segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A história se repete

É impressionante como esse país não muda. Outro dia, estava lendo com o Pedro Ludi na Revolta da Vacina, da minha xará Luciana Sandroni, editado pela Salamandra, e comentei com ele sobre as semelhanças do bota-abaixo do Pereira Passos com a política de remoção do atual prefeito do Rio. Ludi e sua família - na viagem que fazem ao Rio do início do século XX - ficam chocados com a violência com que Pereira Passos derruba os cortiços da cidade e desapropria lojas e residências na Avenida Central, em nome de um projeto modernizador para a cidade, inspirado em Paris. Pereira Passos, em sua arrogância, não consegue ouvir o pai de Ludi alertar para o fato de que seu projeto não seria o último a mudar a cara do Rio. Décadas mais tarde, o Rio perderia o Palácio Monroe, um dos marcos do Rio parisiente, para dar lugar ao Metrô, entre outros vários prédios do início do século. Os pobres de Pereira Passos deixaram os cortiços, naqueles dias vividos pela família de Ludi, e subiram morros e ocuparam terrenos em áreas desvalorizadas da cidade. Quase um século depois, o Rio andou para a Zona Oeste, descobriu a beleza das encostas e quis de novo esses lugares para integrá-los à cidade formal. OK! Nada contra, desde que os pobres que hoje ocupam os lugares dantes desprezados sejam também integrados à cidade formal. Mas não! A parte que cabe a eles nesse projeto de modernização e embelezamento da cidade é uma pequena indenização pela derrubada de suas casas, que, segundo a ONU, tem sido feita de forma a violar os diretos humanos por não lhes dar tempo suficiente para prepararem sua saída e não lhes oferecer alternativa de moradia. O Pedro se espantou. Ele que, nesses dias na escola, aprendeu a se condoer com o  drama das famílias brasileiras que foram obrigadas a deixar suas casas para a corte de Dom João e com o bota-abaixo de Pereira Passos, me perguntou o porquê disso tudo novamente. Tudo em nome de uma modernização conservadora e excludente que, de tempos em tempos, empurra a pobreza para fora da cidade formal. É, como diria Marx, a história se repete e, ao que parece, pelas obras que herdaremos da preparação da cidade para as Olimpíadas, mais uma vez como farsa.

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