sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O leitor, segundo Macanudo

Já falei aqui em Macanudo, ou melhor em Liners, o cartunista argentino que assina esta série de tirinhas no jornal La Nacion, de Buenos Aires, e na Folha de São Paulo. Macanudo, que para os portenhos quer dizer supimpa ou bacana, tem um lirismo todo especial e fala da criança com uma delicadeza encantadora. Nestas tirinhas, Liniers lembra, por meio dos diálogos de Enriqueta com o urso Madariaga e o gato Fellini,  do prazer da criança diante de uma boa história. 


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Eva Furnari, uma autora para estar sempre a mão

Sem medo de ser repetitiva, vou escrever novamente sobre Você troca?, de Eva Furnari, pela Editora Moderna, um delicioso livro que  brinca com rimas e ilustrações na medida certa para cativar a criançada. Você troca? não acaba no final de brincadeira proposto pela autora em sua última página. Felizmente, ganha pares em Assim assado... e Não confunda, todos pela Moderna, que podem ser lidos como se formassem uma trilogia. Os três estão na estante do quarto dos meus filhos há quase seis anos, mas como toda boa obra são redescobertos e relidos de tempos em tempos. Primeiro fez graça com um Pedro ainda pequetito, depois foi para a escola na mochila do ano da alfabetização e agora o tempo é do Antônio. Meu filhote, que ainda nem fez cinco anos, começa a descobrir os prazeres da língua com as brincadeiras orais propostas por Eva. O seu preferido, com certeza, é Você troca?, confesso que também o meu. "Você troca um mamão bichado, por um bichão mimado?" A contar pela cara de fofo do bichão, é claro que sim. Mas com certeza não há quem queira trocar "um coelho de chinelo por um joelho de cogumelo". O Antônio percorre com uma animação quase exultante as brincadeiras propostas pelos livros, sem, ao menos, ter segurança sobre os conceitos trabalhados por Eva. Por isso, ele acaba confundindo o Você troca? com o Não confunda e o Assim Assado..., trocando o que não deve ser trocado. A leitura acaba virando uma barafunda, em que ele diz que troca o que quer e não troca o que não quer. Ao fim de tantas trocas, confusões, risos e pequenas subversões - em que, com um sorriso de canto de boca, diz preferir o ladão de salsichas a um espião com preguiça, a gente está feliz e eu certa de que Eva Furnari é uma autora para estar sempre a mão. Seja a do Pedro, seja a do Antônio. Viva o humor de Eva!

domingo, 1 de janeiro de 2012

Um mistério pra vida inteira

2012 chegou! Tim-tim para nossos sonhos e esperanças que se renovam com mais um ano novo e com os encontros e reencontros da vida - nestes dias tão comuns e desejados. É isso que nos faz olhar para trás e nos prepararmos para seguirmos em frente. Sempre em frente, sem romper com o passado jamais. Passado rico em subjetividades, em história e em afetos. Afetos que nos lembram, logo no primeiro dia de um ano novo, antigas personas. Eu, aos 20 e poucos anos, fui um coelho. Não um coelho qualquer, tão pouco um coelho de Páscoa. Fui o Coelho, da Sociologia da PUC, o Coelho amigo do Urso, da Lontra e do Peroba. Peroba, de mané, Peroba, de gente boa. Coelho que ao longo dos anos foi se disfarçando, até um dia em que ficou impossível perceber sua natureza e, assim, reconhecê-lo. Mas hoje, primeiro de janeiro de 2012, acordei e fui procurar por minha natureza de coelho. A primeira coisa que lembrei foi de ter visto ontem, em uma novela, um pai lendo para a filha O mistério do coelho pensante, de Clarice Lispector, editado pela Rocco. Belo livro, em que Clarice fala para seu filho Paulo sobre os seres, suas naturezas e os limites da realidade e as possibilidades da imaginação. Imaginação que faz a história do coelho pensante ser muito "mais extensa que o seu aparente número de páginas". História que "na verdade só acaba quando a criança descobre outros mistérios". Mistérios que vão afastá-la da infância, mas que, se observados, vão criar novas possibilidades para a realidade que, sem eles, parece tão sem graça. Essas possibilidades, ensina Clarice, ficam a cargo de cada um. Fazem parte dessa história tecida ano a ano, com os encontros e reencontros que preenchem as lacunas deixadas pela autora em O mistério do coelho pensante, texto enriquecido pelo ludismo do traço de Mariana Massarani. O coelho de Clarice é mais um sinal de que vale a pena viver. Por isso, repito: viva 2012! O ano do dragão, aquele que discretamente ultrapassou o coelho e nos promete grandeza na vida. Os outros mistérios, ficam a nosso encargo. Do jeito que quisermos e pudermos!