terça-feira, 3 de setembro de 2013

Texto e ilustração a serviço da imaginação

Os modismos e as razões do mercado, muitas vezes, fazem grandes autores saírem das vitrines das livrarias para dar lugar a obras mais recentes e editadas ao gosto da hora. Obras nem sempre melhores, nem sempre mais instigantes, mas com certeza mais oportunas. As sazonalidades do mercado de livros para crianças não são capazes, no entanto, de fazer morrer uma grande obra, como a de Sylvia Orthof, sempre presente nas poucas prateleiras reservadas a autores consagrados. Lá podemos encontrar uma coisa ou outra dos 120 títulos infantis ou juvenis publicados pela autora, que, se viva, estaria completando hoje 81 anos. Quando isso acontece, está garantida uma boa leitura. Uma leitura que nos abre as portas para novos mundos ou velhas e despercebidas emoções. Com Quincas Plim, pois foi assim. O livro, editado pela Paulinas, em 1995, é um belo exemplo do que pode a prosa de Sylvia. Um poder que não traz prestígio, fama ou riqueza. Um poder que, na melhor versão do bem, dialoga com o leitor para criar um mundo novo, em que tudo possa. Quincas Plim é um duende que encontra um ovo, com um bebê dentro e o leva "para casa de três tias aloucadas,/ que eram tias e bruxas,/ com um tiquinho de fadas." O bebê cresce e seu crescimento é mais uma das novidades de Sylvia, que conta com a ajuda das ilustrações de Tato, então seu marido, para criar um mundo mágico para a história. Quincas Plim, pois foi assim é um daqueles livros em que a ilustração está tão intimamente ligada ao texto que parece que o autor foi também ilustrador. A parceria de Sylvia com Tato foi profícua e trouxe para as crianças mundos desconhecidos, como é o caso de Quincas Plim, ilustrado sob a inspiração de Hieronymus Bosh, artista flamengo do século 15, que pintava o mundo da fantasia tão caro à dupla. Ler a história desvendando as ilustrações é mais uma possibilidade do livro, que cria uma realidade surreal e divertida para os pequenos leitores. Eu, apesar de longe da minha infância, adorei. Adorei tanto que desconfio que ainda tenha poderes para ver a Fada Cisco, outra personagem maravilhosa da autora. Já o Antônio percebeu logo as rimas da poesia de Sylvia e se divertiu acompanhando a narrativa nas surpreendentes ilustrações de Tato. O prazer do Antônio, no entanto, não veio sem um estranhamento em relação à atmosfera da história. Foi uma leitura lenta, em que ele tudo perguntava e queria ver. Mais um ponto para Quincas Plim. Em tempos de narrativas tão fáceis, como as propostas pela cultura do áudio-visual, as dificuldades de um bom texto, se enfrentadas com tranquilidade pelas crianças e adultos, são enriquecedoras, na medida em que mostram para as crianças que a imaginação, no campo da linguagem, não tem limites e que não é preciso um bom computador e seus programas para criar um mundo virtual.

3 comentários:

Flávia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Flávia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Flávia disse...

Aqui em casa somos todos apaixonados pela Sylvia Orthof, Luciana. Pedro ama "Um xixi choveu aqui", protagonizado por um menino cacheado chamado Pedro Pedroca Catibirimboca Serra Matutoca de Firinfifoca. Júlia é doida pela Fada Fofa. Gostamos da Velhota Cambalhota e da Fada Cisco também. Mas não conheço o Quincas Plim! Obrigada pela super dica, vou procurar!
Beijos,
Flávia.