quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Dez livros para crianças de até cinco anos

Vou postar aqui a lista de 10 livros que recomendei, no site Catraquinha, para crianças de até 5 anos. Como disse lá, a indicação etária é apenas uma sugestão. É preciso avaliar individualmente a maturidade de cada criança para determinadas leituras. A leitura sozinha, por exemplo, requer mais maturidade do que aquela feita com a mediação de um adulto. Portanto, antes de comprar um livro, o folheie na livraria para ver se ele está adequado a criança a que se destina. Todos esses livros estão aqui comentados. Quem quiser saber um pouco mais deles, procure-os no blog. No mais, divirtam-se lendo para as crianças. 

livros_para_criancasA Arca de Noé, de Vinícius de Moraes, é uma ótima iniciação na poesia. Os belos poemas de Vinícius para crianças falam não apenas de bichos, mas de coisas do cotidiano e de amor e podem ser acompanhados em suas versões musicadas. A Cia das Letrinhas tem duas edições: uma ideal para crianças menores, ilustrada por Nelson Cruz, e outra, com desenhos de Laura Beatriz.

livros_para_criancasAmigos e Os Aventureiros, do alemão Helme Heine, editados pela Ática, são livros que falam com humor e lirismo da amizade de três amigos que curtem juntos aventuras, brincadeiras e o ócio. Uma narrativa encantadora que faz as crianças se imaginarem no lugar do galo Juvenal, do porco Valdemar ou do rato Frederico. Destaque para as delicadas aquarelas do autor.

livros_para_criancasAperte aqui, de Hervé Tullet, editado pela Ática, convida as crianças a apertarem, virarem, balançarem e chacoalharem o livro, reproduzindo nas duas dimensões da folha impressa os jogos virtuais de computadores e tablets de que as crianças tanto gostam. Uma prova de que o virtual não é um produto apenas das plataformas digitais, mas, sobretudo, da imaginação humana.

livros_para_criancasAs aventuras de Pedro Coelho, de Beatrix Potter, da Cia das Letrinhas, reúne quatro dos 23 contos da inglesa, que, no início do século passado, criou um rico universo campestre por onde circulam coelhos, patos, esquilos, texugos, raposas e outros bichos. A narrativa das histórias tem o ritmo do campo e as ilustrações, delicadas aquarelas da própria autora, fazem dos livros um encanto.

livros_para_criancasDez sacizinhos, de Tatiana Belinky, editado pela Paulinas, é a versão da autora para o tangolomango, aquela brincadeira falada que se começa de 10 para criar uma lengalenga em um ritmo decrescente que envolve a criança na mágica da subtração. Tatiana foi nas matas brasileiras buscar o Saci para criar sua história, que ganhou inspiradas ilustrações de Roberto Weigand.

livros_para_criancasEstela, de Marie Luise Gay, é uma série de livros editados pela Brinque-Book que encanta as crianças. O mundo de Estela nos é apresentado pelas delicadas aquarelas da autora, que mostra o despertar das crianças para as coisas da vida por meio de divertidos diálogos da menina com seu irmão mais novo, Marcos, dono de Fred, um esperto cãozinho que dá ainda mais sabor às histórias.

livros_para_criancasOnde vivem os monstros, de Maurice Sendak, editado pela Cosac Naify, conta em texto e imagem a história de Max, menino que, castigado pela mãe, embarca em uma viagem imaginária à terra onde vivem os monstros. Uma viagem que dá ao pequeno leitor inúmeras possibilidades de dialogar com seus medos, desejos, fantasias e ansiedades. O livro é lindo e um clássico.


livros_para_criancasPé de cobra, asa de sapo, de Rafael Soares de Oliveira, pela Ática, é uma ótima iniciação no mundo dos seres mitológicos. Rafael apresenta em 38 quadrinhas mitos de origens diversas, em textos divertidos. As ilustrações de Jean Galvão contribuem para que a leitura seja estimulante e cheia de descobertas. Ao fim, o autor presenteia o leitor com um glossário sobre os mitos de que falou.

livros-para-criançasSelvagem, de Emily Hughes, da Pequena Zahar, conta com ilustrações vibrantes e texto divertido a história de uma menina selvagem, criada na floresta com a ajuda de animais, e seu primeiro contato com os humanos. Uma história que fala de uma infância feliz e livre e tem tudo para criar identificação com as crianças.


livros_para_criancasTer um patinho é útil, da argentina Isol, editado pela Cosac Naify, mostra em forma de sanfona que tudo na vida tem dois lados. O livro propõe uma inteligente brincadeira com a criança, convidada a desenrolar a sanfona de um lado para conhecer a história do menino com o patinho e do outro, a do patinho com o menino.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Um convite para olharmos para quem nunca é olhado

Nos últimos dias, eu e o Pedro estamos lendo juntos Capitães da Areia, de Jorge Amado. O livro, que teve sua primeira edição em 1937 e suscitou a ira da elite baiana, que o queimou em praça pública, está fazendo o Pedro dormir mais tarde todos os dias à espera de mais e mais da turma de Pedro Bala. Ele luta até quando pode contra o sono, que teima em o levar para longe das areias de Salvador, e se emociona a cada nova aventura dos meninos desvalidos de quem Jorge Amado nos fala. Uma leitura que está fazendo o Pedro romper a invisibilidade que meninos pobres negros ou pardos sofrem neste país desde os primeiros dias da República. O mérito do livro não é nos fazer desculpar os crimes cometidos pelos Capitães da Areia. É nos fazer enxergar cada um desses pequenos delinquentes como um indivíduo dono de uma história, de uma carência, de uma dor e, por fim, de uma valentia exercida nem sempre para o bem. Mas quem fez o bem para aqueles meninos? Pois é, a literatura de Amado nos tira das sombras que faz com que os brancos sempre-no-comando classifiquem meninos pobres negros ou pardos com o mesmo rótulo: “marginais”. Ele apresenta um a um dos Capitães da Areia e, assim, nos faz pensar neles como pensamos em nossos filhos ou em nós mesmos. Eles são meninos, mas meninos abandonados pela família e rejeitados por todos, que não tiveram oportunidades, amor e acolhida. Meninos que, se tratados como meninos, podem ser como qualquer outra criança ou adolescente. Mas não são tratados como meninos. São tratados como bichos, como pessoas mal queridas e mal chegadas. Mas eles são meninos que sonham com uma família, com um deus bondoso, com comida, com o calor de uma boa cama, enfim, com uma vida que lhes é negada com a violência do desprezo de quem a tem. Este é o mérito do livro, colocar meninos pobres negros ou pardos em cima de um carrossel e fazê-los girar, girar e girar para permitir a eles um pouco do encantamento da infância a eles negada. Jorge Amado denuncia a invisibilidade que os pobres amargam neste país. Uma invisibilidade que só nos fica clara quando olhamos de perto, bem de perto para cada um deles. E foi neste exercício de olhar que o Pedro embarcou e está acompanhando com toda a sua emoção a história. “Mãe, este é o melhor livro que li na minha vida”, disse, fazendo a ressalva de que a história é muito tensa. “Imagina, fazer um manco correr e bater muito nele por que ele não consegue correr mais”, completou, referindo-se às torturas que o Sem-pernas sofreu no reformatório. O olhar que o Pedro está voltando para os meninos de Jorge Amado faz com que ele possa se colocar no lugar deles e, isso, o confunde. Como alguém piedoso como Pirulito pode enfiar uma faca no pescoço de um outro menino? Como Pedro Bala tão valente e amigo no comando do grupo pode as vezes ser tão cruel? Como meninos que tanto sofrem, fazem tantas pessoas sofrerem? Pois é, estas perguntas tiram o Pedro do lugar de conforto que ele vive. De menino amado, querido, acolhido, cuidado e provido e o fazem desejar uma solução para tanto sofrimento. É neste exercício de colocar-se no lugar do outro e de voltar a si depois dessa experiência que está a riqueza da literatura. Se não quero para mim, não quero para os outros. É neste diálogo com o outro que podemos construir nossa identidade e, em uma realidade de tantas conexões superficiais, encontros com o mundo dos Capitães da Areia são ainda mais ricos. Encontros como estes são capazes de mexer e remexer com a emoção de quem está do outro lado do mundo daqueles desvalidos das areias. Não importa se esses meninos foram criados há quase um século por um escritor que já nos deixou. O que importa é que os Capitães da Areia, infelizmente, ainda são nossos contemporâneos e Jorge Amado nos convida a olhar para eles. É justamente neste convite de olhar para quem nunca foi olhado que reside a contemporaneidade do livro escrito há quase um século, mas que se mantém jovem o suficiente para encantar um menino de 13 anos.