Sempre adorei uma fazenda. Fazendas me fazem lembrar da minha Santa Fé, em Tebas, que começava na Rua Jacy Tavares, uma homenagem ao meu avô, e terminava onde minha curiosidade nunca teve coragem de chegar. Tebas guarda grande parte das minhas lembranças de criança. Uma infância em que eu brincava de casinha, professora, corria e andava de bicicleta com a maior alegria. Lá em Tebas tive os cachorros que sempre desejei no Rio. Primeiro, o Perigo. Um cão vira-latas que caiu de um caminhão e ficou perdido na pequena cidade até encontrar abrigo na Chácara, como todos conheciam nossa casa. "Esse cachorro é um perigo", alertaram os tebanos sem sucesso. Anos depois, desejado e esperado, veio o Travolta. O cãozinho nos foi dado como dálmata e, na verdade, era um mestiço de sei lá o que. O resultado era uma graça e lembrava um setter inglês, com longos pelos brancos manchados com pintas negras, que, passado a decepção com o engodo, nos encantou de imediato. A briga dos três irmãos para passar a primeira noite com o Travolta fez minha mãe ser dura e decretar que ele dormiria no jardim. Esperei todos dormirem e fui lá resgatar o cãozinho, que se aninhou rapidinho no tapete ao pé da minha cama. Meu castigo não tardou a chegar. O Travolta, com seu intestino recém-nascido, batizou meu quarto, que amanheceu imundo. Estas lembranças me constrangem todas as vezes que nego aos meus filhos um cachorro. Toda criança deveria ter direito a um cachorro. Não há nada mais espontâneo que o amor das crianças pelos cães. Esse amor é o que move a história
Ladrão de ovos, de Lúcia Hiratsuka, editado pela SM na coleção Comboio de Corda. Tudo começa quando dois cachorrinhos chegam ao sítio em que moram Laura e Carlinhos. A história alimenta-se das vivências caipiras de Lúcia, que cresceu no interior de São Paulo, e segue o ritmo delicado dos desenhos da autora, que mistura técnicas de aquarela e sumiê em suas ilustrações. O resultado é uma delícia. É quase como ouvir um 'causo' da roça, em que o ladrão rouba não apenas ovos, mas, sobretudo, corações. O dos meus meninos, pela atenção com que acompanharam a história, ele com certeza roubou.
2 comentários:
Luciana, gostei de saber um pouco das histórias dos seus afetos de infância.
Beijos
Lúcia
oi Lu,
que delícia são essas lembranças da infância. Sempre tivemos cachorro em casa, mas essa é uma realidade que não posso proporcionar a minha filha, não em nosso apertamento.
Adorei o trabalho de Lúcia, desses que nos fazem sonhar...
bjs
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