, com as belas histórias e as promessas de dias melhores e se entristece com as misérias do mundo para as quais damos as costas nos outros onze meses do ano. Nestes dias nos lembramos de nossos natais de criança e nos esmeramos para dar a nossos filhos a oportunidade de levar do Natal mais que presentes, lembranças de um tempo em que todos acreditam ser possível uma vida mais ética e solidária. Por isso, deixo como dica de Natal o conto popular O bem com o bem se paga, que na edição da Editora Moderna é recontado por Edgard Romanelli e ilustrado por Alberto Naddeo. Na versão de Romanelli para a fábula de que o bem nunca deve dar acolhida ao mal, surgida na Índia do século V a.c., um caipira é ameaçado por uma onça que acabou de salvar. Ao perceber a traição da onça, o caipira implora por sua vida lembrando a ela que a salvou e que o bem com o bem se paga. A onça busca aliados para sua teoria de que nem sempre o bem com o bem se paga até que aparece um danado de um macaco esperto pra burro e cria uma armadilha para soltar o matuto. Boa mensagem para estes dias de Natal em uma sociedade em que se luta diariamente para evitar que o bem dê acolhida ao mal.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A hora de dormir é sempre igual

Confesso que detesto por meus filhos para dormir. Gosto de ler histórias, mas convencê-los a dormir é para mim um suplício. O Pedro já se rende ao sono. Aí não me importo. A gente deita, lê uma história e ele acaba dormindo, muitas vezes até antes de eu terminar a leitura. Já o Antônio, com seus três aninhos, luta com todas as suas forças contra o sono. Tem dias que eu passo mais de uma hora para fazê-lo dormir e só consigo que feche os olhos depois de perguntar a razão de ele não querer dormir. A razão, responde o Antônio, é sempre a mesma. Medo de sonhar com o LOBO, assim mesmo com maiúscula. Eu o acalmo sempre com a mesma conversa. "Quando o Lobo aparecer, fala que sua mãe não o quer em seu sonho. Os lobos têm medo das mães. Você vai ver que ele vai correndo embora. Já tentou falar isso com ele?" Invariavelmente ele diz que não e cai na minha conversa, se ajeitando na cama ou no chão - que ele adora - para dormir. Por esta razão eu vibrei ao achar outro dia nas estantes da Livraria Martins Fontes, no Centro,o livro Como os dinossauros dizem boa noite?, de Jane Yolen, com ilustrações de Mark Teague. A escritora americana usa o fascínio que os dinossauros exercem sobre as crianças para recriar a resistência dos pequenos ao sono. Os dinossauros, pergunta ela, berram, fazem manha, jogam os brinquedos na parede, pedem mais uma história? Não, conclui na narrativa, eles dão beijinhos gostosos na mamãe e no papai, apagam a luz, vão para a cama e se cobrem sozinhos para dormir uma noite tranquila de sono. Quem dera fosse assim, o Antônio pede mais uma história, chora, grita e quando se vê vencido, já com a luz apagada, implora por água, dizendo estar com muita sede. Meu único alento é que, com certeza, meu dinossauro é como todos os outros. Estranhos são estes do livro de Jane Yolen, que, brincando com a imagem refletida no espelho, diverte mães e crianças na hora de dormir.

domingo, 7 de novembro de 2010

Eram 10 sacizinhos?

De vez em quando dou uma passeada na loja da Paulinas, na Rua Sete de Setembro, para dar uma fuçada em busca de bons livros para os meninos. A editora tem um católogo enorme de infantis e juvenis que, garimpado, rende belas leituras só encontradas na loja própria. Bom também é quando chego lá em busca de alguma coisa específica, como na semana passada, quando catei em sua estante o livro Dez sacizinhos, de Tatina Belinky, com ilustrações de Roberto Weigand, que tinha visto nas mãos da Sônia Monnerat. A história é a versão de Tatiana para a brincadeira de tangolomango. Mas, como o que importa é a maneira de cada um contar uma história, a de Tatiana, como não poderia deixar de ser, é especial. Tão especial que ela ganhou o Selo de Altamente Recomendável para a Criança, em 1999. Tatiana coloca 10 sacis na brincadeira e vai tirando um a um da história até a Cuca devolver todos eles. O texto de Tatiana, uma de nossas maiores escritoras de infantis e juvenis, é uma delícia. "Sobrou um só sacizinho:/ Comeu urucum,/ Urucum não é comida,/ E não sobrou nenhum." Mas a história, como um bom tangolomango, conta a volta dos sacizinhos para deleite da criançada. O Antônio, muito ligado no Saci que conheceu na escola, adorou. Quando a Cuca devolve os sacizinhos, ele quer voltar ao início, fazendo com que a narrativa de Tatiana se realize ainda mais na circularidade de uma história sem fim. Vale dar destaque à ilustração que foi premiada em 1999, com o Jabuti. Mereceu. Ela contribui para a riqueza da leitura de Dez sacizinhos por abrir um belo diálogo com o texto e com a imaginação da criança. A começar pela sobrecapa do livro, que mostra os sacizinhos escondidos. Por baixo dela, na capa, encontramos os sacis atrás de árvores. A brincadeira de esconder continua na história. Um dos baratos da leitura é procurar a Cuca em seus vários disfarces em cada página do livro. Uma obra para ler e guardar.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quem não tem medo de escuro?

Pesadelos são o flajelo da infância. Foi assim comigo, está sendo com meus meninos. O Pedro, coitado, está há dias tendo o mesmo pesadelo em que um ladrão mata quem com ele está e o ameaça de morte. O Antônio, ainda tão pequeno e alheio às mazelas de nossa sociedade, sonha frequentemente com o lobo mau atrás dele e, eventualmente, com o Michael Jackson o esganando. Mas o resultado é o mesmo. Os meninos acordam assustados. O Antônio sem pestanejar corre para o meu quarto para pedir que eu o coloque de volta na cama. Com sorte ele dorme rápido. Mas ela nem sempre está comigo. Já o Pedro  pede socorro eventualmente. Fica deitado na cama, no escuro, remoendo seu pesadelo e com medo de voltar a dormir. O que estou contando acontece em qualquer lugar: aqui em casa, no Japão, na Europa e até na Argentina do cartunista Liniers. É lá para as bandas do Sul que o protagonista de O que existe antes que exista tudo, editado pela Girafinha, é colocado na cama pelo pai e pela mãe. Já deitadinho, seu pai e sua mãe lhe dão boa noite, com o click do interruptor de luz. Aí começa o drama do menino, que é obrigado a conviver com seres que descem ao seu quarto pela abertura que a escuridão faz no teto. Até que chega aquele que existe antes que exista tudo e o menino corre para o quarto dos pais. A história de Liniers, quadrinista da série Macanudo publicado no jornal portenho La Nacion e na Folha de São Paulo, tocou meus meninos, que como o protagonista têm que conviver com estes monstrinhos noturnos que o medo dá à vida. O Antônio amou e pede para eu contar a história todas as noites, antes de Os três porquinhos. "Adorei esta história que você trouxe para mim", me disse ele, ontem à noite. O Pedro também gostou. Pudera, até eu amei a forma como Liniers conta um drama tão comum e, por isso, tão explorado pela literatura infantil. Destaque para as ilustrações maravilhosas que nos dão um cartel de monstros inesquecíveis. Tem até um gatinho com cara de amigo que o Antônio escolheu para ser o seu monstrinho. O único senão do livro é a troca de uma letra que faz tudo virar “tude” já no finzinho da história. Mas não compromete o encanto do livro que está super bem editado.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A vida e a morte podem deixar frutos

A morte e o envelhecimento são temas difíceis. Tão difíceis que muitas vezes nos furtamos de encará-los. Mas eles estão lá, no fundo de nossas emoções, nos assombrando. A nós e a nossas crianças até que alguém, como o escritor austríaco Christian Duda, radicado na Alemanha, resolve trazê-lo à luz e, com coragem, encarar de frente o incômodo que eles nos causam. Duda assim o fez em Todos os Patinhos, seu livro de estreia na literatura infantil e juvenil, editado no Brasil pela Cosac Naify, em 2009.
A história do encontro da raposa Conrado e do patinho Lourenço e da formação de uma improvável família servem para o autor tratar sem temor do curso natural da vida que nos leva ao envelhecimento e à morte. Mas este caminho pode ser profícuo, como nos propõe o autor, se ele for pavimentado pela certeza de que, em vida, nos demos para alguém que vai continuar nossa história. Mesmo que para isso tenhamos que, como Conrado, abrir mão de prazeres mais imediatos e previsíveis e viver uma história nada convencional.
A narrativa de Duda é rica em humor, como gostam as crianças, e lirismo para falar da relação construída entre Conrado e Lourenço. Relação tão intensa e verdadeira que nem mesmo o envelhecimento e a morte a ameaçam. Quando eles chegam, chegam com a calma dada pelas coisas inevitáveis e assim são vividos pela raposa e pelos patinhos. Da mesma forma que chegam para aqueles anciões, que, calmamente, se desenlaçam da vida por ter a certeza de que a viveram plenamente.
Isso, no entanto, não elimina o mal estar que o tema provoca. Mas nos oferece uma rara oportunidade para tratar do destino de todos os seres vivos com as crianças, que, mesmo caladas, sofrem com esta predistinação ao imaginar a morte delas e de seus pais.  
O drama de Conrado e Lourenço, no entanto, é amenizado pela força da narrativa de Duda, que encontra no traço vibrante das ilustrações da alemã Julia Friese, radicada na Irlanda, uma excelente parceria que rendeu prêmios na Alemanha e o selo brasileiro de Altamente Recomendável, concedido este ano pela FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil). O encontro entre autor e ilustrador de Todos os patinhos deu tão certo, que eles lançaram em agosto deste ano, na Alemanha, um novo livro para crianças – Schnipselgestrüpp, ainda sem tradução para o português.  
As ilustrações de Julia misturam tons fortes, recortes e colagens para nos criar a impressão de estarmos vendo um desenho animado. Julia não abre mão nem mesmo dos rabiscos iniciais das cenas descritas por seu traço. A força de seu desenho justifica as páginas duplas, nas quais, sem texto, as ilustrações são o único recurso narrativo. O impacto poderia ser ainda maior se Julia tivesse ousado e impresso o livro em um papel mais grosseiro do que o couché fosco, o que daria mais vida ao efeito rústico que a ilustradora dá ao cenário.  
De qualquer forma, Todos os patinhos é um belo livro para jovens leitores preocupados com os mistérios da vida e da morte. O texto de Duda e as ilustrações de Julia não lhes darão respostas, mas, com certeza, provocarão um rico diálogo interior na busca de preencher um pedacinho do vazio que a morte provoca a todos – crianças e adultos.


PS: Este texto foge do padrão dos relatos postados neste blog por ter sido produzido para o curso de pós-graduação em Literatura Infanto-Juventil da UFF. Antes de escrevê-lo, li o livro para o Pedro, meu filho de oito anos, que estava se divertindo com a narrativa de Duda até perceber a morte na história. Ele, como já falei aqui outras vezes, lida muito mal com este tema. Por isso, ouviu o resto da história com o olhar enevoado e ao fim disse que era chata. Chata para ele, antes e acima de tudo, é a morte. Para mim também, mas, como Duda, percebi que uma vida bem vivida pode dar sentido a ela. Espero que o Pedro também consiga perceber isso um dia. Até lá, o que fazer? Só lhe resta conviver com este mal estar, que atravessou quase todos os dias de minha vida.  

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Crescer sem perder a ternura

Ter dois filhos com idades tão diferentes, como eu tenho, é uma experiência e tanto. Quando um está indo com a farinha o outro está voltando com o pirão. Mas nem sempre o pirão é mais saboroso que a farinha, quando o assunto é literatura. O Pedro, com seus oito para nove anos, está ingressando no mundo real e se estranhando com as liberdades da literatura. "Mãe, isso é um absurdo", diz ele, quando depara-se com uma situação surreal. É mesmo, ele tem razão. Mas que importância tem isso, quando estamos viajando nas histórias. Será que elas têm que ser verossímeis? Não, é o que sempre digo a ele, na esperança de que o princípio de realidade - tão exaltado pelo racionalismo - não o impeça de curtir uma bela história. Já o Antônio, com seus três aninhos, nem se preocupa com isso. Ainda está na fase de curtir a fantasia sem questioná-la. Quanto maior o absurdo, melhor. Agora não, Bernardo, de David McKee, editado pela Martins Fontes, é um belo exemplo do que a fantasia pode produzir. A indisponibilidade do pai e da mãe de Bernardo colocam o menino frente a frente com um monstro. O Antônio achou super normal a presença de um monstro na história e pediu para ser ora o Bernardo, ora o monstro para poder experimentar a sensação de ser devorado e devorador. Já o Pedro ouviu a história ora como menino, ora como ouvinte incrédulo. O sorrisinho dele ao ouvir os comentários do Antônio, era seu esforço para bandear-se para o lado do adulto, que generosamente deixa a criança viver a fantasia. Já quando ele é o único ouvinte, à vontade pela falta de testemunhas, a fantasia lhe cai melhor. Meu esforço tem sido para que, nestes anos que o separam da vida adulta, ele aprenda que é possível crescer sem perder a ternura.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Para brincar de livro



Caramba! Tem um mês que não atualizo o blog. Tempo à beça. Tempo que fiquei enrolada com o trabalho, mas que não deixer de ler para meus pequenos. Foram vários livros para o Antônio e nem tantos para o Pedro, que já ouve histórias de mais fôlego. Meu pequenino, com seus três aninhos e um pouco, está impossível. Todas as noites na hora de dormir, senta-se em frente de sua estante e sai tirando todos os livros do lugar, derrubando vários de uma só vez e separando quase uma dúzia para eu ler. É claro que me nego a ler tantas histórias. Não que ele não mereça, mas ler todas significa dormir quando o ponteiro do relógio está quase dobrando mais um dia. Por isso, faço valer a regra que estabeleci para o Pedro, ainda pequeno. São no máximo três histórias. O Antônio, no entanto, nem sempre se submete a ela e passamos para uma quarta. Entre as lidas estão sempre histórias de lobos. "Três Porquinhos" ou "Os sete cabritinhos" estão entre as preferidas. Mas, na tentativa de ampliar o repertório do pequeno, tenho remexido na estante e passeado por livrarias para trazer novidades para ele. A tradução da versão original dos "Três porquinhos", do inglês Joseph Jacobs, que compõe o livro Contos de fadas, da Zahar, foi um sucesso. Os porquinhos da casinha de palha e de madeira acabaram na barriga do lobo, que, ao fim, foi jantado pelo porquinho da casinha de tijolos. Apesar de toda a violência, a versão original do lobo-mau encantou o Antônio. Minhas escolhas, no entanto, nem sempre deram certo. Kipper, esconda-me, do autor inglês Mick Inkpen, editado pela Fudamento, é um belo livro, mas não prendeu a atenção do Antônio, que só pensa em porquinhos, cabritinhos e lobos. Mas a história é deliciosa e vale a pena. Os personagens interagem com o livro, fazendo da aventura de um cachorro, um gato e um rato um divertido e criativo exercício de metalinguagem para crianças pequenas. Apesar do Antônio ter se dispersado vários vezes, a leitura foi bastante divertida. O Pedro, que acompanha de perto todas as novidades que trago para o irmão, aprovou a brincadeira de Kipper e seus companheiros. Por isso, vou insistir com o Kipper. Este cachorrinho ainda vai conquistar o Antônio. Tenho certeza!

sábado, 11 de setembro de 2010

Advinhas para recusar marido

Há livros apaixonantes, que a gente ama só de olhar. Este foi o caso de Sua Alteza, a Divinha, de Angela Lago, editado pela RHJ. Apesar da primeira edição contar duas décadas, o vi pela primeira vez nas mãos da Sônia Monnerat, minha professora na UFF, e me encantei. Tudo no livro é instigante. A edição em papel offset bege e impressa em uma única cor, um cinza esmaecido, nos dá a impressão de termos em mãos um livreto vendido em feiras, com histórias de nosso folclore ou de contadores anônimos. Talvez isso explique a razão de a autora, já na capa, registrar que contou com a "amável colaboração de ilustradores anônimos e antigos". Assim que abrimos o livro, Angela nos revela que a história é um reconto de A Princesa Advinhona, conto popular recolhido por Câmara Cascudo. A história da princesa, que usa como artifício para recusar seus pretendentes jogos de advinhação, ganha na versão de Angela Lago uma narrativa tão inspirada, que a trama prendeu rapidamente a atenção do Pedro, que adorou o fato de na história o protagonista falar "merda". Ele quis checar com os próprios olhos se no livro estava grafado a palavra merda e se divertiu ao ver as cinco letrinhas (m-e-r-d-a), ali, para quem quisesse lê-las. Independente disso, ouviu com atenção os jogos de advinhação propostos pela princesa e seu adversário, pretendente de sua mão. Pedro não os desvendou de cara. Precisou de minha ajuda. Eu reli a história para ele, revelando os jogos de palavras e as brincadeiras propostas por Angela. Ele adorou tanto que, no dia seguinte, ouviu mais uma vez o conto, agora com a felicidade de estar entendendo todos os subentendidos da narrativa. Uma história divertida, inteligente e bonita de se ver. Vale a pena registrar que Angela mistura texto e ilustrações, fazendo da leitura uma divertida troca entre palavras e imagens.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A alegria de ser criança

Descobri O pequeno Nicolau com o maravilhoso filme de Laurent Tirard. Ri muito e saí do cinema de alma lavada e certa de que meu filho, Pedro, iria adorar a divertida turma do Nicolau. Minha mãe se encarregou de levá-lo para ver o filme, junto com o Antônio, que, com apenas três anos, está sempre mais interessado na pipoca, no mate e nas balas, com que se delicia nas duas horas de projeção, do que na história. Não raro, no meio do filme, pede para ir ao banheiro descarregar tanta informação. Já o Pedro, como eu previra, amou a história. Amou tanto que comecei a ler com ele o primeiro livro da série escrita por René Goscinny e ilustrada por Jean-Jacques Sempé. A gente está terminando o primeiro dos seis livros da série traduzidos e editados no Brasil pela Martins Fontes e pela Rocco Jovens Leitores. Nicolau é um daqueles personagens que encarnam um ideal de infância que o mundo moderno está soterrando com tantas e variadas informações e opções de consumo. É uma criança deliciosa em sua irresponsabilidade e ingenuidade e suas aventuras são pontuadas com os desenhos em bico de pena de Sempé, quem, na realidade, pariu o menino nos idos de 1950. Nicolau foi, em seus primeiros dias, um dos personagens do cartunista e só passou a protagonista depois que René Goscinny,  autor do delicioso Axterix, propôs uma parceria a Sempé. Assim surgiram Nicolau e seus amigos. Alceu, o comilão, que conquistou o Pedro por sua semelhança com o Antônio, Clotário, o pior aluno da classe, Agnaldo, o queridinho da professora, Godofredo, o filho do milionário, e outras crianças. O resultado da soma de todas, tirada uma média ponderada, se parece muito com os nossos filhos. Uma turminha que apronta e nos faz rir de chorar, nos impedindo de esquecer de vez a alegria de ser criança.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Na cama da mamãe e do papai também

Uma feliz coincidência fez com que o Antônio trouxesse da escola, na sexta-feira, o livro A cama da mamãe, de Joi Carlin, com ilustrações de Morella Fuenmayor. A história de três irmãos que se aboletam na cama da mãe para brincar, imaginar novos mundos ou mesmo conversar caiu como uma luva para ser lido depois de Posso dormir com você?, de Graziela Bozano Hetzel. O Antônio, grudadinho em mim, adorou ouvir as inúmeras possibilidades de vida que existem na cama da mamãe e, diga-se de passagem do papai também. Já o Pedro, mais velho e mais ranzinza, reclamou que eu não deixava ele montar cabanas com o Antônio na minha cama. Coitadinha de mim e do Cadoca, nossa cama, mais parece um mafuá. Tem criança, gato e bagunça quase todo o tempo sobre ela. Não raro aparece alguém, no meio da noite, querendo dormir conosco. Aí, sim, nos dá uma saudade de tempos antigos em que tínhamos uma cama com lençóis limpinhos e esticadinhos, que ficavam nos esperando o dia todo sem pressa. Mas com certeza, aquela cama não tinha o calor humano que a nossa tem hoje. Acho que, noves fora, acabamos no lucro. Enfim, A cama da mamãe é uma bela escolha da Salmandra, que apostou na tradução luxuosa de Ana Maria Machado para valorizar a história da canadense Join Carlin.
PS: Lendo este post quase dois anos depois, vi a injustiça que cometi ao não falar nada da cama do meu pai e da minha mãe. Aí sim é que a coisa era punk. Somos três irmãos, com uma diferença de um ano e dois meses de um para o outro, que fazíamos da cama dos nossos pais palco para nossa brincadeiras e maluquices, como fazê-la de ringue de Telecatch Montilla. Como na luta-livre que fazia sucesso no fim dos anos 60 não havia mulheres, eu passei a ser a Índia Paraguaia, uma adaptação do Tigre Paraguaio, e meus irmãos o mocinho Ted Boy Marino e o vilão  Rasputin Barba Vermelha. Tudo isso assistido e apitado pelo meu pai. Tinha dias que a brincadeira era o meu pai fazer cosquinha na gente, até quase fazermos xixi nas calças. Coitada da minha mãe! Não era raro fazermos xixi nas calças e, o que é pior, quebrarmos o estrado da cama. Quando isso acontecia, meu pai, com cara de santo, propunha trocar de lugar com ela na cama e, minha mãe, sempre incrédula, aceitava. Era o maior fuzuê quando ela constatava a razão da troca. havia também os dias mais calmos, em que nos empoleirávamos na cama para fazer cosquinha nas costas uns dos outros. Nessa hora, a briga era para saber quem tinha sido o mais beneficiado. Quase sempre era a minha mãe! Bons tempos em que pudia fazer tudo isso e, depois, voltar para meu quarto e deitar-me na minha cama, quentinha, limpinha e com os lençóis esticadinhos. Nada melhor do que a cama do papai e da mamãe!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Uma noite de sombras, medo e aconchego

Confesso que ultimamente tenho um prazer enorme em encontrar livros legais para a faixa etária do Antônio. Coisa que não é muito fácil, apesar da enorme oferta que encontramos de títulos nas livrarias que tratam de formas, cores, comidas, comportamento e outros didatismos. O que quero são boas histórias que gente pequena, como o Antônio, possa entender e se identificar ou mesmo livros que falem das coisas do mundo - como formas, cores e comidas - com ludismo e criatividade. A tarefa é difícil, por isso o prazer que sinto ao encontrar um livro como Posso dormir com você?, da Graziela Bozano Hetzel, editado com capricho pela Manati e ilustrado com inspiração por Mateus Rios. O ilustrador vale um comentário à parte. Mateus Rios tem apenas 29 anos e uns poucos na estrada da literatura infantil. Mas suas ilustrações são muito bacanas e criam um belo diálogo com o pequeno leitor. Ele recria o mundo, criado por Graziela, com áreas de sombra para a imaginação do leitor correr solta pelo quarto do menino. A história segue a tradição dos contos de acumulação, em que as ideias vão se somando às outras e sendo repetidas até o desfecho do enredo, para falar do medo de um menino, que, no meio da noite, pede à mãe para dormir com ela. Igual ao Antônio, ao Pedro e a milhões de crianças em todos os cantos do mundo, que pedem socorro à mãe para enfrentar seus fantasmas noturnos. O mérito maior de Grazilea não é, no entanto, falar de um fato comum às mães e às crianças, mas tratar dele com lirismo e doçura, que nos leva a abraçar nossos meninos no fim da história. E, mesmo sem toda esta certeza, lhes prometer que eles sempre poderão ir domir conosco na hora do aperto.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um belo diálogo com a imaginação

Eu e o Pedro acabamos de ler Felpo Filva, de Eva Furnari, editado pela Moderna, e nos divertimos de montão. O livro é uma grande sacada da autora, que tem o humor como uma de suas marcas. O coelho Felpo é um poeta introvertido, complexado e soberbo até que encontra Charlô, uma fã sincera em suas críticas e criativa em suas sugestões. Felpo, a princípio, fica irritadíssimo com a intromissão de Charlô, mas acaba se dobrando à coelhinha. Uma bela história, cheia de humor e criatividade que aproveita para apresentrar às crianças variados tipos de texto, como poema, carta, fábula, conto de fadas e outros mais. Eva Furnari faz isso, juro, sem nenhum didatismo e cria um belo diálogo com a imaginação da criança. O meu filho ficou atento até o último ponto do texto inspiradíssimo de Eva. O Pedro adorou e eu também. Ele riu um bocado e se encantou com as brincadeiras que Eva faz em um longo post scriptum para explicar tim-tim por tim-tim os vários tipos de texto usados na narrativa. Para melhorar, a gente ainda tem as belas ilustrações da autora para compor um Felpo com cara de intelectual e uma charmosa Charlô. Um livro para ler e reler.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Uma pequena dose de terror

Outro dia fui à biblioteca da escola dos meus filhos, que generosamente aceita a inscrição de pais de alunos, para pegar uns livros para um trabalho sobre literatura de terror, que eu estava fazendo para a pós, na UFF. A Estela, uma das professoras responsáveis pela biblioteca,  me recebeu com o carinho de sempre e, além de me entregar os títulos que pedi,  me sugeiu alguns que não conhecia. A casa assombrada, de Angela Lago, foi uma bela surpresa entre eles. Editado, em 1997, em formato incomum de 10cm X 10cm, pela RHJ, o livro é um mimo e já está em sua sexta reimpressão. Angela, com seu criativo traço, reconta uma história do folclore judaico sobre um fantasma que atormenta a casa de uma família. As ilustrações, como ela explica no livro, foram feitas em computador e gravadas em filme. Isso dá a elas a impressão de uma foto P&B, o que colabora para o clima de terror. Outro aspecto interessante é o diálogo entre ilustrações e texto, fazendo com que o pequeno leitor decifre não apenas palavras, mas também imagens na construção da história. Fiquei tão encantada, que resolvi comprar um exemplar. Agora, eu e Antônio nos divertimos com a história da velhinha que tentou fugir do fantasma. Angela oferece ao leitor uma pequena dose de terror capaz de divertir crianças e adultos. A moral da história é que sempre vale a pena visitar uma boa biblioteca.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Com a morte entalada na garganta

Há tempos paquero o livro O pato, a morte e a tulipa, do alemão Wolf Erlbruch, editado pela Cosac Naify. Todas as vezes que me deparava com ele nas livrarias o pegava e lia com prazer e encantamento, causado pela beleza gráfica da história do pato que trava um profundo diálogo com a morte. Mas, apesar de achá-lo lindo, acabava sempre o deixando de lado. A razão era o desconforto que este tema causa a mim e ao Pedro. A morte sempre foi um assunto difícil na minha vida e percebo que também o é para meu filho mais velho. Todas as vezes que ela surge entre nós, vejo sofrimento nos olhinhos dele. Outro dia, ele veio me mostrar que gravara uma mensagem no celular. Eu a ouvi com um trago na garganta. Pedro dizia que amava a mim, ao pai e ao irmão e que temia muito que algum de nós morresse. Foi a maneira meio torta que ele encontrou de me falar de um medo tão comum nas crianças. Ele precisou de um gravador entre nós para poder me contar de sua angústia. Como me lembrei de mim quando criança? A noite, quase todas, me ameaçava com a ideia da morte dos meus pais, minha própria e dos meus irmãos. A solidão de meu quarto aumentava ainda mais a minha apreensão com a possibilidade de não mais encontrar o dia. Mas eu sempre acordava e, de dia, esse assunto não me importava. Acho que é assim com o Pedro. A ideia da morte o assombra e depois vai embora o deixando novamente vez em paz. Por isso, me pergunto se vale a pena provocar esta emoção, mesmo com uma leitura tão rica de subjetividades e de saídas para uma boa conversa, como a do pato de Erlbrush. O meu racional diz que sim, mas meu coração de mãe se rende a velha ideia de que é melhor deixar as coisas como estão. Mas por vias das dúvidas, no domingo, ao ver o livro na prateleira de uma livraria resolvi trazê-lo para casa. Quem sabe?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um livro para ler em família

O Pedro e o Antônio viajaram hoje. Estamos eu e o Cadoca donos de toda a casa. De cada canto. De cada silêncio. Adorando e ao mesmo tempo estranhando a falta de nossos meninos. Hoje, não terei para quem ler antes de dormir. Isso me dá tempo de escrever no blog, onde não venho há tempos, e ainda ler, desta vez, para mim. Mas antes vou lembrar de uma leitura recente com o Pedro. O livro não foi uma escolha minha ou dele - já tão cheio de opinião -, mas da escola. Os bichos que eu tive (memórias zoológicas) vale a leitura, como os milhares de leitores de Sylvia Orthof já sabem. Ele está na 43’ reimpressão pela Editora Salmandra e ganhou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte para Melhor Livro Infantil, em 1983, e o certificado de honra do Internacional Board on Books For Young People, em 1986. As ilustrações são do filho da autora, o artista plástico Gê Orthof, e compõem com leveza e lirismo o clima lúdico dos oito contos do livro. As histórias de Sylvia são tão deliciosas que Pedro as leu em sala de aula e fora dela. Foi ele quem veio me mostrar o livro e falar que tinha adorado o conto Sua avó, meu bassé. "Imagina a minha avó ser um cachorro?", se divertiu ele. O conto é maravilhoso e tão engraçado que resolvemos ler para a avó do Pedro. Minha mãe é um pouco mais nova que Sylvia e morou até casar na Lagoa Rodrigo de Freitas, o cenário da história. Ela, que pescou muito barrigudinho, não ficou nem um pouco ofendida com o fato do bassé da autora ter o nome de Minha Avó. O Pedro adorou e a gente também. Que nos venham mais livros da Sylvia Orthof para lermos em família.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Quem é o cara?

"Eu sou o cara! Você é o mané!" Com esta provocação o Pedro, outro dia, torturou o Antônio que, a princípio, aceitou estar em desvantagem e depois ficou furioso ao perceber que o irmão não queria trocar de lugar com ele. "Eu não quero ser o mané! Eu sou o cara!" Não adiantou. O Pedro, aproveitando-se de ser o mais velho, insistia que ele era o cara e o outro o mané. A coisa ficou de tal forma, que os dois quase se embolaram para ver quem era o cara e quem era o mané. Com esta disputa fresca na memória, me chamou a atenção o livro Quem é o chefe?, de Jesse Goffin, no estande da WMF Martins Fontes, 12º Salão do Livro Infanto-Juvenil, realizado este mês, no Rio. O livro conta a disputa de dois homens - idênticos, por sinal - a bordo de um navio para saber quem é o chefe. Os dois vão desfiando suas qualidades até que o navio encalha e eles têm que fugir em um patinho de borracha. Quando estamos todos no mesmo barco, pouco importa quem é o chefe, não é? O Pedro assentiu e adorou. O Antônio não quis nem mesmo prestar a atenção. Tentei mais de uma vez, mas ele não queria saber quem era o chefe até que mandei o livro para a escola. A professora dele, contou a história para as crianças que adoraram. Elas encontraram uma saída diferente para o livro. Decretaram, sem titubear, que o chefe do Grupo 3 não estava entre elas. Era professora. Não deixa de fazer sentido...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A magia da imaginação

Comprei o livro Obax, de André Neves, editado pela Brinque-Book, e fiquei muito impressionada com a beleza plástica de suas ilustrações. Sou fã do trabalho de André, o autor/ilustrador, mas Obax realmente me surpreendeu. Como um traço tão preciso, tão contido na perfeição, pode traduzir tanta emoção? Digo preciso e contido por não achar melhor adjetivo para o desenho de André. Tenho medo de falar que ele é racional e ofender o artista. Longe disso. Meu poeta preferido é o João Cabral de Melo Neto, conterrâneo do autor. A poesia de João Cabral, avessa ao sentimentalismo, é inspiradora pela beleza que produz. O desenho de André é assim. Avesso às facilidades da inspiração, mas rico de sentimento.Lamento não ter mais elementos para descrever a sensação que as ilustrações de Obax me causam. Uma bela história sobre a magia da imaginação, ambientada em um continente com muita coisa ainda a ser descoberta. Obax, como alerta o autor na última página do livro, não é um reconto de um conto africano. É fruto de sua curiosidade sobre a geografia e os costumes do Oeste Africano. Belo exercício de imaginação de André Neves que cria uma África à semelhança das histórias de Obax. Uma África que existe sem existir.
PS: Escrevi para o André Neves e ele me respondeu hoje (dia 16 de junho) assim. " Oi, Luciana, acabo de chegar de viagem, Além do Rio, fui para outra cidade no interior do Rio Grande do Sul. Estou muito feliz com resultado de Obax. Aprendi muito fazendo este livro e vou procurar exercitar esse aprendizado nos outros, em busca de uma qualidade total. Entendi todas suas palavras e sensações para o livro. E ter essa riqueza de sentimento de que você falou como resposta, já valeu a pena.Usei técnica mista para compor as imagens, isto é, vários materiais. Porém a tinta base é a acrílica. Pesquisei o Oeste Africano. Ainda existem aldeias assim, sabia? Onde as mulheres são responsáveis pela decoração das casa, pintando com tintas coloridas.A história é ficção, toda questão africana está na composição gráfica para o livro."

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Toda criança quer ser Píppi

Píppi Meia Longa é a mais nova paixão do Pedro. Ele adorou a história da menina que vive sem pai, nem mãe em companhia de um cavalo e de macaquinho em uma casa que leva o estranho nome de Vila Vilekula. Píppi é o desejo de toda criança. Ela é destemida, forte, engraçada, inteligente e, o que é melhor, dona de seu nariz. Píppi faz o que quer.  E o querer de Píppi é o querer de qualquer criança. Esta independência, aliada à total falta de noção de Píppi, garantem passagens hilariantes à história criada há 65 anos pela escritora sueca Astrid Lindgren, como um presente para a sua filha, então com 10 anos. A beleza do livro, no entanto, não está apenas no humor e na liberdade de uma menina que chocou a sociedade sueca em seu lançamento. Ele traz uma menina de verdade, que muitas vezes, diante do espanto do mundo dos adultos com seu seu comportamento, revela suas fragilidades. A força de Píppi está justamente em driblar suas fraquezas. A maior delas, com certeza, é a falta que o pai e a mãe lhe fazem. "Se você tem uma mãe que é um anjo e um pai que é o rei dos canibais, e se você passou a vida inteira navegando mar afora, acaba não sabendo direito como se comportar na escola, no meio de tanta maçã e de tanta iguana...", diz Píppi a uma irritada professora com a total inadaptação da menina à escola, uma das instituições mais repressoras da sociedade moderna. Tudo isso é dito sem pieguismo e contribui para a certeza que o leitor vai construindo ao longo da história de que Píppi é uma menina especial. Especial por lidar com suas inseguranças com o poder da imaginação. Imaginação que pode criar um menino chinês, chamado Pedro, isso mesmo, Pedro, que morre de fome por negar-se a comer de maio a outubro; ou uma empregada maravilhosa que, apesar disso, tem todos os defeitos que as mulheres conseguem encontrar em suas serviçais. Com todas estas qualidades, Píppi nasceu para fazer a felicidade de crianças e de adultos, que ainda sonham com as delícias de um pão com manteiga recheado de açucar, e tornar sua criadora uma revolucionária escritora de livros infanto-juvenis. Astrid, que até então era uma jornalista, tornou-se com Píppi uma autora de muito sucesso, que produziu em seus 94 anos de vida mais de 80 livros publicados. Depois de sua morte, o Governo Sueco criou o Prêmio Astrid Lindgren para a literatura para jovens e crianças. É o mais valioso prêmio existente no mundo para a LIJ, que a nossa Ligya Bojunga recebeu em sua segunda edição. Pena que, no Brasil, Astrid e Píppi sejam quase desconhecidas. Eu, por exemplo, soube da existência delas pela mãe da Marie, uma coleguinha do Pedro, que é belga e tem Píppi entre suas memórias de infância. Por aqui, apenas a trilogia de Píppi e Os irmãos coração de leão ganharam traduções, todas pela Companhia das Letrinhas. Mas eu e o Pedro, que, como todo mundo, adoramos Píppi, já estamos nos preparando para ler Píppi à bordo e de Píppi nos mares do sul.

domingo, 6 de junho de 2010

Cadê o patinho que estava aqui?

Dez patinhos, de Graça Lima, editado pela Companhia das Letrinhas, é um livro que vale a pena. O Antônio, que ainda se embola para contar até 10, se diverte com a história da caminhada dos 10 patinhos. A primeira coisa que ele quis ver ao abrir o livro é onde estava a mãe dos patinhos. Achou apenas na página de rosto, onde a autora desenhou pequenos patinhos com sua mãe sobre a dedicatória para os verdadeiros 10 patinhos. Depois sua diversão foi dar seu nome e do irmão a um dos patinhos. É difícil passar a página com ele, a cada uma delas, se procurando entre os patinhos. "Esse é o Antônio". Feito isso, página virada, a gente se deleita com a criatividade de Graça no tangolomango que marca sua estreia como autora de texto e imagem. Ela cria belas ilustrações para narrar a aventura de 10 patinhos em uma caminhada em que a cada página um vai ficando para trás, até finalmente achar a mamãe pata. A capa já é uma mostra do que vai acontecer lá dentro. Aparecem só nove patinhos. O décimo está voando na falsa guarda do livro, onde ele aparece sozinho. Na contra-capa, grudado por dentro, tem uma surpresa para a criançada. Um jogo de tabuleiro em que os patinhos têm que vencer vários obstáculos para disputar com seus irmãozinhos quem vai chegar primeiro.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A dor de cada um

A literatura para o Pedro ainda é uma experiência compartilhada com os adultos. Apesar de ele, com seus 8 anos, já ser capaz de ler, a gente lá em casa ainda tem a prática de levá-lo para a cama com a promessa de uma história. Histórias que ultimamente são escolhidas, na maioria das vezes, pelo próprio, que garante, desta forma, a repetição de seus livros preferidos. A apresentação de novidades fica, assim, bastante prejudicada. Conto com um cochilo do Pedro para sacar de uma nova história para experimentar a leitura com ele. Em muitos destes momentos cogito escolher uma história de Lygia Bojunga, escritora que a cada livro que leio gosto mais. Apesar disso, sempre a deixo de lado. São dois os motivos para esta hesitação. O primeiro é eu achar o Pedro ainda muito novo para a maioria  das histórias de Lygia. O outro é eu sentir um desconforto ao pensar em ler para meu filho narrativas tão intimistas, que tratam de crianças em diálogo com seu mundo interior para superar seus conflitos com os adultos e com a realidade. Ler Lygia Bojunga para meu filho me soa como uma invasão de privacidade, como uma tentativa indevida de bisbilhotar os sentimentos mais íntimos dele. Me perguntam se não poderia ser diferente, se eu não poderia já apresentar-lhe algumas destas histórias sem fazer comentários. Talvez, mas acho que prefiro que o Pedro tenha esta experiência no momento que escolher e sozinho. Sozinho para pensar em como nós adultos lhe caímos na alma, no que lhe falta e no que lhe sobra na vida. Assim como o menino protagonista de Seis vezes Lucas, de 1995, teve que romper o silêncio interior para entender seu isolamento e aceitar que a história de seus pais - indiferentes a seus desejos e dores - não lhe pertencia para finalmente poder crescer. Acredito que o Pedro também vai crescer quando se deparar sozinho com suas questões. Uma solidão que pode estar assistida por mim e pelo pai dele para que, ao contrário dos pais de Lucas, nós possamos entender seu mal-estar e lhe estender a mão. 
PS: A capa (na foto), assinada por Roger Mello, é da primeira edição. Hoje, o livro é publicado pela Casa Lygia Bojunga Editora. Seis vezes Lucas recebeu os prêmios Jabuti e Orígens Lessa, da FNLIJ, e o selo de altamente recomendável da FNLIJ.

domingo, 18 de abril de 2010

Todos nós temos um pouco de Bi e Bililico

A cara dessa mãe grande e acolhedora, que mais parece uma madona italiana se preparando para uma noite de sono bem gostosa, é o máximo. A história dela e de seu filho tão pequeninho não fica atrás. Bi e Bililico se amam e se perdem, como todas as mães e todos os filhos. O desencontro é marcado por aventuras, choro e a procura do outro. O encontro é cheio de alegrias. Assim, como é a relação de uma mãe e com o filho. As crianças percebem isso, em uma história onde o diálogo do texto com a ilustração compõem um criativo quadro, que oferece inúmeras possibilidades de leitura. Não à toa o Antônio, ao ouvir a história pela segunda vez, pediu-me que substituísse o nome de Bililico pelo dele. E a cada página que aparece a mãe - lindona, em sua avaliação - ele diz: "Você, mamãe!" Por tudo isso, a história de Denize Carvalho e Sonia Dreyfuss, ilustrada pela maravilhosa Eva Furnari e editada pela Formato Editorial, é uma bela leitura para aproximar mãe e filho, por falar do medo de ambos de se perderem um do outro. Encarar os medos é sempre a melhor receita para alimentar o amor.

Uma casa cheia de histórias

A vida anda tão corrida que não tenho atualizado o blog com a frequência que eu gostaria. Mas aqui em casa continuamos com a rotina de leituras para o Pedro e o Antônio. As sugestões de novas histórias vão chegando de vários lugares: da escola dos meninos, do meu curso de especialização de Literatura Infanto-Juvenil, na UFF, das visitas às livrarias e dos amigos. O mais novo sucesso com o Pedro é a coleção Casa Amarela, da Formato Editorial. Os 14 títulos da coleção têm sido a leitura do Pedro e de seus colegas na escola. As histórias de Lilian Sypriano, com ilustrações de Cláudio Martins, são realmente muito bacanas. As narrativas, em bom tamanho para uma criança de oito anos, lançam mão das rimas para prender a atenção do pequeno leitor nas histórias de suspense que tratam de fantasmas, de heranças, de casas mal assombradas e outras fantasias comuns na infância. As histórias de Lilian agradaram tanto, que ele veio me propor perder três vezes e meia a semanada para comprar mais um título da coleção. Diante de tanto interesse, resolvi comprar aos poucos os livros que tanto o encantaram. Por enquanto, só temos Acorda, Rubião! Tem fantasma no porão!, A galinha da vizinha chegou ao fim da linha, Morreu tio Eurico! Rubião Ficou rico! e Zé Murieta, o homem da capa preta. Ainda faltam 10 para completarmos a coleção. Quem sabe?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Pelo direito de contar cascata

Assim que ouvi a história Balela (Igor Q.), de Jon Scieszka, editada pela Companhia das Letrinhas, tive a certeza de que o livro ia fazer sucesso com o Pedro. Nenhum mérito para mim, já que é uma delícia a história de Scieszka, ilustrada por Lane Smith. Os dois já fizeram outra parceria de sucesso, com o livro A verdadeira história dos três porquinhos, e acertaram em cheio com Igor Q. Balela, um menino extra-terrestre que todos os dias chega atrasado na aula e por isso resolve contar uma grande cascata para livrar-se da ameaça da professora de impor-lhe um "castigo perpétuo". Isso tudo contado com humor e criatividade, que faz o menino ET falar uma língua que é um mix de vários idiomas da Terra. A história de Igor encantou o Pedro, que chegou a sugerir até mesmo a troca do título para Pedro Q. Balela. Meu filhote, do alto de seus 8 anos, está descobrindo a malandragem e achando que é capaz de enganar a professora. Ele confessou durante a leitura que age como o Igor apenas quando é muito necessário. O mais bacana é que em sua inocência ele acredita que suas histórias colam. Mal sabe ele que todas as professoras são parecidas com Dona Moscapreta, agindo, ao mesmo tempo, com severidade e complacência diante das malandragens dos alunos.

terça-feira, 23 de março de 2010

Um livro é para sempre

Acho que sou uma pessoa bastante desprendida com os objetos. Não guardo as primeiras roupas dos meus filhos, o meu brinquedo da infância preferido, presentes que ganhei dos primeiros namorados, enfim, não tenho apego por coisas que não têm mais uso para mim e que podem significar alguma coisa para outras pessoas. Mas não me desfaço de livros. Se eles valem a pena, os guardo, mesmo sem lê-los. As vezes me sinto mesquinha por isso. Porque não doar os livros que já li? Mas não. Estão todos aqui em casa. O Pedro, ao que tudo indica, será como eu. Logo depois que o Antônio nasceu, ele me disse que daria tudo que era dele para o irmão. Roupas e brinquedos, mas os livros não. Eu argumentei que um dia ele iria crescer e não querer mais ler aquelas histórias de criança. "Aí você não vai se importar de dar seus livros para o Antônio." Ao que ele retrucou me perguntando se eu gostava mais dos meus filhos ou dos meus irmãos. Sem entender a pergunta, ele me explicou que não podia doar para o Antônio o que planejava guardar para seus filhos. Ri, com a certeza de que um dia ele deixaria o irmão ficar com seus livros. Alguns deles, aqueles para crianças menores, já estão na estante do Antônio. Ao que parece, essas pequenas doações não o fizeram esquecer de seus planos. Anteontem travamos mais um capítulo deste diálogo. Ao me ver encapando um livro recém-comprado, me perguntou porque eu sempre fazia aquilo. Expliquei que os livros de crianças ficam muito gastos com o uso e que ao encapá-los os estava protegendo.
- Assim, eles duram mais para outras pessoas lerem.
Ao que ele perguntou.
- Mãe, o que o que vai acontecer com os livros quando eu morrer?
- Eles vão ficar com os seus filhos - disse, seguindo sua própria lógica.
- E e quando os meus filhos morrerem?
- Vão passar para os seus netos - continuei, explicando que até hoje tenho livros que foram do meu avô, da minha avó e até da minha bisavó.
Não satisfeito, insistiu.
- E quando morrer todo mundo da nossa família?
- Aí, eles vão ficar como uma marca de que nós passamos por este mundo.
PS: Depois desta conversa, me lembrei de O livro - um encontro, da sempre maravilhosa Lygia Bojunga: "Para mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros m e deram casa e comida." Vale a pena ler.

sábado, 20 de março de 2010

Quem faz parte de nossos sonhos?

Acho que todas as mães têm curiosidade sobre o que se passa nos sonhos de seus filhos, ainda mais quando eles acordam no meio da madrugada desesperados e correm para a nossa cama para pedir socorro. Aquela carinha de medo dá pena. Pena deles e de nós que, neste momento, antevemos mais um dia em que será difícil controlar o sono. Eu passo por isso há muito anos. Primeiro foi o Pedro, agora é o Antônio que de vez em quando acorda assustado, com medo de ficar no quarto dele. O medo sempre é da mesma coisa: bicho. Assim mesmo, genericamente. Não importa se é cachorro, leão, passarinho ou tubarão. É bicho. Como ele ainda está engatinhando na arte de falar, fica difícil entender o que acontece nestes pesadelos. Mas uma coisa é certa, os bichos -que ele tanto ama à luz do dia - se transformam em seres ameaçadores e assustadores em seus sonhos. Nesta hora é difícil convencê-lo de que tudo não passa de um sonho. Por isso, adorei quando descobri o livro Os bichos também sonham, de Andréa Daher, editado pela Martins Fontes. A autora, com a ajuda inspirada do ilustrador Zaven Paré, propõe um jogo de advinhação com o sonho dos bichos, que, garante ela, sonham com outros bichos. Zaven Paré entra na onda do texto e apenas sugere com suas ilustrações o que vem a seguir. A criança vai seguindo os bichos nos sonhos de outros bichos até perceber, ao fim, que a história não passa de uma divertida brincadeira. Sei não, mas acho que o livro caiu como uma luva para o Antônio. Afinal, com quem sonha o Antônio?

sábado, 13 de março de 2010

Manoel de Barros é o homenageado da 2ª Flist

Maio vem chegando e os professores do Ceat (Centro Educacional de Santa Teresa) já arregaçaram as mangas para produzir a segunda edição da Flist (Festa Literária de Santa Teresa). O sucesso da primeira Flist animou o pessoal da escola a dobrar a dose e realizar a festa em dois dias. Já estão reservados no calendário do Ceat os dias 15 e 16 de maio para os eventos da Flist, que, desta vez, serão realizados no belíssimo Paque das Ruínas. O homenageado da festa será o poeta matogrossense Manoel de Barros, de 94 anos. Bela escolha. Um poeta maior que fala para crianças e adultos, em 24 livros publicados, e é considerado um dos mais originais da língua portuguesa do século XX. Entre os vários prêmios que recebeu estão dois Jabutis - um pelo O guardador de águas e outro por O fazedor de amanhacer (foto). Mesmo assim, sua poesia ainda é uma surpresa para muitos, como mostra o documentário Só dez por cento é mentira, de Pedro Cezar, que será exibido na Flist. Quem quiser ver o trailer basta clicar aqui. Para relembrar a primeira festa você pode dar uma olhada no Gato de Sofá Deita e Rola na Flist ou no site da festa.

sexta-feira, 5 de março de 2010

A magia dos livros

Outro dia me dei conta de que o Pedro está crescendo e que daqui a pouco não vai mais me querer todas as noites lendo para ele. O sinal disso é o tamanho das histórias que ele ouve hoje. Livros muito pequenos já não fazem muito sucesso com o Pedro, que fica sempre com o gosto de quero mais. Ele já ouve contos e novelas inteiras, numa só noite sem pestanejar e sem cair no sono, e já não faz mais questão de que os livros tenham ilustrações. O que aumenta meu trabalho de catar nas livrarias boas histórias que sejam adequadas para sua idade. Eu acredito em unicórnio, do inglês Michael Morpurgo, editado pela Martins Fontes, é um bom exemplo de livro que vale a leitura para uma criança. A bela história de um menino de oito anos que descobre em meio à guerra o valor que os livros podem ter em sua vida é comovente. Esta descoberta não vem ao acaso. Ela é conduzida pela Dama do Unicórnio que conta histórias para as crianças da cidade no centro de uma biblioteca pública e as encanta com um mundo mágico em que os livros são peças de afeto e de magia. Confesso que o fim da história me emocionou. Não pude deixar de lembrar da importância que a Biblioteca Pública de Tebas teve na minha vida. O Pedro, que ainda não tem idade para ter memórias, como as do narrador, se espantou com minhas lágrimas, mas gostou da história. Minha única decepção foi ver que a história não era fruto de uma lembrança de Morpurgo, o autor que nasceu em 1943 e, portanto, não pode ter memórias da guerra. Mas de qualquer forma, vale a leitura de um livro que fala da magia das histórias para crianças com poucas, mas belíssimas ilustrações.
PS: Qual não foi minha surpresa ao ver em um cartaz no 12º Salão do Livro Infanto-Juvenil, realizado em junho, no Rio, que o livro recebeu em 2010 o Prêmio Altamente Recomendável de Tradução de obras para crianças, da FNLIJ. Merecido!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Para falar de Deus...

A criação, do belga Bart Moeyaert, editado pela Cosac Naify, foi um dos meus erros que, tempos depois, acabou em acerto. Eu comprei o livro há uns três anos e, claro, o Pedro não gostou. Ele, na época, com cerca de cinco anos e nenhuma cultura religiosa, boiou na história do homem apequenado diante de Deus criando o mundo e todos os seres. O humor fino do texto de Bart, com certeza, não disse nada para aquela criança alheia ao mundo cristão. O livro voltou à estante e ficou esquecido por lá até semana passada, quando resolvi tentar mais uma vez sua leitura. Agora deu. O Pedro prestou uma bruta atenção na história do homem diante da criação. O texto de Bart e as ilustrações do alemão Wolf Erlbruch têm um humor refinado para tirar o homem do lugar passivo que as religiões sempre lhe reservaram. O primeiro homem criado por Deus não deixa de ser perplexo, mas tem uma postura crítica diante daquele ser poderoso, que tudo pode e faz. "Deus (...) por que você criou primeiro a luz, e só depois o Sol? Não devia ser o contrário? Não devia ter sido ao mesmo tempo? Pensando bem, será que valeu a pena? Você não se arrepende?", pergunta o homem para um deus em fim de criação. Confesso que gostei deste homem abusado que não fica intimidado diante de nada e não se deslumbra com sua semelhança com Deus. "Confesse de uma vez: eu fui um erro!" Pois é, uma ótima leitura para mães agnósticas e em dúvida sobre a existência de Deus, como eu, apresentarem para os filhos à guisa de educação religiosa.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Um porquinho sortudo e um lobo azarado

Sei que tenho falado muito no Lobo Mau. Ele está presente por aqui desde o início, quando postei um comentário sobre o fascínio que a personagem exercia sobre o Pedro. O Pedro cresceu, nasceu o Antônio, que bastou crescer só um pouquinho para descobrir que o Lobo Mau lhe reservava muitas emoções. É o lobo dos Três Porquinhos, dos Sete Cabritinhos, da Chapeuzinho Vermelho e de muitas outras histórias recentes ou não. A verdade é que a gente aqui em casa nunca se cansa de apreciar um bom Lobo Mau. Foi assim com De repente!, de Colin McNaughton, garimpado em uma de minhas passagens pela Livraria Martins Fontes, no Centro. Um achado. Preston, o porquinho objeto do desejo do faminto e malévolo lobo, é um sortudo. Todas as vezes que o, por sua vez, azarado lobo se prepara para o golpe fatal acontece algum imprevisto que salva o porquinho. A brincadeira ganhou o Antônio, que faz caras e bocas todas as vezes que vê o lobo se dando mal. Ele amou a história e a ilustração super expressiva de McNaughton, um dos mais prestigiados ilustradores ingleses, que representa com cores fortes e personagens robustos a tensão da história. A sacação do autor garante lugar na estante dos meninos para mais um livro de lobo.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Viva a fantasia!

Outro dia li no blog dos Roedores de Livros a indicação do Coelho Mau, de Jeanne Willis, com ilustrações de Tony Ross, e me dei conta da minha falha em não tê-lo citado aqui. O livro, editado pela Ática, é uma delícia. O Pedro me pediu quase uma centena de vezes para lê-lo e tentou, ele próprio, ir sozinho até o fim da história mais de uma vez. A narrativa do Coelhinho Felpudinho que se transforma no Coelho Mau mexe com a imaginação das crianças por lançar mão de várias desejos comuns aos pequenos, como não tomar banho, pregar peças nos outros, fazer manobras radicais e dormir altas horas, entre outros, para traçar o perfil de um dos coelhos da Turma dos Sinistros. Tudo narrado  sem moralismos e com muito humor. A história é uma delícia e seu desfecho é surpreendente, mostrando o que uma criança é capaz de fazer para driblar seus pais e esconder um boletim com notas ruins. Afinal, um boletim pintado de vermelho tira o sono de qualquer um, né? A história é ilustrada pelo craque Tony Ross, que dá ainda mais asas à imaginação do Coelho Mau com ilustrações em nanquim, aquarela e pastel oleoso. Um livro que vale a pena por contar uma história cheia de imaginação, humor e ternura. Que a gente possa ter a liberdade de deixar nossos meninos viajarem na fantasia para viverem por lá o lado mau de cada um deles.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Há sempre um mais forte

Olha a cara do lobo ali ao lado e vê se dá para ficar indiferente a este delicioso livro do escritor belga Mario Ramos, editado pela Martins Fontes. Nem eu nem o Antônio conseguimos. A história de Eu sou o mais forte é uma bela sacada, usando o mais do que conhecido lobo mau. Mau como um pica-pau e narcisista como um pavão. O que o lobo de Mario Ramos exibe é sua força e sua ferocidade, com um texto enxuto e ilustrações super expressivas. E é claro que o Antônio e os bichos do bosque onde ele anda todo garboso se curvaram imediatamente diante do Lobo Mau. A história muda de rumo apenas quando o fortão se depara com uma pequena espécie de sapo. O pequenino ousa desafiar o lobo e tudo muda. Muda com humor e inteligência. Com certeza mais um livro maravilhoso para lermos para nossos pequenos que tanto temem e tanto amam o Lobo Mau.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Para espantar o lobo mau

Tem tempos que estou para falar aqui do Tico e os lobos maus, de Valeri Gorbachev, editada pela Brinke-Book. A história e as ilustrações de Valeri são de uma delicadeza adorável e fazem o maior sucesso com o Antônio, meu menino assombrado, como o Tico, pelo lobo mau. Valeri cria uma atmosfera acolhedora para a casa de Tico, onde ele acorda de um pesadelo terrível com lobos maus. Ele conta seus medos para uma mãe protetora que faz tudo para mostrar para ele e seus irmãos, que acordam com o pedido de socorro de Tico e passam a viver seu pesadelo, que o medo deles é infundado. Sem sucesso, mamãe coelha resolve sair de casa para afastar os lobos maus. Na verdade, os lobos maus não existem e mamãe coelha finge tocá-los de lá com uma vassoura. Os coelhinhos ficam aliviados e dormem felizes com a mãe no meio deles. O mais engraçado é que o Antônio apesar de ver a história de um ângulo privilegiado, acredita como os coelhinhos que mamãe coelha afastou os lobos maus do quintal da casa deles. Em sua fantasia, tenho certeza, que ele não percebe que os lobos maus não existem. Mas felizmente dorme tranquilo, assim como o Tico.