quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Grandes aventuras em um pequeno livro

Conheci as histórias de Beatrix Potter por meio do DVD Peter Rabbit e seus amigos, que a Lúcia, minha cunhada escocesa, deu para o Pedro. As histórias do filme são de uma delicadeza encantadora. O Pedro viu muitas vezes o DVD até que cresceu um pouco - acostumou-se à linguagem frenética dos filmes e jogos infantis modernos - e começou a achar o ritmo da narrativa lento. Foi então que descobri na internet A história do Pedro Coelho, o primeiro livro da escritora e ilustradora inglesa editado em formato original no Brasil, pela Lótus do Saber. Encomendei o livro e qual foi a minha surpresa ao recebê-lo: a história que encantou gerações de ingleses e já vendeu 80 milhões de exemplares em todo o mundo é editada em um pequeno livrinho, de 14 cm por 10,5 cm. Mas quando a gente abre o livrinho e começa a lê-lo, encontra uma grande história, daquelas contadas de modo tradicional e ilustrada pela própria autora com delicadas aquarelas. O Pedro ficou vidrado na história do xará coelho, que se mete em uma bruta enrascada ao desobedecer a mãe. Ao fim da história, que ele não queria deixar eu ler por achar infantil demais, o meu Pedro vibrou: "Esta história é muito legal. Pena que é pequena. Mãe você podia comprar outras?". Perguntei o por que ele tinha gostando tanto, ao que respondeu de pronto: "Porque ele se mete em muitas aventuras." Bom... não são bem aventuras, mas tudo é uma questão de ponto de vista.

sábado, 22 de agosto de 2009

De volta à minha casa em Tebas

Minas é um belo capítulo da minha vida. Talvez por isso, eu goste tanto dos livros dos mineiros. Eles falam manso e de coisas que me dizem à alma, como chão, bichos e sentimentos grandes vividos em silêncio. O olhar longo dos mineiros por sobre as montanhas me encanta, desde sempre, me levando de volta para à minha infância e minha adolescência. Não sou mineira, mas poderia ter sido. Meu avô Jacy, nascido em Tebas, um arraial, como se diz lá, distrito de Leopoldina, me deixou de herança o amor por aquela terra. No meio do pomar de nossa chácara, havia uma pedra para lembrar dele e da ligação dos mineiros com sua terra. Todas as vezes que minhas lembranças correm por entre aquelas árvores, paro na frente da pedra para ler sua placa e reafirmar minha ligação com Tebas. "Este pedacinho de chão em que tu cresceste e que tanto amaste, sempre presente para aqueles que te amam". Hoje, Tebas é um lugar na minha memória. Um lugar privilegiado da minha vida. O lugar em que passei belos dias de criança e de adolescente. Talvez por isso, o choque que levei ao ler as duas primeitas frases do belo livro Até passarinho passa, do mineiro Bartolomeu Campos de Queirós, editado pela Moderna. "Nossa casa já não existia. Como tantas outras, ela passou." Nossa casa em Tebas ainda existe, mas não como antes. Para ela não passar em minha vida, nunca mais quis voltar lá. Bartolomeu continua falando da varanda da casa, com galhos de maracujá subindo para o telhado, e a porta da minha memória se abre ainda mais. Assim como eu, o menino do livro sabe a dor de ver o tempo passar. Mas sabe também que isso é inevitável e que ele nada pode fazer a não ser preservar este tempo em sua memória. Assim, eu faço para não perder Tebas da minha vida. Belo livro de Bartolomeu, ilustrado com a delicadeza pedida no texto por Elizateth Teixeira. Não a toa a obra ganhou, em 2003, os prêmios Altamente Recomendável, da FNLIJ, de Literatura Infantil da Academia Brasileira de Letras, e o Hours Concours do Melhor para Criança, da FNLIJ; e, finalmente, em 2004, uma menção honrosa do Prêmio Jabuti. Merecido reconhecimento para um livro que nos dá a oportunidade de falar sem dramas para as crianças sobre as perdas que a vida nos impõem.

domingo, 16 de agosto de 2009

Iguais nas diferenças

Ter dois filhos é um belo exercício de observação do comportamento humano. Afinal, como duas criaturas filhas dos mesmos pais, com a mesma educação podem ser tão diferentes? Esta pergunta todos os pais de mais de um fazem. Mas a fazem com razão. Qual será a estranha equação que aplicada mais de uma vez dá resultado diferente? O Pedro e o Antônio, irmãos no sangue, no nome e nas feições comprovam isso. O Antônio agora, fazendo valer seus direitos de filho, todas as noites vai à estante procurar um livro para eu ou o Cadoca lermos para ele, antes de dormir. Até aí, imita o mais velho. Mas as diferenças começam a aparecer quando deitamos para ler. Com apenas dois anos e quatro meses, ouve toda a história, atento às ilustrações, com a paciência de um pequeno leitor. O Pedro, com esta idade, era um apressado. Queria que eu passasse logo as páginas para ele poder ver as ilustrações. Eu tinha uma estratégia para não perder a história. Lia o livro sozinha para conhecê-la antes de sentar com ele. Assim, eu podia resumí-la na hora da leitura. Lemos, eu e o Pedro, desta forma por algum tempo - talvez uns dois anos - até que ele começou a ter prazer com a espera. Hoje, aos sete anos, reclama quando a história é curta. Já meu pequeno Antônio espera a leitura - tempo que aproveita para curtir as ilustrações e fazer comentários sobre elas - com a curiosidade de um menino grande. Ao fim, ele ainda curte o livro, dormindo agarradinho com ele. Nestes primeiros dias de leitura antes de dormir a escolha campeã do Antônio tem sido Os três porquinhos, o que o aproxima mais uma vez do irmão, que a tinha como sua preferida. Tão diferentes e tão iguais meus dois meninos, que curtiram igualmente, mas em tempos diferentes, o painel/brinquedo que encomendei com a Amanda Nogueira para dar de presente ao Pedro, em seu aniversário de três anos. Acertei em cheio. Agora crescido, Pedro cedeu sua vez para o Antônio que não se cansa de tirar o Lobo Mau e os porquinhos do painel, deixá-los nus e puxar as casinhas. Uma alegria.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A dor de crescer

O título é de impacto. A ilustração também. A história é uma maravilhosa busca na infância de fatos que nos marcam para sempre. É assim que aprendemos a ser gente, não tem jeito. De uma forma seca e poética, Wander Piroli, o escritor mineiro falecido em 2006, nos põe diante do momento em que o menino começa a descobrir seus valores e a forjar sua individualidade, com as dores e a solidão que isso pode representar para uma criança. Pirolli nos leva a pensar ainda que não devemos ter pena de nossos filhos ao vê-los enfrentando suas encruzilhadas. É a superação destes conflitos que nos forjam como seres humanos dignos. Assim foi com o menino, personagem do livro O Matador, ilustrado com precisão cirúrgica por Odilon Moraes e editado com qualidade pela Editora Leitura, no ano passado. O menino percebe quem é ao descobrir o erro de querer ser como todos os outros. O menino percebe seus valores ao não respeitar seus limites e agir como os outros. A tomada de consciência do menino é um momento de dor que ele leva para toda a vida. Um momento que meninos do tamanho do meu Pedro, talvez, ainda não consigam entender sozinhos. Ele ouviu a história e sentiu pena do passarinho, com a justeza de uma criança de um tempo em que bodoque é peça de museu. Eu sofri com o menino por trazer na memória, como ele, as escolhas e os erros que me fizeram ser a mulher que hoje sou. Foi isso que tentei falar para o meu Pedro, que nós erramos ao não respeitarmos nossos limites e valores e os sentimentos dos outros. Mas que estes erros, todos cometemos um dia. O que nos resta é o arrependimento.