quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O bem com o bem se paga

Ateus, agnósticos e religiosos de variados credos, ninguém, ninguém mesmo consegue ficar indiferente ao clima de fim de ano.  Há, reconheço, aqueles que se incomodam com tudo isso. Olham com desprezo para a multidão que se acotovela nos mercados e ruas em busca de um detalhe para fazer a festa em família ou com os amigos melhor. Tirando os exageros movidos pelo consumismo, que reconheço existir nesta época do ano, estão todos buscando objetos de afeto para renovar seus laços de amizade e amor. Renovar é o verbo do fim do ano. Não há como negar que o fim do ano traz consigo um renovar de esperanças. Isso explica o por que de adultos e crianças aguardarem estas datas como se elas tivessem um poder mágico para mudar tudo para melhor. O Natal e o Revéillon são a dose reservada aos céticos do mundo maravilhoso que tanto encanta as crianças. Nestes dias a gente se encanta com as luzes natalinas, com as belas histórias e as promessas de dias melhores e se entristece com as misérias do mundo para as quais damos as costas nos outros onze meses do ano. Nestes dias nos lembramos de nossos natais de criança e nos esmeramos para dar a nossos filhos a oportunidade de levar do Natal mais que presentes, lembranças de um tempo em que todos acreditam ser possível uma vida mais ética e solidária. Por isso, deixo como dica de Natal o conto popular O bem com o bem se paga, que na edição da Editora Moderna é recontado por Edgard Romanelli e ilustrado por Alberto Naddeo. Na versão de Romanelli para a fábula de que o bem nunca deve dar acolhida ao mal, surgida na Índia do século V a.c., um caipira é ameaçado por uma onça que acabou de salvar. Ao perceber a traição da onça, o caipira implora por sua vida lembrando a ela que a salvou e que o bem com o bem se paga. A onça busca aliados para sua teoria de que nem sempre o bem com o bem se paga até que aparece um danado de um macaco esperto pra burro e cria uma armadilha para soltar o matuto. Boa mensagem para estes dias de Natal em uma sociedade em que se luta diariamente para evitar que o bem dê acolhida ao mal.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A hora de dormir é sempre igual

Confesso que detesto por meus filhos para dormir. Gosto de ler histórias, mas convencê-los a dormir é para mim um suplício. O Pedro já se rende ao sono. Aí não me importo. A gente deita, lê uma história e ele acaba dormindo, muitas vezes até antes de eu terminar a leitura. Já o Antônio, com seus três aninhos, luta com todas as suas forças contra o sono. Tem dias que eu passo mais de uma hora para fazê-lo dormir e só consigo que feche os olhos depois de perguntar a razão de ele não querer dormir. A razão, responde o Antônio, é sempre a mesma. Medo de sonhar com o LOBO, assim mesmo com maiúscula. Eu o acalmo sempre com a mesma conversa. "Quando o Lobo aparecer, fala que sua mãe não o quer em seu sonho. Os lobos têm medo das mães. Você vai ver que ele vai correndo embora. Já tentou falar isso com ele?" Invariavelmente ele diz que não e cai na minha conversa, se ajeitando na cama ou no chão - que ele adora - para dormir. Por esta razão eu vibrei ao achar outro dia nas estantes da Livraria Martins Fontes, no Centro,o livro Como os dinossauros dizem boa noite?, de Jane Yolen, com ilustrações de Mark Teague. A escritora americana usa o fascínio que os dinossauros exercem sobre as crianças para recriar a resistência dos pequenos ao sono. Os dinossauros, pergunta ela, berram, fazem manha, jogam os brinquedos na parede, pedem mais uma história? Não, conclui na narrativa, eles dão beijinhos gostosos na mamãe e no papai, apagam a luz, vão para a cama e se cobrem sozinhos para dormir uma noite tranquila de sono. Quem dera fosse assim, o Antônio pede mais uma história, chora, grita e quando se vê vencido, já com a luz apagada, implora por água, dizendo estar com muita sede. Meu único alento é que, com certeza, meu dinossauro é como todos os outros. Estranhos são estes do livro de Jane Yolen, que, brincando com a imagem refletida no espelho, diverte mães e crianças na hora de dormir.