segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Sobre o uso das telas, excessos e limites

As férias escolares não têm sido um tempo fácil aqui em casa. Depois de uma espera de quase um ano, os meninos ganharam o tão desejado PS 4, que tem feito a minha desgraça nesses dias que ficam entre o Natal e a volta às aulas. Eles jogam todo e quase todo o dia, brigam pela divisão do tempo e só desgrudam do console quando vamos ao clube ou à praia. Mas nem isso tem sido fácil aqui no Rio, que está passando um verão úmido, com dias nublados ou chuvosos que se estranham com as opções de lazer dessa cidade. Então, não há mais desculpas para não jogar Play Station. "Estamos de férias e férias é um tempo para dormir tarde e fazer o que se quiser." Esse é o discurso quase decorado dos dois, que têm ido dormir já de madrugada. O resultado é que, no dia seguinte, não há rotina, o que complica muito para mim e para meu marido. A solução tem sido confiscar os controles e os dispositivos digitais na hora que vamos dormir e deixá-los em ter o que fazer na madrugada. Isso tem nos garantido silêncio na hora de dormir e um pouco de paz de espírito e mais horas de sono para essas crianças boêmias. O Antônio, que sempre gostou de um aconchego e uma história à noite, passa dias sem ler um livro e sem pedir para ser embalado por nossos carinhos. O Pedro, se deixar, dorme às cinco da manhã consumido por jogos e conversas on line com os amigos. Uma realidade de assustar que me fez tomar uma decisão: em dias de aula, o PS 4 só sairá do armário em horas determinadas e nos fins de semana. Uma medida radical para garantir que o mais velho, já no nono ano do fundamental, estude e o mais novo brinque com seus amigos. Brincar de verdade. Aquelas brincadeiras de bola, que causam atritos corporais e verbais e que fazem a alegria de qualquer molecote de oito anos. Mas não basta guardar o PS 4, é preciso ainda impedir o uso do celular do IPod do IPed, da TV e da Netflix. Um desafio e tanto, que nos faz pensar em como limitar o uso desses dispositivos em um mundo totalmente conectado, como o que vivemos. Quanto tempo de nosso dia nós, adultos, passamos no celular, no computador ou usando outros dispositivos eletrônicos? Não sei ao certo, mas muito e, com certeza, o suficiente para nossas crianças nos imitarmos. Quando nos damos conta de como esse mundo digital nos consome, vemos o quanto perdemos do tempo antes dedicado aos momentos de solidão, de leitura, de reflexão, de organização de nossa casa, armário, escrivaninha ou de lazer, simplesmente lazer. Quantas vezes vamos ao cinema e flagramos alguém navegando na internet durante o filme? Quantas vezes nos desligamos de uma conversa real para nos conectarmos em uma conversa virtual? E nossos filhos, quantas vezes nos veem ignorá-los para rir de piadas batidas que circulam pelo facebook ou outras redes? Tantas, tantas e tantas que já não é raro ver um amigo anunciar que vai dar um tempo do facebook. E o Whatsapp? Esse é o pior, com seu apito a toda hora nos tirando a atenção de nossas tarefas, conversas, leituras, filmes ou qualquer outra atividade da vida. Mas também é preciso admitir que desligar todos esses dispositivos não é a solução para quem está no mundo produtivo, em que a circulação de informações se impõe como uma rotina necessária. O que precisamos encontrar é o equilíbrio. Estar no mundo digital, sem tirar o pé do mundo real. Esse tem sido meu desafio nos últimos anos, mas, confesso, que nem sempre estou no comando desse jogo. Agora, por exemplo, é um momento em que estou vencida pelo mundo do áudio-visual. Só não estou mais porque o Antônio está em um sítio cheio de amigos, onde não há nem mesmo telefone. Mas a trégua dura pouco. Ele chega hoje e já estou antevendo meus dois meninos grudados nas telas para passar estes dias que restam das férias, o que me faz lembrar um livro da argentina Isol. Intercâmbio cultural, editado pela Fondo de Cultura Economicaconta a história de um menino viciado em TV que troca de lugar com um elefante africano. Enquanto o menino vive aventuras reais, o elefante vai sendo abduzido pela TV. As semelhanças com a realidade, vividas por personagens tão bizarros, faz do livro um encantador lembrete de que não podemos desligar o alerta nunca, sob pena de nossos filhos se transformarem em mais um elefante hipnotizado pela TV.