sábado, 11 de setembro de 2010

Advinhas para recusar marido

Há livros apaixonantes, que a gente ama só de olhar. Este foi o caso de Sua Alteza, a Divinha, de Angela Lago, editado pela RHJ. Apesar da primeira edição contar duas décadas, o vi pela primeira vez nas mãos da Sônia Monnerat, minha professora na UFF, e me encantei. Tudo no livro é instigante. A edição em papel offset bege e impressa em uma única cor, um cinza esmaecido, nos dá a impressão de termos em mãos um livreto vendido em feiras, com histórias de nosso folclore ou de contadores anônimos. Talvez isso explique a razão de a autora, já na capa, registrar que contou com a "amável colaboração de ilustradores anônimos e antigos". Assim que abrimos o livro, Angela nos revela que a história é um reconto de A Princesa Advinhona, conto popular recolhido por Câmara Cascudo. A história da princesa, que usa como artifício para recusar seus pretendentes jogos de advinhação, ganha na versão de Angela Lago uma narrativa tão inspirada, que a trama prendeu rapidamente a atenção do Pedro, que adorou o fato de na história o protagonista falar "merda". Ele quis checar com os próprios olhos se no livro estava grafado a palavra merda e se divertiu ao ver as cinco letrinhas (m-e-r-d-a), ali, para quem quisesse lê-las. Independente disso, ouviu com atenção os jogos de advinhação propostos pela princesa e seu adversário, pretendente de sua mão. Pedro não os desvendou de cara. Precisou de minha ajuda. Eu reli a história para ele, revelando os jogos de palavras e as brincadeiras propostas por Angela. Ele adorou tanto que, no dia seguinte, ouviu mais uma vez o conto, agora com a felicidade de estar entendendo todos os subentendidos da narrativa. Uma história divertida, inteligente e bonita de se ver. Vale a pena registrar que Angela mistura texto e ilustrações, fazendo da leitura uma divertida troca entre palavras e imagens.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A alegria de ser criança

Descobri O pequeno Nicolau com o maravilhoso filme de Laurent Tirard. Ri muito e saí do cinema de alma lavada e certa de que meu filho, Pedro, iria adorar a divertida turma do Nicolau. Minha mãe se encarregou de levá-lo para ver o filme, junto com o Antônio, que, com apenas três anos, está sempre mais interessado na pipoca, no mate e nas balas, com que se delicia nas duas horas de projeção, do que na história. Não raro, no meio do filme, pede para ir ao banheiro descarregar tanta informação. Já o Pedro, como eu previra, amou a história. Amou tanto que comecei a ler com ele o primeiro livro da série escrita por René Goscinny e ilustrada por Jean-Jacques Sempé. A gente está terminando o primeiro dos seis livros da série traduzidos e editados no Brasil pela Martins Fontes e pela Rocco Jovens Leitores. Nicolau é um daqueles personagens que encarnam um ideal de infância que o mundo moderno está soterrando com tantas e variadas informações e opções de consumo. É uma criança deliciosa em sua irresponsabilidade e ingenuidade e suas aventuras são pontuadas com os desenhos em bico de pena de Sempé, quem, na realidade, pariu o menino nos idos de 1950. Nicolau foi, em seus primeiros dias, um dos personagens do cartunista e só passou a protagonista depois que René Goscinny,  autor do delicioso Axterix, propôs uma parceria a Sempé. Assim surgiram Nicolau e seus amigos. Alceu, o comilão, que conquistou o Pedro por sua semelhança com o Antônio, Clotário, o pior aluno da classe, Agnaldo, o queridinho da professora, Godofredo, o filho do milionário, e outras crianças. O resultado da soma de todas, tirada uma média ponderada, se parece muito com os nossos filhos. Uma turminha que apronta e nos faz rir de chorar, nos impedindo de esquecer de vez a alegria de ser criança.