terça-feira, 23 de março de 2010

Um livro é para sempre

Acho que sou uma pessoa bastante desprendida com os objetos. Não guardo as primeiras roupas dos meus filhos, o meu brinquedo da infância preferido, presentes que ganhei dos primeiros namorados, enfim, não tenho apego por coisas que não têm mais uso para mim e que podem significar alguma coisa para outras pessoas. Mas não me desfaço de livros. Se eles valem a pena, os guardo, mesmo sem lê-los. As vezes me sinto mesquinha por isso. Porque não doar os livros que já li? Mas não. Estão todos aqui em casa. O Pedro, ao que tudo indica, será como eu. Logo depois que o Antônio nasceu, ele me disse que daria tudo que era dele para o irmão. Roupas e brinquedos, mas os livros não. Eu argumentei que um dia ele iria crescer e não querer mais ler aquelas histórias de criança. "Aí você não vai se importar de dar seus livros para o Antônio." Ao que ele retrucou me perguntando se eu gostava mais dos meus filhos ou dos meus irmãos. Sem entender a pergunta, ele me explicou que não podia doar para o Antônio o que planejava guardar para seus filhos. Ri, com a certeza de que um dia ele deixaria o irmão ficar com seus livros. Alguns deles, aqueles para crianças menores, já estão na estante do Antônio. Ao que parece, essas pequenas doações não o fizeram esquecer de seus planos. Anteontem travamos mais um capítulo deste diálogo. Ao me ver encapando um livro recém-comprado, me perguntou porque eu sempre fazia aquilo. Expliquei que os livros de crianças ficam muito gastos com o uso e que ao encapá-los os estava protegendo.
- Assim, eles duram mais para outras pessoas lerem.
Ao que ele perguntou.
- Mãe, o que o que vai acontecer com os livros quando eu morrer?
- Eles vão ficar com os seus filhos - disse, seguindo sua própria lógica.
- E e quando os meus filhos morrerem?
- Vão passar para os seus netos - continuei, explicando que até hoje tenho livros que foram do meu avô, da minha avó e até da minha bisavó.
Não satisfeito, insistiu.
- E quando morrer todo mundo da nossa família?
- Aí, eles vão ficar como uma marca de que nós passamos por este mundo.
PS: Depois desta conversa, me lembrei de O livro - um encontro, da sempre maravilhosa Lygia Bojunga: "Para mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros m e deram casa e comida." Vale a pena ler.

6 comentários:

Mi disse...

oi Lu,
adorei este post... eu também me desfaço fácil de muitos objetos, aliás, até exagero as vezes, mas não gosto de ver nada parado sem uso. Nada, menos os livros. Guardo os prediletos da minha infância, e espero que minha filha faça o mesmo. Além disso, nunca, jamais, nem sob tortura, risco ou marco um livro. No máximo meu nome e o ano da posse. Isso já deu briga aqui em casa, onde eu e meu marido temos a mesma profissão, e ele desavisadamente riscou livros técnicos meus. Agora ele já sabe, se quiser riscar os dele tudo bem, mas os meus nem pensar rsrsrs
bjs,
Mi

Luciana Conti disse...

Oi, Mi, legal de ter ver de volta. Fiquei curiosa sobre sua profissão. O que vc faz? bjs

Mi disse...

pois é, andei meio sumida, mas já estou de volta...
Somos economistas e funcionários públicos rsrsrs

bjs

Ana Maria Santeiro disse...

Olá, Luciana, dei um google e descobri esse seu interessantíssimo blog. Suas resenhas sobre os livros misturadas com a experiência com os filhos realmente fazem a percepção dos livros mais interessantes. um grande barato.

Bom, estou querendo entrar em contato com você e o Alexandre sobre o Almanque do Futebol, que adorei. Obrigada pela confiança. Meus telefones são: 2222-6425 e 8880-6425

um forte abraço,
Ana Maria Santeiro
amsr@openlink.com.br

Camila Garcia disse...

Olá,
o seu post me lembrou um fato que vivi há alguns anos. Andando por sebos, como sempre faço, encontrei um livro com uma dedicatoria de uma irmã a um irmão tão linda que não pude resistir e comprei o livro.
Hoje, levanto inúmeras posibilidades para a história de vida desses dois seres que desconheço em forma física, porém convivo com a certeza que ambos passaram pelo mundo.

é a primeira vez que comento, mas sempre passo pelo seu blog.Gosto!

Um beijo
Camila

www.expressaexpressao.blogspot.com

Luciana Conti disse...

Oi, Camila, legal a sua hist'oria. Fiquei at'e curiosa sobre a dedicat'oria. Vou te visitar e espero seu retorno.
abs