sexta-feira, 8 de abril de 2011

Para vencer os medos e angústias do mundo real

A noite de ontem foi longa aqui em casa. Depois que o Antônio dormiu, vencido pelo sono e aninhado em seu travesseiro, o Pedro me pediu para ler Ozzy, o quadrinho maravilhoso do Angeli, publicado na Folhinha, da Folha de São, que ganhou quatro títulos da Companhia das Letrinhas. O Ozzy foi uma escolha do próprio Pedro que o catou na biblioteca da escola e o trouxe feliz da vida para casa. Realmente é um personagem cativante, que retrata com humor os meninos de sua idade, e que fez o meu exclamar maravilhado que eles eram igualzinhos. O humor de Angeli, no entanto, não foi capaz de fazer o Pedro relaxar para dormir. Assim que apaguei a luz, ele falou que estava com medo do que poderia sonhar. Me contou que sonha muito com tubarões o atacando, que não consegue se defender dos perigos de seus terríveis sonhos e que não tem medo quando está acordado. Eu falei de meus sonhos de criança, em que ondas enormes me ameaçavam, explicando que estes perigos muitas vezes representam nossos medos e impotências. "Quando entendi isso, nunca mais sonhei com as ondas", expliquei. Mas não bastou. O medo dele era muito mais concreto. Na verdade, estava angustiado com a descoberta de que há muita maldade no mundo. A primeira delas foi um vídeo em inglês achado na internet sobre a notícia da prisão de um pedófilo que se travestia de Justin Bieber para atrair suas vítimas. "Mãe me leva ao médico para ele tirar isso da minha cabeça", pediu angustiado, sem entender direito a notícia. A outra foi a crueldade do massacre na Escola Municipal Tasso de Oliveira, em Realengo, que chocou a todos nós. Ele soube da tragédia sem muitos detalhes, por um colega da escola, que assistia a um programa de esportes quando foi surpreendido por notícias da barbárie. "O que você soube disso, Pedro?", perguntei para um menino, que estava até nauseado de tanto medo e angústia. "Quase nada, mãe. Não me lembro nem mais do nome dele", falou. Mas, em sua angústia, deixou transparecer que sabia muito mais do que poderia suportar. Sabia que Wellington havia estudado na escola que invadira armado, que matara vários alunos e que se suicidara. "Como alguém pode entrar armado em uma escola?", indagou. Eu, diante de tantas perguntas e angústia, me perguntei como falar de tanta dor, maldade e loucura para uma criança de apenas nove anos. Me perguntei ainda como podia proteger meus filhos de tanta informação, que vem de tantos lados, sem qualquer filtro ou limite ético para salvaguardar nossas crianças. Não podia subestimar a inteligência dele e negar o que era óbvio, mas também não queria aumentar ainda mais sua perplexidade diante da descoberta de que a vida pode ser cruel. Só podia dar colo para meu filho, que chorava toda a sua tristeza e me falava sem parar de seus medos. A medida que ele foi se acalmando, pediu que eu não o deixasse aquela noite e que lesse para ele mais uma história. "Mãe, sabe por que eu gosto que você leia histórias para mim? Primeiro porque tenho preguiça de ler, segundo porque ouvindo histórias imagino um mundo só meu. Um mundo que ninguém pode mudar". E foi ouvindo mais uma história que o Pedro driblou seus medos e recobrou as rédeas de sua vida, podendo dormir tranquilo para mais um dia. Que os livros possam sempre lhe dar alento!

2 comentários:

CRISTINA SÁ disse...

OI! LUCIANA,
O problema de vencer o medo e as angústias do mundo real foi muito bem colocado por você neste post.
O que fazer? É muito difícil para
as crianças lidarem com tanta informação sobre a violência, que
nos ronda nos dias de hoje.

O seu pequeno ficou mesmo muito
abalado e inseguro com as notícias
do dia de ontem e seus pesadelos.

Que bom que o colinho da mamãe e
a leitura trouxeram o alento necessário para ele descansar.
bjs
CRISTINA SÁ do blog:
http://cristinasaliteraturainfantilejuvenil.blogspot.com

Rachel Facó disse...

Oi Luciana,
Linda reflexão!
Às vezes, imagino existir uma proteção para minha filha contra a dor adulta...Em vão...Afinal, dor não tem idade. É como a Literatura, a arte. Enquanto uma derruba, a outra cura, adormece, encanta. E assim seguimos adiante.
Um beijo,
Rachel Facó
http://esquinadoconto.blogspot.com