segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

As grandes questões da existência e o ano novo

O ano de fato começa hoje, dia 2 de janeiro. Passada a ressaca da festa, nos vemos novamente diante da vida: nua e crua, sem fogos, purpurinas e borbulhas. Seca e franca. E eu, novamente diante do branco desta página do word, nem tão limpa assim, tentando criar minhas alternativas. Não é fácil. Sei disso. Mas não estou sozinha. Logo aqui pertinho o Pedro e o Antônio dormem aquele sono longo de férias, cheios de ideias para uma vida que mal se iniciou. É deste combustível que me encho de esperanças no porvir. É deste corpo a corpo com um futuro que não é meu, que vou criando minhas saídas. Saídas que não podem nunca abandonar o que já construí. O novo só me enche os olhos se prenhe de passado e, por isso, preciso preservar pontes, mesmo nas rupturas. Não me pergunte nada. Ainda não sei  para onde vou. Mas navegar, como já nos disse o poeta, é preciso, mesmo que em rio seco. E assim sigo em meu desafio, buscando sentido nessa vida tão louca, a quem somos tão apegados, apesar de tudo. Fora dela não há saída, não há existência. A vida é uma existência que nos intriga e já fez muitos filósofos passarem a sua em busca da palavra exata para descrevê-la. Mas ela, ao que parece, não existe e, enquanto a procuramos, vamos vivendo, experimentando, criando e nos espantando com as inúmeras possibilidades de tradução da vida. Cada um, neste tempo múltiplo de que somos contemporâneos, vai encontrando a sua, escolhendo a que melhor lhe cabe. Mas para chegarmos lá, não podemos nunca nos esquecer daquelas velhas  perguntas que há milênios fazem os homens abandonarem seus lugares de conforto: quem somos, de onde viemos e para onde vamos. As respostas são difíceis, talvez inalcançáveis, mas persegui-las deverá sempre ser nosso esporte. Um esporte que deve ser iniciado nos primeiros anos de nossa existência, muito antes das aulas de inglês, de empreendedorismo e de administração de sonhos. Para aprendê-lo não há cartilhas, nem técnicas ou táticas, há apenas liberdade para perguntar. Perguntar muito e sempre. Consultar a experiência alheia também é boa receita e há muitas delas disponíveis em belas narrativas. A arte é uma boa conselheira nesse exercício de pertencimento ao mundo e à vida. E as crianças amam fazê-lo. Aqui em casa, meus filhos o fazem de várias maneiras, mas não posso deixar de citar o livro A grande questão, de Wolf Erlbruch, uma espécie de introdução à filosofia, despretensiosa e lúdica como devem ser as obras para crianças, que encanta a todos, de qualquer idade. No livro, editado por aqui pela Cosac Naify, o ilustrador e escritor alemão cria um belo diálogo sobre a existência entre um menino que faz aniversário e vários outros personagens. Erlbruch, ao fim, convida seu leitor a responder a essa grande questão que há milênios nos inquieta. É perseguindo essa resposta que inicio mais um ano de minha vida. No mais, só me resta torcer para que 2017 seja um tempo feliz para mim e para toda a humanidade. Desejo talvez mais difícil ainda de se realizar do que encontrar a resposta para a grande questão. Mas são das impossibilidades que encontramos nossas saídas. E elas, com certeza, existem.