domingo, 28 de junho de 2009

A magia de se virar em vida

O Pedro me pediu para falar do livro Vira, vira, vira Lobisomem, de Lúcia Pimentel Góes, com ilustrações de André Neves e edição da Paulinas. Ele adorou a história. Quando cheguei com ela em casa, me pediu para ler duas vezes, depois levou o livro para o banheiro e, com sua leitura ainda claudicante, leu sozinho. Ao fim, o botou de baixo do braço e foi para a escola mostrar a novidade para seus amigos. A história ganhou o imaginário do Pedro com justiça. Lúcia fala de vida, amadurecimento e morte de uma forma mágica e poética, que convida a criança a ser uma testemunha especial da passagem de Lobisô pela vida. O personagem a cada sete anos se transforma em um outro bicho e, depois, volta à sua condição de homem. "Conheceu o peso dos anos, a força da vida, teve filhos, lutou pelos homens. Amadureceu. Não se assustava mais com as mudanças... Agora as esperava", diz Lúcia de seu Lobisô, que, apesar do nome, nunca se transforma em lobisomem. Mas aos 70 (10 x 7) ele vira borboleta e nunca mais desvira. É a forma cheia de magia que Lúcia achou para falar da morte. E para agradar ainda mais a meu menino, ela pontua cada período de sete anos da vida de Lobisô com uma equação matemática - que o Pedro adora. "Quando Lobisô fez 14 anos (2 x 7)", segue a autora na narrativa. Belo livro que fala da magia da vida para quem ainda está no início da tabuada, com 7 anos (1 x 7).

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Histórias para pequenos amantes de bichos

O Pedro sempre gostou mais de brincar com bichos do que com carrinhos. Ele tinha uma coleção de bichos que começou com as vaquinhas e cavalinhos de uma fazendinha, cresceu com os selvagens leões, trigres e outras feras e terminou com os dinossauros. Quando o Antônio nasceu fiquei com medo que meu caçulinha gostasse mais de carrinhos, já que ele mostrava interesse por carrões e carrinhos. Confesso que fiquei aliviada e feliz quando ele começou a imitar o som de animais e a não mostrar qualquer interesse em falar bibi ou vruummm. A alegria com que ele brinca com os bichos fez dele um merecedor herdeiro dos bonecos do Pedro. Eu fiquei contente, já que acho a troca das crianças com os animais muito mais bacana do que a paixão pela velocidade e pela beleza dos carros. Não é a toa que elas amam histórias de bichos. Realmente são o máximo. Poderia fazer uma enorme lista daquelas que não podem deixar de ser lidas, a começar pelas fábulas de Esopo e de La Fontaine. Mas não é preciso, todo mundo tem as suas preferidas. Entre as minhas e as do Pedro, com certeza, está o livro Como contar crocodilos, histórias de bichos, que reúne fábulas de índios e negros americanos, de Esopo, de asiáticos e de africanos recontadas por Margaret Mayo, com ilustrações de Emily Bolam e edição da Companhia das Letrinhas. As oito histórias, a começar pela que dá título ao livro, são uma delícia. Elas falam de esperteza dos mais fracos para sobreviverem aos mais fortes, de magia para explicar a existência e as características dos seres vivos, dos limites de cada um dos seres vivos, entre outros temas que fazem nossos filhotes pararem para ver e ouvir uma bela história. A qualidade do livro, com belas e vivas ilustrações, lhe rendeu, em 1996, o selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infanto Juvenil. Estou só esperando o Antônio crescer mais um pouquinho para apresentar este livro para ele.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A rica troca entre diferentes


Nunca tinha lido nada da escritora Ninfa Parreiras. Descobri a autora por meio dos belos desenhos de André Neves, no livro Um teto de céu, editado pela Difusão Cultural do Livro (DCL). A história é um poético encontro de uma moça da cidade com uma menina do deserto que nunca viu chuva e mora em um vilarejo onde as casas não têm teto e os habitantes nunca conheceram guarda-chuva, sombrinha, chapéu, capa de chuva e botas de plástico. A menina, porém, quer saber como é a chuva, seu gosto, seu cheiro e a sensação que lhe dá na pele. A moça de cidade com chuva lhe promete uma carta com notícias da chuva. Lindo diálogo e troca entre duas culturas tão diferentes. Mas meu filho Pedro não conseguiu deixar de ter pena da menina do deserto e reclamou do fim do livro que não leva a chuva para o vilarejo das casas em que o teto é o céu. "Não gostei. Achei que ia chover no fim", disse meu menino, sensível às dores alheias. Compreendo seu desconforto, mas o livro fala não de desigualdades, mas de diferenças e das infinitas possibilidades que existem em uma troca entre seres humanos distintos.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Para onde vamos após a morte?

Acho que ainda é cedo para eu me sentir segura de que o Pedro tornou-se de fato um leitor. Mas digo que já vejo fortes indícios de que os livros fazem parte da vida de meu filhote. Acredito, sinceramente, que ele já tem prazer genuíno ao manusear os livros. Tanto é que, a seu pedido, eles ganharam um lugar privilegiado no quarto que divide com o Antônio. Os livros estão dispostos na primeira prateleira da estante e os brinquedos, na segunda. Ontem, quando cheguei com novidades do 11º Salão da Fundação Nacional do Livro Infanto Juvenil, no Galpão da Cidadania, na Gamboa, ele me falou que não devíamos mais comprar livros, porque estava acabando o espaço na estante. "Tudo bem. Não compramos mais", assenti. "Não, por favor, não", recuou rapidamente, me confessando que adora quando trago uma novidade. Mas nem todas o deixam feliz. Foi o caso da Preciosa pergunta da pata, da escritora belga Leen van den Berg, ilustrado por Ann Ingelbeen e publicado pela Brinque-Book. Tadinho do meu menino, chorou tanto quando percebeu que a pata tinha perdido um de seus filhotes que não quis esperar pelo fim do livro, que trata de forma lúdica e com alegres ilustrações a curiosidade de todos nós sobre para onde vamos após a morte. "Deve ser horrível perder um filho", disse aos prantos. Em minha tentativa de conversar com ele sobre o medo que a morte lhe impõe, percebi que na verdade ele temia, naquele momento, não a dele ou do irmão, mas a minha. Com o coração apertadinho fui falando que não morreria tão cedo e que, quando este dia chegasse, eu estaria tão velhinha que ele já teria aproveitado muito de mim para ter lembranças de sua mãe para o resto da vida. "Meu filho, quando este dia chegar, você já estará grande, terá seus filhos e terá muito para se lembrar de mim. Você não sentirá desespero com a minha morte, apenas saudades. E eu estarei sempre em seu coração". Foi o bastante para ele engulir tanto choro e pedir pelo pai, com quem dormiu em paz, e para eu me sentir confortada em saber que quando morrer vou ficar gravada no coração dos meus meninos.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A bela caligrafia de dona Sofia

Acabo de ler para o Pedro A caligrafia de Dona Sofia, com texto e ilustração do pernambucano radicado em Porto Alegre André Neves. O livro, editado pela Paulinhas, em 2007, é tão lindo que foi parar no acervo básico da Fundação Nacional do Livro Infanto Juvenil. Texto e ilustração em perfeita harmonia, nos levam para o universo fantástico de uma senhora, professora aposentada, que decorou sua casa com poemas transcritos por ela própria. No momento em que percebe que já ocupou todos os cantos de sua casa com os versos mais bonitos ou aqueles, segundo a própria, mais importantes para sua vida, dona Sofa resolve distribuir poemas e flores para os moradores de sua pequena cidade. Por meio da poesia, quebra o isolamento no qual vivia e faz uma revolução na vida de seus vizinhos que foi sentida, aqui em casa, pelo Pedro. Ele, uma criança recém-alfabetizada, que está sendo treinada para escrever com letra cursiva, ficou muito interessado na bela caligrafia de dona Sofia e no garrancho de seu Ananias. "Deixa eu ver", pedia ele. André Neves não frustrou a curiosidade da minha criança. O livro é todo decorado, como a casa da dona Sofia, com trechos de poemas de vários autores escritos à mão e por delicadas e expressivas ilustrações. Agradou tanto que ele topou minha sugestão de levar o livro para sua professora, já que a turma está tomando intimidade com a língua por meio de poesias. Enfim... uma bela caligrafia e uma bela história capazes de encantar crianças e adultos, como o poeta Elias José, que deixou suas impressões sobre o livro em um elogioso prefácio.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Lendo em família

A medida que o Antônio foi crescendo, me deparei com um desafio: como colocá-lo para dormir ao mesmo tempo que o Pedro, sendo os dois crianças de idades tão diferentes. Se lia para o Pedro, ficava culpada de não estar com o Antônio. Se fazia o bebê dormir, deixava o grandão de lado. Até que um dia o próprio Pedro me deu a solução ao pedir para ler para o irmão. Os livros são sempre os do Antônio, que, com pouco texto e belos e interativos projetos gráficos, agradam em cheio a quem está, como o Pedro, concluindo o processo de alfabetização. O Antônio, por sua vez, fica atendido por ter seus livros lidos em um momento de intimidade com a mãe e o irmão. Um dos best sellers dos irmãos é o Seu Soninho, cadê você?, de Virginie Guérin, editado pela Companhia das Letrinhas. O livro conta a história de Jacó, um jacarezinho que sofre de insônia e fica berrando pela floresta para quem quiser ouvir: "Seu Soninho, você está aí?" Ao que o Antônio prontamente responde: "Não!" A resposta, por sinal, é muito sincera. Ele fica ligadíssimo na história e no livro e quando uma página chama mais sua atenção por suas possibilidades interativas a confusão começa. Ele tenta impedir o Pedro de passar a página e o Pedro resite em parar de ler. Enfim, o resultado é que o pau come. Come, diga-se de passagem, por causa da impulsividade do Antônio que com menos de um metro parece David enfrentando Golias. Mas não fosse por minha presença no meio dos dois, ele teria um fim bem menos glorioso que o de David. Paz refeita, terminado o livro é hora de separar os dois novamente. Porque senão, como na história de Virginie, o Pedro e o Antônio teriam a maior dificuldade de encontrar Seu Soninho.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Um menino feliz

A primeira vez que eu li O menino maluquinho, de Ziraldo, editado pela Melhoramentos, eu era uma adolescente em visita à casa de uma amiga da minha mãe, a Ivana, que tinha filhos pequenos. Como eu sempre gostei de crianças, fui arrumar o que fazer com elas. Achei na estante o livro, que me pareceu bacana, e resolvi ler para a menina, que, se não me falha a memória, se chama Rafaela. Li o livro num fôlego só, como deve ser e adorei. Adorei aquele menino maluquinho e encantador. Mas ele já não era mais assunto para mim, que já tinha crescido. Muitos anos depois, quando o Pedro começou a ser introduzido no mundo das histórias, resolvi comprar o livro para ele. O menino maluquinho já tinha quase 30 anos, mas fazia o meu Pedro, com uns quatro anos, lutar contra o sono para ouvir o fim de sua história. Foram muitas vezes que ele ouviu as traquinagens do menino, antes de se desinteressar e procurar outros personagens, até que, outro dia, veio da escola com um dever de casa que citava um trecho da obra. Procurei o livro e reli para ele. Encantado, como nas primeiras leituras, o Pedro prestou uma bruta atenção e mostrou-se ainda mais interessado quando os assuntos do maluquinho passaram a ser as namoradas e o futebol, sua maior paixão. Ao ouvir os versos finais do livro, que conta o momento em que o menino cresce e percebe que não era maluquinho, mas feliz, o meu Pedro sorriu de forma tão pura que tive a certeza de que ele, como o maluquinho, é um menino feliz.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Um pouco de Bel e Bia

O Pedro adorou tanto o pocket show Bel e Bia que apresentou a mais nova história de Márcio Trigo, dia 16 de maio, na Festa Literária de Santa Teresa (Flist), que assim que ele terminou me pediu para comprar o livro, editado pela Mirabolante. Na hora hesitei por achar que era muito texto para a idade dele, mas resolvi comprar. Bobagem a minha ter tido dúvidas. Ele tinha razão. É realmente muito legal a história das duas amigas que nasceram na mesma maternidade, brincaram e estudaram juntas e foram separadas pela decisão dos pais de Bia de mudar de cidade. As ilustrações de Mariana Massarani, com quem Trigo tem uma velha e bem sucedida parceria, dão ainda mais vida às traquinagens e às boas ações das meninas, dando a elas um gracioso ar hippie. Ele ouviu tudinho com o maior interesse. E eu, confesso, não pude deixar de me lembrar das minhas amigas de Tebas, em Minas Gerais, que foram e ainda são tão importantes na minha vida, apesar da distância. Fiquei até emocionada. O Pedro incrédulo com a minha reação me perguntou porque minha voz estava embargada. Quando falei que era pelo livro, ele riu. Envergonhada, também ri e perdi uma bela oportunidade de falar para meu filho como é bom ter amigos e cuidar deles. Fica para a próxima...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O caderno de desenhos de John Lennon

A Fabiana, babá das crianças, trouxe hoje um livro para o Antônio muito legal: Amor de verdade - desenhos para meu filho, de John Lennon, editado em 1999 pela Salamandra. Trata-se de uma coletânia de desenhos do Beatle para o filho Sean, organizada por Yoko Onu, que por sua linguagem oral e visual simples e lírica tem tudo para agradar aos pequenos. Os desenhos são bem prosaicos e ganharam legendas, segundo Yoko, nas brincadeiras de pai e filho. Na edição brasileira, elas têm a graça de Ruth Rocha. O Antônio, para quem a Fabiana trouxe o livro, adorou. Andou para cá e para lá com o livro, felizmente de capa dura, e me deixou ler algumas páginas. Cada uma delas traz uma ilustração diferente. São focas, cachorros, gatos, patos e outros bichos. As que o Antônio mais gostou foram as do cavalo dançarino, confirmando sua paixão pelos equinos. Uma boa maneira de apresentar o mundo encantado de John Lennon para nossas crianças.