terça-feira, 22 de novembro de 2011

Memória, fantasia e a história de cada um

Sempre me preocupei em me fazer presente depois da morte. Imagino meus filhos daqui a anos, com a vida feita e já sem mim, lendo este post e tentando reconstruir na memória o calor do abraço materno. Com certeza é essa a minha maior motivação para fazer este blog. Contar nossas impressões de leitura não foi uma escolha aleatória. Privilegiei este momento por ser à noite, lado a lado na cama para ler histórias, que nós passamos os momentos mais calmos de nosso dia. O ritual começa com a escolha do livro e continua com meu esforço para dar vida, com  minha voz, a tantas aventuras e personagens que encantam meus meninos. Esse momento mágico já até conquistou o Cadoca, que, em várias noites, se junta a nós para ler para um dos garotos. É nessa hora que o Pedro me conta alguns fatos do seu dia e que o Antônio se chega mais, pedindo que eu o proteja do medo do escuro. Por isso, cada vez mais tento encontrar boas histórias para ler para os meninos. Driblo, nas estantes das livrarias, os títulos que se preocupam mais em resolver questões dos pais e dos filhos para achar aquelas histórias raras, que acendem a imaginação das crianças. É esse mundo mágico que vale a pena viver. Quando somos crianças, como meus filhos, buscamos a fantasia de bichos falantes, super poderes e situações que desafiem a realidade. Quando crescemos, como eu e o Cadoca, ficamos sonhando com um mundo mais justo, homens mais solidários e uma vida mais centrada na existência e menos pautada pelo sucesso e o consumo. É a imaginação que nos faz criar. Por isso, aposto no maravilhoso para educar meus filhos. O Antônio, com 4 anos, ama a fantasia acima de tudo, apesar de já perceber que há uma vida real em que ela tem pouco espaço. "Mamãe, não é que os bichos só falam nas histórias? Na vida real, eles não falam, né?", me pergunta mil vezes durante o dia, como que para se certificar de uma percepção ainda recente. Já o Pedro, com 9 anos, não tem mais dúvidas sobre a diferença entre livros e filmes e a realidade, mas ainda tateia nas possibilidades do mundo real. Ele, como a maioria de seus amigos, sonha em ser jogador de futebol, mas não faz nada para isso. Prefere ficar deitado na cama vendo os filmes de Harry Potter e lendo suas aventuras do que andar um quarteirão, mas tem certeza de que vai ser um Ronaldinho no futuro. E o Antônio, apesar de todas as suas dúvidas, ainda curte as histórias maravilhosas em que bichos falam, macacos têm asas, meninas voam em sapatinhos encantados e crianças são pequeninas como um dedal. Agora ele está encantado com Midinha, uma adaptação do conto Thumbelina, de Hans Cristian Andersen, em que uma menina do tamanho de um dedo mindinho, que nasceu de um feitiço para agradar a sua mãe/dona que tanto queria filhos, tem que passar por uma série de desventuras até encontrar a liberdade e sua própria história. Um pouco da vida de cada um de nós, em nossa saga do crescimento e da independência. Na primeira leitura, o Antônio acompanhou a história com bastante atenção para não perder a sucessão de fatos e pessoas que vão acontecendo na vida da menina. Ao fim, me fez prometer que Mindinha, em uma edição da Manole, seria o livro do dia seguinte. A promessa foi cumprida na voz do Cadoca. Enquanto ele ouvia o pai, eu estava na cama ao lado, lendo Harry Potter para o Pedro. Embarcados na fantasia de crianças minúsculas e aprendizes de bruxos os dois dormiram felizes em busca de um novo dia. Olhando o Pedro e o Antônio, fiquei desejando, mais uma vez, que eu e o Cadoca possamos sempre estar perto de nossos meninos, nem que seja apenas na memória de cada um deles. 

4 comentários:

Amanda Nogueira. disse...

lindo! o dia que tiver meu(s) filhos tb quero rituais assim. bjs

Ana Paula disse...

Este post é uma linda história para os teus meninos e também para nós, adultos, sentir o calor do abraço materno através das letras e leituras. Emocionou-me.
Beijo

Rachel Facó disse...

Oi Luciana,
Lindo o seu texto, a sua entrega como mãe, amiga, educadora! Fiquei muito emocionada ao ler o que escreveu: me vi nas mesmas cenas, construindo um pedaço de saudade pra minha mocinha pegar no futuro. Nós e o livro. Estamos sempre escrevendo "novas histórias" ao ler com eles, não é mesmo? Também revisitei pedaços que as minhas avós deixaram pra mim. Cada uma, a sua maneira, cultivou em mim esse ingrediente indispensável a qualquer idade: a imaginação. Li no seu texto a imensa saudade que sinto delas...
Obrigada por este post, por este pedaço de saudade.
Um beijo,
Rachel Facó
http://esquinadoconto.blogspot.com

Luciana Conti disse...

Amanda, Ana e Raquel, adorei a visita de vocês. Que a gente continue construindo nossas memórias e sonhos. bjs