segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Uma âncora ao mar para viver um breve e enorme amor

Cuidar, como verbo transitivo indireto - cuidar de quem, está meio fora de moda. Ninguém quer perder tempo e dinheiro com os outros. Somar tempo e dinheiro, inclusive, é uma operação comum antes da decisão por filhos e fazê-la é uma atitude honesta, que pode evitar escolhas erradas. A honestidade, no entanto, não muda o fato de que, em um mundo individualista e marcado pelo narcisismo, hedonismo e consumismo, cuidar dos outros é como estar em um navio e lançar uma âncora ao mar. O que ninguém pensa, nessa hora, é que, as vezes, o navio ancora em belas paragens. Um prazer que pode ser fruído por quem, menos ansioso, consegue ver beleza onde está. É sobre esse prazer que Marina Colasanti trata em Breve história de um pequeno amor, editado pela FTD, que acabou de ganhar o prêmio Jabuti de melhor obra de ficção. Um prêmio que colocou, justa e tardiamente, a literatura para jovens leitores no andar de cima. Na história, Marina é a própria personagem principal: uma cuidadora de um pombinho que ficou sem a mãe e passa a depender dela para viver. O bichinho come por suas mãos e aprende a voar, com quem não tem asas. Uma narrativa delicada, como é a marca da prosa poética de Marina, que soma-se às expressivas ilustrações da argentina Rebeca Luciani. O livro foi editado para leitores mais experientes, mas encantou meu menino pequeno. Antônio, com seus sete anos, ouviu com interesse a história da escritora que descobriu um ninho no forro do teto de seu escritório e assumiu a responsabilidade pelos filhotes, abandonados pela mãe. Foram três dias de leitura para acabar o livro. Três noites de carinho com o meu pequeno, que aconchegou-se a mim, como se fosse o filhote de Marina. Ao fim, Antônio acompanhou com o coração apertado o voo final do pombo, já crescido e acasalado. "Mãe, ela ficou triste quando ele foi embora", perguntou. "Ficou, Antônio, mas ela sabia que um dia isso ia acontecer. O importante são os momentos que eles passaram juntos", respondi. O pequeno amor de Marina pelo pombinho é como o grande amor dos pais pelos filhos. Nós cuidamos deles, mesmo sabendo que, um dia, vão nos virar as costas para, crescidos, irem embora. E, nem por isso, deixamos de cuidar deles. É o amor do qual fala Marina que faz valer a pena cuidar de alguém, mesmo quando isso parece um péssimo negócio. Este amor é que transforma a velha operação tempo e dinheiro, que na frieza da matemática sempre dá negativa, em positiva, para fazer valer a pena ter filhos. Há 13 anos, lancei minha âncora ao mar para curtir um pouco e, sei disso, por pouco tempo, essa paragem que é a maternidade. Posso assegurar que ela é um ótimo lugar para viver um breve, mas enorme amor.

2 comentários:

Unknown disse...

Oi Luciana Conti,
Cheguei ao seu blog pelo blog da Mãederna. E hoje me demorei um pouquinho aqui para conhecê-lo. Li alguns posts e já vou incluir o seu blog na minha lista de blogs queridos.
Ainda não li o livro que você indica neste post, mas a ideia de que "cuidar dos outros é como estar em um navio e lançar uma âncora ao mar" me parece uma metáfora ideal para representar essa relação linda de doação entre pais e filhos. Então, vou procurar esse livro para eu e meu pequeno.
Escrevi no meu blog um texto que se relaciona com isso (http://www.verdemae.com/2015/05/filhos-sao-uma-heranca-nao-uma-despesa.html)
Um abraço,
Jaqueline
www.verdemae.com

Luciana Conti disse...

Oi, Jaqueline, legal te receber aqui. Vou fazer uma visita a seu blog. O livro da Marina vale a pena. É lindo. A gente vai se falando. bjs