terça-feira, 24 de novembro de 2009

As histórias da Preguiça contadas para a Sorte

Meninos do mangue, de Roger Mello, editado pela Cia. das Letrinhas, foi um dos livros infantis que mais me impressionaram nos últimos tempos. A história da aposta feita pela Sorte e pela Preguiça e a prenda a ser paga pela perdedora é absolutamente envolvente. A gente começa e não quer parar. Mas, como a leitura era em voz alta para o Pedro, foi feita em capítulos. Assim, por algumas noites lemos as oito histórias em que a Preguiça, a perdedora - é claro, teve que contar para a Sorte. Nos dias de muito sono, o Pedro só aguentava ouvir uma. Mas, em alguns dias, o interesse vencia o sono e ele conseguia ouvir mais de uma. Todas elas são maravilhosas e criativas e têm a prosa de um autor original. Roger conta uma história única, que, claro, faz referências à tradição de nossa literatura popular e infantil. Mas, com certeza, ela tem a marca de Roger, no texto e nas ilustrações que criam um belíssimo jogo entre a Sorte e a Preguiça para contar para as crianças como é a vida no mangue. Um olhar quase antropológico, sem qualquer piedade pela pobreza de quem vive por lá. O Pedro aprendeu, com a Preguiça e a Sorte, que homens e crianças do mangue vivem de catar siri na lama e que separam o dia pelas quatro mudanças de maré. A história de como surgiram as marés alta e baixa, aliás, é genial e a minha preferida. Mais genial ainda é poder contar para meu filho uma história de um mundo tão diferente do nosso, um mundo feito de pobreza material e riqueza simbólica que, a prosa de Roger faz parecer natural, nos impedindo de sucumbir à piedade de quem não é como nós. Roger, com os meninos do mangue, deu a meu filho a primeira oportunidade de olhar o mundo de forma a relativizar as verdades sobre a felicidade. Por isso, viva Meninos do Mangue, que rendeu a Roger, em 2002, o Jabuti nas categorias infantil ou juvenil e ilustração de livro infantil ou juvenil, além de prêmios da FNLIJ e da Fondation Espace Enfants, da Suiça. Viva Roger, que, com justiça, empresta seu nome à biblioteca infantil do Ceat (Centro Educacional Anísio Teixeira) e concorre ao prêmio Alma (Astrid Lindgren Memorial Award).

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Cara a cara com a autora

Outro dia descobri que a Ninfa Parreiras, que coordena o grupo Letra Falante, do qual faço parte, iria à escola dos meus filhos para falar de sua obra. Resolvi fazer uma surpresa para o Pedro e trouxe para casa o livro Poemas do tempo, ilustrado pela Mariana Massarani e editado pela Paulinas. O Pedro ficou animadíssimo ao receber o presente. "A Estela (professora da biblioteca) está lendo este livro pra gente", contou. À noite, que, por azar, foi a do apagão, me fez ler o livro de novo. Sob a luz de uma lanterna, sentamos - eu, ele e o Antônio - para ler e ouvir os poemas da Ninfa que falam do tempo em suas várias versões. Tempo das descobertas, de sorvete, das despedidas, da escola, de fora, do infinito... No dia seguinte, o livro foi para escola nas mãos do Pedro, ávido por um autógrafo e para contar de quem era filho. Assim que cheguei em casa veio logo falar das novidades e mostrar os autógrafos que havia ganho. "Meus amigos me acharam muito sortudo de ter um autógrafo da Ninfa", disse. Não foi bem sorte. Foi insistência. A Ninfa me contou que o Pedro não se contentou com um autógrafo, quis logo três. Aí que entendi porque havia mais de uma dedicatória no mesmo livro. O resultado de tamanha aventura foi que ele ficou fã de carteirinha da Ninfa. Já me pediu para comprar o novo livro dela, que, segundo ele, sai no próximo ano e curte muito o Poemas do tempo. Com justiça... o livro é muito bacana e os poemas falam de vivências bem conhecidas das crianças. Tudo para sua leitura ser um sucesso.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Uma janela aberta para o mundo

A beleza e a dramaticidade de África, o livro de nosso fotógrafo maior Sebastião Salgado, editado pela Taschen, me obriga a abrir uma exceção e deixar entrar no Gato de Sofá uma obra que não é destinada a crianças. As fotos de Salgado mostram um continente grandioso, de belos animais e selvagem natureza, que dá abrigo a uma população castigada pelas guerras e pela fome que luta para manter sua dignidade e identidade. A lente de Salgado mira no ponto mais sensível de nosso planeta e nos sacode da letargia induzida pelas benesses do consumo. Aquela gente sofrida me fez voltar nos anos e reencontrar interlocutores com quem pudesse confessar minha dor ao ver com a crueza do preto e branco tamanha injustiça e desigualdade. A leitura de África, apresentada pela prosa do moçambicano Mia Couto, me fez acreditar que os valores humanistas que nortearam minha adolescência e juventude não foram totalmente soterrados pelo hedonismo do consumismo, que tenta fazer de todos nós seres alienados que se alimentam dos prazeres do materialismo. As fotos de Sebastião Salgado me deram a esperança de que meus filhos vão conseguir encontrar um lugar no mundo em que eles possam ser gente que se irmana com seus semelhantes - ricos ou pobres, iguais ou diferentes - e não apenas máquinas em busca do sucesso e do conforto que o dinheiro pode pagar. Aguardo o dia em que possa mostrar para eles as fotos de Sebastião Salgado e, com elas, abrir uma janela onde eles possam se debruçar para ver o mundo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Um ratinho encantador

Tem dias que estou para falar aqui de um livro delicioso que dei para o Antônio. O Ratinho, o morango vermelho maduro e o grande urso esfomeado, de Andrey Wood, com ilustrações de Don Wood, editado pela Brinque-Book. A história de um ratinho que encontra um morango e é surpreendido por uma voz que o alerta do perigo do grande urso esfomeado querer sua conquista é super bacana. O leitor passa todo o tempo acompanhando as emoções do ratinho e se perguntando de quem afinal é aquela voz. A ilustração de Don Wood, marido e parceiro de Andrey em outros livros, como A Casa Sonolenta, é fundamental para compor o clima de suspense criado pela história. O resultado é um livro para toda a família curtir junta - os pequenos, os maiores e os adultos. Aqui em casa todos nós adoramos o ratinho, que é encantador com suas caras e bocas.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O Gato de Sofá fez um ano

Sábado, o Gato de Sofá fez um ano. Queria ter escrito alguma coisa em comemoração a esta data. Mas confesso que fiquei com preguiça. Um feriadão, que começou na feira de produtos orgânicos e terminou na praia com o maridão e as crianças, me deixou na lona, cansadona como ficam todas as mães de pequenos ao fim de um dia de folga. O resultado foi minha total omissão diante do aniversário do meu blog. Mas isso não quer dizer que eu não tenha comemorado a data. Minha comemoração foi a certeza de que encontrei no diálogo que eu e meus filhos travamos com os livros infantis uma enorme fonte de prazer. Prazer em ler as incríveis histórias que têm sido produzidas aqui no Brasil e no exterior, prazer em ver que estas leituras me colocam mais perto dos meus meninos, de seus sentimentos e convicções, prazer em transmitir a eles o amor pelos livros e apresentar-lhes toda a sua beleza e, por fim, prazer em constatar que, ao contar nossas impressões sobre estas leituras, me aproximo de tanta gente legal. Neste ano, conheci gente nova e descobri novos ângulos de quem já conhecia, como a Ângela Nogueira do Velejando nas Letras. Muitas vezes não respondo aos comentários por absoluta falta de tempo. Mas leio todos e visito os blogs de quem me convida. Anoto as sugestões, mas infelizmente não posso ter em mãos todos as histórias sugeridas. Os livros comentados aqui são comprados por mim ou emprestados pela escola dos meus filhos. Todas as vezes que chego em uma livraria me encanto com vários títulos, saio com menos livros do que queria e, mesmo assim, meu marido se espanta com a fatura de nosso cartão de crédito. Isso tudo para dizer que, apesar de minhas limitações financeiras, adoro receber as sugestões e os comentários de quem passa por aqui.
PS: A dupla aí do lado - Calvin e Haroldo - é protagonista de um dos melhores quadrinhos que há. Calvin é tudo de bom para adultos que não se esqueceram de como é bom ser criança.