
- Antônio, vai escolher um livro pro cachorro - disse, enquanto fuçávamos as estantes da Livraria Lello.
Surpreso com a sugestão, buscou a palavra segura do pai.
- Cachorro sabe ler?
- Sim - o Cadoca confirmou, vendo nessa resposta a possibilidade de se livrar da insistência do filho.
- Mas ele já nasce sabendo? - quis detalhes, enquanto folheava um livro na esperança de achar um que agradasse ao cão que não tinha.
Eu, que escolhia um livro, não consegui deixar de prestar a atenção ao diálogo mais do que improvável do meu menino com o pai e, depois de ver o empenho dele, quedei-me culpada por o estar enganando e confessei.
- Antônio, deixa de ser bobo. Você há viu um cachorro que saiba ler?
O muxoxo que se seguiu não conseguiu apagar de sua carinha o ar feliz de um dono de cão leitor.
- Pô, eu tava acreditando - disse, escondendo um sorriso envergonhado.
E, sem se abater, continuou, em uma forte aliança com o Pedro, que sonha com um cachorro há mais de uma década, a acreditar que nos dobraria. Os dois falaram de tudo, prometeram tudo, imploraram tudo e, vencidos, foram deitar abandonando suas esperanças. Foi, então, que o Cadoca, com o coração de pai amolecido pelas súplicas, olhos vermelhos e olhares derramados para qualquer cão que aparecesse na rua, decidiu ceder. E, na cabeceira da cama deles, prometeu.
- Meninos, nós vamos ter um cachorro. Quando chegarmos no Rio, escolhemos a raça, tá bem?
O Antônio explodiu em lágrimas, as mesmas que corriam tristes e disfarçadamente minutos antes, e o Pedro vibrou como em fim de campeonato. A surpresa logo cedeu à euforia e os dois se abraçaram, rolaram na cama, comemoram e, por fim, dormiram sonhando com o cão que eles sempre quiseram ter. Aquele cão que povoou a infância deles por meio de livros, como o do Otto, bonecos de pano e simples e poderosas fantasias. Ele ainda não chegou, mas como o Pedro bem disse, é como se ele nunca estivesse estado longe de nós.
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