terça-feira, 30 de agosto de 2011

Os meninos e seus amados e temidos cachorros

Vamos combinar que cachorros são o grande barato de nove entre dez crianças. Essa uma que não gosta deles, com certeza, é aquela mesma que tem medo de cães. Todo mundo gosta de um cãozinho, mesmo que não os queira. Pois assim é aqui em casa. Eu amo os setters, tanto o inglês, quanto o irlandês; o Cadoca faz parte daquele grupo que adora o cachorro dos outros e que esse outro, de preferência, não seja o vizinho; o Pedro ávido para ter um, gosta de qualquer um; e o Antônio, com seus quatro aninhos, prefere os pequenos que não o assustam. Mas há quem, como Leonardo, personagem de Wolf Erlbruch, queira ser um. As razões podem ser várias. Mas a de Leonardo é a mais legítima. Nada melhor do que ser um cão para não ter mais medo deles. Será? É disso que Erlbruch, esse escritor/ilustrador alemão telentosíssimo e super premiado, fala em Leonardo, que no Brasil foi editado pela Companhia das Letrinhas. O livro veio parar aqui em casa há quatro anos por meio da ciranda de livros da sala do Pedro. Veio, foi lido e adorado e voltou para a escola. Agora, com o medo que o Antônio tem de cachorros grandes, resolvi procurá-lo para uma nova leitura. Foi um sucesso! O Pedro adorou, o Antônio ouviu super atento e nos divertimos um bocado especulando sobre quem ia se transformar em cachorro. Será que você toparia?

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Quer ouvir um segredo?

O fim de semana aqui em casa foi de jejum de histórias. Os meninos foram dormir tarde demais para eu  ainda ter energia para ler para eles. Fui dormir sobre protestos dos dois que nunca acreditam nas minhas ameaças de não ler história, caso eles não se deitem cedo. Por isso, ontem, assim que falei em dormir o Antônio se postou em frente à estante para escolher o de sempre, nos últimos dias: as versões da Disney para clássicos como O Pedro e o Lobo e Os Três Porquinhos. Apesar de parecer irredutível em suas escolhas, eu consegui ler, no contrabando, o que ele trouxe da Ciranda de Livros da escola. O monstruoso segredo de Lili, de Angelika Glitz, editado pela Brinque-Book, é uma graça. O segredo de Lili é uma das delícias da infância e a história ganha cores delicadas e alegres nas belas  ilustrações de Annette Swoboda. Ele não queria ouvir a história de jeito nenhum, mas minha insistência deu certo. No meio do livro  já estava ouvindo e perguntando o porquê de se falar baixinho quando o assunto era um segredo. A resistência contra Lili é a mesma que faz o Antônio, nos últimos tempos, se negar a ouvir quase tudo que escolho ou trago para ele. Ele quer fazer suas escolhas em tudo na vida e resiste em abrir mão delas, mesmo diante de novidades e novas possibilidades. Já o Pedro não pode ver um livro novo na estante que pede para que eu o leia. É assim também com os livros da ciranda do irmão mais novo. Todas as semanas, Pedro pega uma carona nos livros trazidos pelo Antônio da escola. O monstruoso segredo de Lili agradou. Ele ficou com aquele sorriso de quem está crescendo, mas sem perder a ternura. Que a vida o guarde assim!

sábado, 6 de agosto de 2011

Para gostar de ler poesia

Eu era ainda uma adolescente quando conheci Castro Alves e a grandeza de sua poesia romântica que falava de um povo a ser liberto e um mundo a ser construído. Me apaixonei por essa verve tão intensa, apesar de ter nascido quase 100 anos após sua morte precoce por tuberculose. Depois dele veio João Cabral de Melo Neto, com seu auto Morte e Vida Severina. A maioria deles me chegou pela escola ou pelas mãos de minha mãe, que sabia que eu estava me encantando pela poesia. Na minha casa esse era um gênero inexistente. Minha mãe sempre foi uma leitora voraz, mas poesia nunca fez parte de seu cardápio. A poesia me ligava à minha bisavó, Maria da Silveira, que tinha vivido os saraus do início do século XX. Ela gostava de saber que eu me encantava pelos poetas, o que fez sua filha, minha avó, após sua morte, me dar alguns de seus livros de poesia, entre eles Estrela da Vida Inteira, de Manoel Bandeira. Esse gosto, no entanto, nunca cruzou mares. Sempre fiquei entre os poetas brasileiros. Minha ousadia maior foi Fernando Pessoa. Conheço muito pouco mesmo da poesia americana ou europeia. O pouco que li, não me seduziu. Aí me pergunto se o problema é eu ler poesia traduzida. A tradução, desconfio, faz muito da beleza pretendida pelo poeta desaparecer. Mas reconheço que, apesar disso, tem muita coisa boa a ser lida nas prateleiras das livrarias. Por isso, não titubeei em comprar Ri melhor quem ri primeiro (Poemas para crianças e adultos inteligente), de José Paulo Paes, pela Companhia das Letrinhas. O livro traz uma seleta de poemas escolhidos e traduzidos por Paes para ser apresentada para leitores jovens ou inexperientes na poesia em língua não portuguesa, como eu. O poeta, ensaísta e tradutor dedicou parte de seus últimos anos escrevendo para crianças e divulgando a obra  de seus pares para este público normalmente tão esquecido pelos literatos. Paes, neste livro,  um de seus últimos projetos, reúne 31 poemas de origens linguísticas e temporais diferentes que servem como um resumido cenário da riqueza que o gênero pode ter. "A senhora esperava o ônibus./ O senhor esperava o ônibus./ Passa um cachorro preto que manca./ A senhora fica olhando o cachorro./ O senhor fica olhando o cachorro./ Nesse meio tempo o ônibus passou.", do surrealista francês Raymond Queneau, é um bom exemplo do que Paes traz para adultos e crianças que estejam dispostos a embarcar nessa viagem. Mas como diz Queneau, é preciso fazer sinal para o motorista. Paes já fez para nós, só nos resta topar a brincadeira.