quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Na cama da mamãe e do papai também

Uma feliz coincidência fez com que o Antônio trouxesse da escola, na sexta-feira, o livro A cama da mamãe, de Joi Carlin, com ilustrações de Morella Fuenmayor. A história de três irmãos que se aboletam na cama da mãe para brincar, imaginar novos mundos ou mesmo conversar caiu como uma luva para ser lido depois de Posso dormir com você?, de Graziela Bozano Hetzel. O Antônio, grudadinho em mim, adorou ouvir as inúmeras possibilidades de vida que existem na cama da mamãe e, diga-se de passagem do papai também. Já o Pedro, mais velho e mais ranzinza, reclamou que eu não deixava ele montar cabanas com o Antônio na minha cama. Coitadinha de mim e do Cadoca, nossa cama, mais parece um mafuá. Tem criança, gato e bagunça quase todo o tempo sobre ela. Não raro aparece alguém, no meio da noite, querendo dormir conosco. Aí, sim, nos dá uma saudade de tempos antigos em que tínhamos uma cama com lençóis limpinhos e esticadinhos, que ficavam nos esperando o dia todo sem pressa. Mas com certeza, aquela cama não tinha o calor humano que a nossa tem hoje. Acho que, noves fora, acabamos no lucro. Enfim, A cama da mamãe é uma bela escolha da Salmandra, que apostou na tradução luxuosa de Ana Maria Machado para valorizar a história da canadense Join Carlin.
PS: Lendo este post quase dois anos depois, vi a injustiça que cometi ao não falar nada da cama do meu pai e da minha mãe. Aí sim é que a coisa era punk. Somos três irmãos, com uma diferença de um ano e dois meses de um para o outro, que fazíamos da cama dos nossos pais palco para nossa brincadeiras e maluquices, como fazê-la de ringue de Telecatch Montilla. Como na luta-livre que fazia sucesso no fim dos anos 60 não havia mulheres, eu passei a ser a Índia Paraguaia, uma adaptação do Tigre Paraguaio, e meus irmãos o mocinho Ted Boy Marino e o vilão  Rasputin Barba Vermelha. Tudo isso assistido e apitado pelo meu pai. Tinha dias que a brincadeira era o meu pai fazer cosquinha na gente, até quase fazermos xixi nas calças. Coitada da minha mãe! Não era raro fazermos xixi nas calças e, o que é pior, quebrarmos o estrado da cama. Quando isso acontecia, meu pai, com cara de santo, propunha trocar de lugar com ela na cama e, minha mãe, sempre incrédula, aceitava. Era o maior fuzuê quando ela constatava a razão da troca. havia também os dias mais calmos, em que nos empoleirávamos na cama para fazer cosquinha nas costas uns dos outros. Nessa hora, a briga era para saber quem tinha sido o mais beneficiado. Quase sempre era a minha mãe! Bons tempos em que pudia fazer tudo isso e, depois, voltar para meu quarto e deitar-me na minha cama, quentinha, limpinha e com os lençóis esticadinhos. Nada melhor do que a cama do papai e da mamãe!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Uma noite de sombras, medo e aconchego

Confesso que ultimamente tenho um prazer enorme em encontrar livros legais para a faixa etária do Antônio. Coisa que não é muito fácil, apesar da enorme oferta que encontramos de títulos nas livrarias que tratam de formas, cores, comidas, comportamento e outros didatismos. O que quero são boas histórias que gente pequena, como o Antônio, possa entender e se identificar ou mesmo livros que falem das coisas do mundo - como formas, cores e comidas - com ludismo e criatividade. A tarefa é difícil, por isso o prazer que sinto ao encontrar um livro como Posso dormir com você?, da Graziela Bozano Hetzel, editado com capricho pela Manati e ilustrado com inspiração por Mateus Rios. O ilustrador vale um comentário à parte. Mateus Rios tem apenas 29 anos e uns poucos na estrada da literatura infantil. Mas suas ilustrações são muito bacanas e criam um belo diálogo com o pequeno leitor. Ele recria o mundo, criado por Graziela, com áreas de sombra para a imaginação do leitor correr solta pelo quarto do menino. A história segue a tradição dos contos de acumulação, em que as ideias vão se somando às outras e sendo repetidas até o desfecho do enredo, para falar do medo de um menino, que, no meio da noite, pede à mãe para dormir com ela. Igual ao Antônio, ao Pedro e a milhões de crianças em todos os cantos do mundo, que pedem socorro à mãe para enfrentar seus fantasmas noturnos. O mérito maior de Grazilea não é, no entanto, falar de um fato comum às mães e às crianças, mas tratar dele com lirismo e doçura, que nos leva a abraçar nossos meninos no fim da história. E, mesmo sem toda esta certeza, lhes prometer que eles sempre poderão ir domir conosco na hora do aperto.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um belo diálogo com a imaginação

Eu e o Pedro acabamos de ler Felpo Filva, de Eva Furnari, editado pela Moderna, e nos divertimos de montão. O livro é uma grande sacada da autora, que tem o humor como uma de suas marcas. O coelho Felpo é um poeta introvertido, complexado e soberbo até que encontra Charlô, uma fã sincera em suas críticas e criativa em suas sugestões. Felpo, a princípio, fica irritadíssimo com a intromissão de Charlô, mas acaba se dobrando à coelhinha. Uma bela história, cheia de humor e criatividade que aproveita para apresentrar às crianças variados tipos de texto, como poema, carta, fábula, conto de fadas e outros mais. Eva Furnari faz isso, juro, sem nenhum didatismo e cria um belo diálogo com a imaginação da criança. O meu filho ficou atento até o último ponto do texto inspiradíssimo de Eva. O Pedro adorou e eu também. Ele riu um bocado e se encantou com as brincadeiras que Eva faz em um longo post scriptum para explicar tim-tim por tim-tim os vários tipos de texto usados na narrativa. Para melhorar, a gente ainda tem as belas ilustrações da autora para compor um Felpo com cara de intelectual e uma charmosa Charlô. Um livro para ler e reler.