
Foi uma decepção a leitura de
Ponto de Vista, de Ana Maria Machado, para o Pedro. Li página por página com a maior calma para que ele não se perdesse no ritmo da narrativa em versos todos rimados, mas não deu certo. Ao fim de tudo perguntei o que ele tinha gostado e sua resposta foi curta: do Ziraldo. Insisti e ele repetiu a resposta. Justa escolha. Realmente o Ziraldo é o máximo e seu traço geométrico valoriza o morro e os prédios da cidade partida descrita por Ana Maria. Mas desconfiei que a resposta era de alguém que, na verdade, não tinha entendido a narrativa e mudei a pergunta. O que você entendeu do livro? A resposta veio curta e direta: "Nada." Não me espantei. Afinal, a narrativa em versos rimados, que nem sempre seguem a ordem natural das orações para fechar as rimas, confunde um leitor iniciante como o Pedro. Parei e expliquei para ele a história dos meninos que nasceram um na favela e outro no asfalto, se encontraram na praia e se tornaram amigos de toda a vida. Bonita mensagem de alguém que sofre com a cidade partida. Mas, confesso, achei um pouco ingênua. Mas me perguntei se esta ingenuidade não seria necessária para apresentar este problema a um menino, como o meu, de apenas 7 anos? Talvez. Por isso, guardei para mais tarde o conto
O bife e a pipoca, do livro Tchau, de Lygia Bojunga, editado pela Casa de Lygia Bojunga, que traz a realidade nua e crua do encontro de Rodrigo, menino de classe média, e Tuca, menino de favela que estuda de bolsa na escola de bacanas. O conto é preciso no sofrimento de Tuca e de Rodrigo, que ao se aproximar um do outro entendem as diferenças entre seus dois mundos. Doído, mas real. Leitura para quando o Pedro puder suportar o tranco. Por enquanto, vamos ficando com o sonho de vencer as desigualdades com nosso esforço de não descriminar os diferentes.