segunda-feira, 28 de junho de 2010

Quem é o cara?

"Eu sou o cara! Você é o mané!" Com esta provocação o Pedro, outro dia, torturou o Antônio que, a princípio, aceitou estar em desvantagem e depois ficou furioso ao perceber que o irmão não queria trocar de lugar com ele. "Eu não quero ser o mané! Eu sou o cara!" Não adiantou. O Pedro, aproveitando-se de ser o mais velho, insistia que ele era o cara e o outro o mané. A coisa ficou de tal forma, que os dois quase se embolaram para ver quem era o cara e quem era o mané. Com esta disputa fresca na memória, me chamou a atenção o livro Quem é o chefe?, de Jesse Goffin, no estande da WMF Martins Fontes, 12º Salão do Livro Infanto-Juvenil, realizado este mês, no Rio. O livro conta a disputa de dois homens - idênticos, por sinal - a bordo de um navio para saber quem é o chefe. Os dois vão desfiando suas qualidades até que o navio encalha e eles têm que fugir em um patinho de borracha. Quando estamos todos no mesmo barco, pouco importa quem é o chefe, não é? O Pedro assentiu e adorou. O Antônio não quis nem mesmo prestar a atenção. Tentei mais de uma vez, mas ele não queria saber quem era o chefe até que mandei o livro para a escola. A professora dele, contou a história para as crianças que adoraram. Elas encontraram uma saída diferente para o livro. Decretaram, sem titubear, que o chefe do Grupo 3 não estava entre elas. Era professora. Não deixa de fazer sentido...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A magia da imaginação

Comprei o livro Obax, de André Neves, editado pela Brinque-Book, e fiquei muito impressionada com a beleza plástica de suas ilustrações. Sou fã do trabalho de André, o autor/ilustrador, mas Obax realmente me surpreendeu. Como um traço tão preciso, tão contido na perfeição, pode traduzir tanta emoção? Digo preciso e contido por não achar melhor adjetivo para o desenho de André. Tenho medo de falar que ele é racional e ofender o artista. Longe disso. Meu poeta preferido é o João Cabral de Melo Neto, conterrâneo do autor. A poesia de João Cabral, avessa ao sentimentalismo, é inspiradora pela beleza que produz. O desenho de André é assim. Avesso às facilidades da inspiração, mas rico de sentimento.Lamento não ter mais elementos para descrever a sensação que as ilustrações de Obax me causam. Uma bela história sobre a magia da imaginação, ambientada em um continente com muita coisa ainda a ser descoberta. Obax, como alerta o autor na última página do livro, não é um reconto de um conto africano. É fruto de sua curiosidade sobre a geografia e os costumes do Oeste Africano. Belo exercício de imaginação de André Neves que cria uma África à semelhança das histórias de Obax. Uma África que existe sem existir.
PS: Escrevi para o André Neves e ele me respondeu hoje (dia 16 de junho) assim. " Oi, Luciana, acabo de chegar de viagem, Além do Rio, fui para outra cidade no interior do Rio Grande do Sul. Estou muito feliz com resultado de Obax. Aprendi muito fazendo este livro e vou procurar exercitar esse aprendizado nos outros, em busca de uma qualidade total. Entendi todas suas palavras e sensações para o livro. E ter essa riqueza de sentimento de que você falou como resposta, já valeu a pena.Usei técnica mista para compor as imagens, isto é, vários materiais. Porém a tinta base é a acrílica. Pesquisei o Oeste Africano. Ainda existem aldeias assim, sabia? Onde as mulheres são responsáveis pela decoração das casa, pintando com tintas coloridas.A história é ficção, toda questão africana está na composição gráfica para o livro."

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Toda criança quer ser Píppi

Píppi Meia Longa é a mais nova paixão do Pedro. Ele adorou a história da menina que vive sem pai, nem mãe em companhia de um cavalo e de macaquinho em uma casa que leva o estranho nome de Vila Vilekula. Píppi é o desejo de toda criança. Ela é destemida, forte, engraçada, inteligente e, o que é melhor, dona de seu nariz. Píppi faz o que quer.  E o querer de Píppi é o querer de qualquer criança. Esta independência, aliada à total falta de noção de Píppi, garantem passagens hilariantes à história criada há 65 anos pela escritora sueca Astrid Lindgren, como um presente para a sua filha, então com 10 anos. A beleza do livro, no entanto, não está apenas no humor e na liberdade de uma menina que chocou a sociedade sueca em seu lançamento. Ele traz uma menina de verdade, que muitas vezes, diante do espanto do mundo dos adultos com seu seu comportamento, revela suas fragilidades. A força de Píppi está justamente em driblar suas fraquezas. A maior delas, com certeza, é a falta que o pai e a mãe lhe fazem. "Se você tem uma mãe que é um anjo e um pai que é o rei dos canibais, e se você passou a vida inteira navegando mar afora, acaba não sabendo direito como se comportar na escola, no meio de tanta maçã e de tanta iguana...", diz Píppi a uma irritada professora com a total inadaptação da menina à escola, uma das instituições mais repressoras da sociedade moderna. Tudo isso é dito sem pieguismo e contribui para a certeza que o leitor vai construindo ao longo da história de que Píppi é uma menina especial. Especial por lidar com suas inseguranças com o poder da imaginação. Imaginação que pode criar um menino chinês, chamado Pedro, isso mesmo, Pedro, que morre de fome por negar-se a comer de maio a outubro; ou uma empregada maravilhosa que, apesar disso, tem todos os defeitos que as mulheres conseguem encontrar em suas serviçais. Com todas estas qualidades, Píppi nasceu para fazer a felicidade de crianças e de adultos, que ainda sonham com as delícias de um pão com manteiga recheado de açucar, e tornar sua criadora uma revolucionária escritora de livros infanto-juvenis. Astrid, que até então era uma jornalista, tornou-se com Píppi uma autora de muito sucesso, que produziu em seus 94 anos de vida mais de 80 livros publicados. Depois de sua morte, o Governo Sueco criou o Prêmio Astrid Lindgren para a literatura para jovens e crianças. É o mais valioso prêmio existente no mundo para a LIJ, que a nossa Ligya Bojunga recebeu em sua segunda edição. Pena que, no Brasil, Astrid e Píppi sejam quase desconhecidas. Eu, por exemplo, soube da existência delas pela mãe da Marie, uma coleguinha do Pedro, que é belga e tem Píppi entre suas memórias de infância. Por aqui, apenas a trilogia de Píppi e Os irmãos coração de leão ganharam traduções, todas pela Companhia das Letrinhas. Mas eu e o Pedro, que, como todo mundo, adoramos Píppi, já estamos nos preparando para ler Píppi à bordo e de Píppi nos mares do sul.

domingo, 6 de junho de 2010

Cadê o patinho que estava aqui?

Dez patinhos, de Graça Lima, editado pela Companhia das Letrinhas, é um livro que vale a pena. O Antônio, que ainda se embola para contar até 10, se diverte com a história da caminhada dos 10 patinhos. A primeira coisa que ele quis ver ao abrir o livro é onde estava a mãe dos patinhos. Achou apenas na página de rosto, onde a autora desenhou pequenos patinhos com sua mãe sobre a dedicatória para os verdadeiros 10 patinhos. Depois sua diversão foi dar seu nome e do irmão a um dos patinhos. É difícil passar a página com ele, a cada uma delas, se procurando entre os patinhos. "Esse é o Antônio". Feito isso, página virada, a gente se deleita com a criatividade de Graça no tangolomango que marca sua estreia como autora de texto e imagem. Ela cria belas ilustrações para narrar a aventura de 10 patinhos em uma caminhada em que a cada página um vai ficando para trás, até finalmente achar a mamãe pata. A capa já é uma mostra do que vai acontecer lá dentro. Aparecem só nove patinhos. O décimo está voando na falsa guarda do livro, onde ele aparece sozinho. Na contra-capa, grudado por dentro, tem uma surpresa para a criançada. Um jogo de tabuleiro em que os patinhos têm que vencer vários obstáculos para disputar com seus irmãozinhos quem vai chegar primeiro.