quarta-feira, 7 de março de 2012

O lobo, a raposa e a lei do mais forte

Contos de Grimm, com seleção e tradução de Ana Maria Machado, editado pela Salamandra, estava há algum tempo na minha lista de desejos. O livro é caro, já que são dois volumes, mas exerceu sobre mim imediata atração. Além da promessa de bom texto, pela assinatura de Ana Maria Machado, e de boas histórias, pela fonte dos Grimm, os livros são ideais para quem quer apresentar o mundo maravilhoso dos contos de fadas para as crianças. A linguagem é adequada e as ilustrações de Jean Claude R. Alphen, no primeiro volume, e Cris Eich, no segundo, são lindas e colaboram, cada um com seu estilo, para compor o clima mágico das histórias. Com todos estes atributos, resolvi comprar os livros e os apresentar para meus filhos. Na verdade, minha intenção primeira era ler para o Antônio, já este ano sua escola vai explorar a diversidade do universo dos contos maravilhosos, mas o Pedro se inscreveu logo na fila, prestando uma baita atenção na leitura de ontem à noite. Escolhi para a estreia o conto O lobo e a raposa, contando com o carisma dos dois animais para prender de imediato a atenção do Antônio. Deu certo! Logo no início do conto, Ana Maria, apresenta a raposa como explorada pelo lobo, que a escraviza na ânsia de saciar sua insaciável fome. A ação que se segue mostra a raposa explorada por um insensível lobo, até ela usar de um artifício para livrar-se dele, induzindo-o à morte. Foi quando vi o interesse do Pedro. "O que aconteceu mesmo com o lobo?". Repeti o fim em que o lobo, algoz da raposa, é enganado por sua vítima e morto a pauladas por um enraivecido fazendeiro. O Pedro ficou revoltado com a atitude da raposa. Eu tentei explicar que a raposa tinha enganado o lobo para se livrar de uma terrível exploração e de nada adiantou. "Os dois estão errados", disse convicto. Confesso que torci pela raposa. Os explorados sempre têm minha simpatia. Já o Pedro ainda não tem condições de entender  que, quando vale a lei do mais forte, a única ética é a da sobrevivência. Fugir dessa ética é  possível apenas quando temos mecanismos de defesa contra a força desproporcional de nossos exploradores. O lobo e a raposa das histórias tradicionais são anteriores a uma ética pautada pelo bem e o mal, que, no caso do conto em questão, reprovaria tanto a vítima, quanto o algoz. Acho que não fui capaz de explicar isso para ele. Mas da próxima vez, tento de novo. Então, que a Ana Maria nos conte outra!

Um comentário:

Helo Tavares disse...

Lu as ilustrações são maravilhosas e Pedro ainda não vê as nuances psicológicas da história. Mas adorei o comentário dele, entre o algoz e avítima nenhum é o vencedor. Bjs