domingo, 1 de julho de 2018

Um passeio por uma loja de brinquedos do Rio

Passeio pelos brinquedos de Berlim, de Walter Benjamin, uma das narrativas do filósofo judeu-alemão apresentadas na rádio alemã, entre 1929 e 1932, antes da ascensão do nazismo, é uma leitura deliciosa sobre a relação dos seres humanos com os brinquedos. Benjamin fala para uma criança próxima dele, lembrando de sua relação com os brinquedos da infância e contando um pouco da história desses objetos encantados e encantadores e de seu poder como mercadoria. Impossível atravessá-la sem deixar as portas da memória abrirem-se. Lembrei da boneca preferida, de como ganhava vida em minhas mãos, das brincadeiras com meus irmãos, dos brinquedos desejados e nunca recebidos, de transformar restos em objetos preciosos para as minhas brincadeiras, de meus amigos imaginários dividindo comigo esse mundo encantado. Eu, como ele, me permito continuar acreditando que as lojas de brinquedos "são pontos estratégicos e por isso, são as primeiras que os coelhos de páscoa ocupam quando eles saem ao ataque". Coelhos e crianças curiosas, como a narrativa me fez lembrar, de uma aventura do Pedro, meu filho, quando ainda era um pequenino de apenas quatro anos. Você vai me perguntar como, depois de tantos anos, tenho certeza de que ele tinha quatro anos. Simples. A aventura do meu menino foi se perder em pleno fim de semana, em um grande shopping do Rio. Um episódio como esse, nenhuma mãe esquece, ainda mais, quando estava barriguda do segundo filho, comprando roupinhas para seu enxoval. Pois bem, estávamos eu, ele e o Cadoca passeando pelo shopping, quando encontrei a Dulce, uma amiga querida, e parei para dois dedos de prosa. Não sei bem quanto tempo levei falando com ela, já que o tempo nessas ocorrências é impossível de ser contado, mas sei que foram poucos instantes. Poucos e suficientes para o Pedro, pequenino como era, sumir de nosso campo de visão. Foi o Cadoca que primeiro percebeu sua falta. Quando vi, ao meu lado, o vazio, me desesperei.
- Pedro - chamei alto, já apavorada, tentando me controlar.
Nada. Nada dele responder ou aparecer. Fiquei em pânico, pensando na possibilidade de não encontrá-lo mais. A Dulce, mãe de dois filhos grandes, tentou me acalmar. O Cadoca, apesar de inseguro como eu, manteve a calma e foi logo pedir ajuda aos seguranças.
- Nosso filho sumiu, o senhor pode nos ajudar - pediu.
Na mesma hora, o homem comunicou a seus pares, por um rádio-transmissor, que um menino de quatro anos, vestido com um shortinho estampado e uma camiseta laranja, calçando uma sandália Ortopé, estava perdido no shopping. Voltando-se para nós, explicou.
- Quando uma criança se perde, todos os seguranças observam as portas para impedir que elas saiam do shopping. Os senhores podem ficar calmos, nós vamos achar o menino - disse para nos tranquilizar e completou - Vamos começar a procura pela loja de brinquedos, aqui do térreo. Mais de 90% das crianças que se perdem são encontradas na loja de brinquedos.
Ela não estava longe e corremos todos para lá. Eu, Cadoca, Dulce e o segurança. A loja é uma das maiores do shopping. Grande, com enormes vitrines, porta larga e escancarada, atendentes sorridentes e muitos, muitos brinquedos cobrindo o chão, as paredes e se exibindo para os curiosos. No fundo da loja, estavam dispostos os brinquedos para bebês e crianças pequenas. Coloridos, sonoros, enormes e convidativos. Na frente deles, contemplativo, estava o Pedro olhando-os atento, ignorando nossa  procura. Diante da parede ocupada por brinquedos de alto a baixo, parecia ainda menor do que era. Ao vê-lo, toda a minha angústia explodiu e caí no chão, de joelhos, para abraçar meu pequeno, recuperado, de volta ao ninho. Ele me olhou espantado, sem entender tanto nervosismo e choro, e, silenciosamente, com aquele olhar exclusivo das crianças, se indagou se eu estava perdida.

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