quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Para falar de Deus...

A criação, do belga Bart Moeyaert, editado pela Cosac Naify, foi um dos meus erros que, tempos depois, acabou em acerto. Eu comprei o livro há uns três anos e, claro, o Pedro não gostou. Ele, na época, com cerca de cinco anos e nenhuma cultura religiosa, boiou na história do homem apequenado diante de Deus criando o mundo e todos os seres. O humor fino do texto de Bart, com certeza, não disse nada para aquela criança alheia ao mundo cristão. O livro voltou à estante e ficou esquecido por lá até semana passada, quando resolvi tentar mais uma vez sua leitura. Agora deu. O Pedro prestou uma bruta atenção na história do homem diante da criação. O texto de Bart e as ilustrações do alemão Wolf Erlbruch têm um humor refinado para tirar o homem do lugar passivo que as religiões sempre lhe reservaram. O primeiro homem criado por Deus não deixa de ser perplexo, mas tem uma postura crítica diante daquele ser poderoso, que tudo pode e faz. "Deus (...) por que você criou primeiro a luz, e só depois o Sol? Não devia ser o contrário? Não devia ter sido ao mesmo tempo? Pensando bem, será que valeu a pena? Você não se arrepende?", pergunta o homem para um deus em fim de criação. Confesso que gostei deste homem abusado que não fica intimidado diante de nada e não se deslumbra com sua semelhança com Deus. "Confesse de uma vez: eu fui um erro!" Pois é, uma ótima leitura para mães agnósticas e em dúvida sobre a existência de Deus, como eu, apresentarem para os filhos à guisa de educação religiosa.