
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Liberdade é escolher sem a pressão do vendedor

segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Uma ponte capaz de transpor grandes distâncias
Eu adorava as tirinhas do Henfil quando era adolescente. Se vivo, ele teria hoje quase a idade da minha mãe, dando-nos uma distância de pouco mais de 20 anos. Um distância que seu humor transpõe sem dificuldades. Um humor inteligente, ancorado em um traço expressivo que cria formas e emoções variadas, em desenhos que são pouco mais que rabiscos. A força dessa criatividade fez de Henfil um sucesso, nos anos 70 e 80, e um símbolo da resistência democrática em nosso país, imortalizado na canção de João Bosco e Aldir Blanc. Lembro bem do dia em que comprei a minha camiseta das Diretas Já!. Escolhi uma branca, estampada com a Graúna, de Henfil, pedindo eleições diretas. Eu tinha apenas 18 anos e estava cheia de planos para o Brasil. Foi a minha primeira derrota e a camiseta foi parar no armário, onde está até hoje. Talvez tenha sido a última derrota de Henfil, que se foi, em 1988, antes de elegermos o primeiro presidente da República. Ele se foi, mas sua obra ficou, como ficam as que valem a pena. Seu humor ainda é capaz de transpor a distância que separa a época de sua morte das crianças de hoje, como o Pedro e o Antônio, que, até há dias atrás, nem sonhavam com sua existência. Essa é a beleza da arte. Comunicar-se com muitos, por muito tempo e de diversas formas. A ponte que uniu os dois meninos do século XXI ao artista do século XX foi construída com a leitura de quatro dos nove livros do cartunista, escritos para o filho Ivan e editados recentemente. Senti que a leitura era um sucesso já na primeira oração do texto. "Um sapo na beira do mar?!" perguntou o Antônio, com um misto de surpresa e deboche. Mas foi só avançarmos um pouco na leitura, que ele abriu-se ao nonsense da história de um sapo ameaçado por um tubarão e salvo por um canguru. O sucesso, eu já sabia, estava garantido pela presença de um tubarão, o animal mais temido pelo Antônio. Mas nunca imaginei que ele passaria preciosos minutos admirando os desenhos de Hefil. Pois foi assim. Depois de ouvir e rir com o Sapo Ivan e Olavo foi a vez de Sapo Ivan e Ananias, O Sapo que queria beber leite e Sapo Ivan e o Bolo, todos editados pela Nova Fronteira. Ao fim, sentou-se para examinar os livros e elegeu O sapo que queria beber leite, como a sua história favorita. Também, pudera, ela é a mais nonsense de todas. Nonsense como a imaginação das crianças. O Sapo Ivan pensa como uma criança e não alguém criado para falar para ela. Essa verdade do personagem convence. Convenceu o Antônio e depois o Pedro, que, no dia seguinte, em uma segunda leitura, se juntou ao irmão para rir das maluquices do Sapo Ivan e sua turma. Pedro, já com 11 anos, quis saber mais do Henfil. Eu lhe contei que conheci sua obra por intermédio de minha mãe e meu pai, que eram seus fãs, e da importância que ele tem na história do cartum brasileiro. Interessado, prometi mostrar-lhe um pouco das tirinhas da turma do Bode Orelana e dos Fradins. Falei que eram tirinhas publicadas para adultos, mas que podem falar para crianças, como o Sapo Ivan foi criado para uma criança e também encanta os adultos. O melhor de tudo foi perceber, depois destas duas noites de leitura, que o Sapo Ivan foi mais do que uma história para mim e para os meus filhos. Foi a possibilidade de eu fazer, em um breve instante, uma ponte para transpor a distância que separa o meu tempo do tempo deles. Um poder que só a literatura e o afeto têm.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Texto e ilustração a serviço da imaginação

Assinar:
Postagens (Atom)