sábado, 22 de agosto de 2009

De volta à minha casa em Tebas

Minas é um belo capítulo da minha vida. Talvez por isso, eu goste tanto dos livros dos mineiros. Eles falam manso e de coisas que me dizem à alma, como chão, bichos e sentimentos grandes vividos em silêncio. O olhar longo dos mineiros por sobre as montanhas me encanta, desde sempre, me levando de volta para à minha infância e minha adolescência. Não sou mineira, mas poderia ter sido. Meu avô Jacy, nascido em Tebas, um arraial, como se diz lá, distrito de Leopoldina, me deixou de herança o amor por aquela terra. No meio do pomar de nossa chácara, havia uma pedra para lembrar dele e da ligação dos mineiros com sua terra. Todas as vezes que minhas lembranças correm por entre aquelas árvores, paro na frente da pedra para ler sua placa e reafirmar minha ligação com Tebas. "Este pedacinho de chão em que tu cresceste e que tanto amaste, sempre presente para aqueles que te amam". Hoje, Tebas é um lugar na minha memória. Um lugar privilegiado da minha vida. O lugar em que passei belos dias de criança e de adolescente. Talvez por isso, o choque que levei ao ler as duas primeitas frases do belo livro Até passarinho passa, do mineiro Bartolomeu Campos de Queirós, editado pela Moderna. "Nossa casa já não existia. Como tantas outras, ela passou." Nossa casa em Tebas ainda existe, mas não como antes. Para ela não passar em minha vida, nunca mais quis voltar lá. Bartolomeu continua falando da varanda da casa, com galhos de maracujá subindo para o telhado, e a porta da minha memória se abre ainda mais. Assim como eu, o menino do livro sabe a dor de ver o tempo passar. Mas sabe também que isso é inevitável e que ele nada pode fazer a não ser preservar este tempo em sua memória. Assim, eu faço para não perder Tebas da minha vida. Belo livro de Bartolomeu, ilustrado com a delicadeza pedida no texto por Elizateth Teixeira. Não a toa a obra ganhou, em 2003, os prêmios Altamente Recomendável, da FNLIJ, de Literatura Infantil da Academia Brasileira de Letras, e o Hours Concours do Melhor para Criança, da FNLIJ; e, finalmente, em 2004, uma menção honrosa do Prêmio Jabuti. Merecido reconhecimento para um livro que nos dá a oportunidade de falar sem dramas para as crianças sobre as perdas que a vida nos impõem.

Um comentário:

Anna Carla Lourenço do Amaral disse...

Um meme pra vc!
http://cadernodecabeceira.wordpress.com/2009/08/25/meme-e-assim-que-se-fala/